São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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SAÚDE NA UTI

15 recém-nascidos morreram nos últimos 20 dias em unidade municipal; média é de até oito por mês, diz prefeitura

Superlotação causa morte de bebês no Rio

CATHARINA EPPRECHT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

Quinze recém-nascidos morreram neste mês em uma maternidade de gravidez de risco em São Cristóvão, bairro do Rio. O número já supera a média mensal para esse tipo de instituição.
A superlotação do Instituto Municipal da Mulher Fernando Magalhães causou as mortes, pela dificuldade de atendimento e pela proliferação das contaminações por bactérias, na avaliação inicial da Secretaria Municipal de Saúde e das comissões de Saúde da Assembléia Legislativa e da Câmara.
Por ser especializado em gravidez de alto risco, o instituto tem mais mortes que maternidades comuns. Segundo o subsecretário municipal de Saúde, Mauro Marzochi, a média de óbitos em uma unidade do mesmo tipo e dimensão é de seis a oito por mês. Além das 15 mortas em maio, houve dez mortes em abril e 12 em março.
Algumas mães tentaram tirar os filhos do local, mas ouviram de médicos que o risco era alto, pois foram gestações complicadas.
Sete mortes foram causadas por infecções, mais que o dobro das contaminações ocorridas no mês anterior. Outra aconteceu por falta de equipamento para uma cirurgia -o bebê havia nascido com hidrocefalia (acúmulo excessivo de liquor na cabeça).
"Como aqui é apenas maternidade, ele precisava ser levado para o hospital Jesus, o que não aconteceu porque o hospital não tinha um equipamento necessário para a operação", diz o vereador Carlos Eduardo (PP), vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara.
A UTI foi esvaziada para higienização. As crianças que lá estavam foram levadas para a unidade intermediária. Os bebês dessa sala, por sua vez, foram transferidos para um terceiro espaço.
O instituto, diz o deputado Paulo Pinheiro (PT), presidente da Comissão de Saúde da Assembléia, tem capacidade para internar 20 crianças por dia na UTI, mas tem recebido diariamente uma média de 25 bebês.
Maria Ribeiro Sampaio, mãe da mais recente vítima na maternidade, morta ontem, tinha tido gêmeos: William e Wallace. O segundo seguia internado na maternidade, de onde Maria tentou tirá-lo, mas não conseguiu.
"Eles dizem que, para meu filho sair, devo assinar um termo de responsabilidade", diz uma mãe que pediu para não ser identificada e está com o filho há mais de um mês internado. Maria também não quis assinar o termo.
Apenas uma outra mãe, Adriana Fernandes Duarte, conseguiu autorização dos médicos para levar a criança para casa.


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