|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SP deve atingir hoje a marca de 6 milhões de veículos
Cerca de 75% são automóveis; cidade passa a ter cerca de 2,4 habitantes por carro
Para especialistas, capital precisa investir mais em transporte público e discutir adoção de medidas para restringir uso de carros
RICARDO SANGIOVANNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A cidade de São Paulo deve
atingir hoje a marca histórica
de 6 milhões de veículos, desde
que mantida em fevereiro a
média de 800 novos registros
diários no Detran (departamento estadual de trânsito).
Destes, 75% -cerca de 4,5 milhões- são automóveis.
Ou seja, são aproximadamente 2,4 habitantes por carro,
número semelhante, por exemplo, ao de Paris (2,3). Mas a diferença é que, na capital francesa, é mais fácil abrir mão do carro e usar o metrô -são 199 km
distribuídos por 15 linhas, enquanto São Paulo tem 61 km,
em quatro linhas.
O aumento da frota se reflete
no crescimento dos congestionamentos. Nos últimos três
anos, a média diária de picos de
lentidão saltou de 77 km para
90 km, durante a manhã, e de
114 para 128 km à tarde. Ontem,
por exemplo, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)
registrou 130 km de lentidão às
9h, o terceiro maior do ano.
O que fazer
Com mais carros nas ruas
-reflexo também do crescimento econômico- e como é
muito caro construir metrô, a
discussão é sobre o que deve ser
feito para a cidade não parar.
"Em uma cidade como São
Paulo, o congestionamento é
inevitável", afirma o belga Jérôme Poubaix, coordenador de
projetos da UITP (União Internacional de Transportes Públicos). Mas ele diz que, se o nível
de congestionamento for muito alto, isso passa a ser negativo
para a própria economia.
Para ele, as soluções passam
por descentralizar as atividades -para os que moram em
bairros mais distantes não tenha que se deslocar até o centro
da cidade-, além de expandir o
transporte público. "Se você
tem casa, trabalho e lazer próximos, reduz a necessidade de
viajar longas distâncias e favorece o transporte público."
Já o consultor de trânsito e
professor da USP Jaime Waisman diz que é preciso investir
na fiscalização de veículos em
situação irregular e levar adiante a inspeção veicular. Com isso, diz ele, pode-se retirar da
rua "um terço da frota que está
irregular e não paga impostos".
Na semana passada, membros da UITP da América Latina e da Europa participaram do
evento "Combatendo o congestionamento: pedágio urbano e
outras medidas".
Engenheiros da CET, do Metrô e integrantes da Prefeitura
de São Paulo também participaram da discussão. Mas, no
fim de semana, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) voltou a
dizer que não irá implantar o
pedágio urbano na cidade.
"Tem uma série de ações que
precedem qualquer avaliação
em relação ao pedágio urbano.
Está totalmente descartado",
disse Kassab. Entre as "ações",
ele cita o investimento previsto
pela prefeitura de R$ 1 bilhão
no metrô neste ano.
Pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em alternativas para o
trânsito, Alexandre Gomide diz
que investimentos em metrô,
além de medidas como a criação de corredores de ônibus, bilhete integrado ônibus-metrô e
rodízio, são "muito avançadas".
Mas, para ele, a idéia de primeiro melhorar o transporte
público para só então pensar
em criar medidas para restringir os carros, como o pedágio, é
algo "que muitos políticos
usam para não fazer nada".
"O pedágio urbano seria
bom. O rodízio já implica a
idéia de racionalizar o uso do
carro. Não seria uma mudança
radical", diz Jonas Hagen, que
preside no Brasil a ONG americana ITDP (sigla em inglês para
Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento). A
ONG apresentou à prefeitura,
na gestão Marta Suplicy (PT),
um modelo de pedágio urbano
para São Paulo, que não foi
adiante. "A arrecadação seria
de cerca de R$ 10 bilhões por
ano, que poderiam ser investidos em metrô", diz Hagen.
Texto Anterior: Justiça: Presas agredidas por policiais em rebelião são indenizadas Próximo Texto: SP: IPVA tem recorde de arrecadação em cinco anos Índice
|