São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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PATRIMÔNIO INVADIDO
Imóvel, que corre o risco de desabar, completa três anos ocupado e sem obras
Casarão de aviador abriga 150 famílias

da Reportagem Local

Mais de dois anos e nove meses depois de uma invasão de sem-teto, o Estado ainda não conseguiu encontrar uma solução para a área onde fica o casarão que pertenceu ao aviador Santos Dumont.
O casarão, na esquina das alamedas Nothman e Cleveland, em Campos Elíseos (centro de São Paulo), pertence à Secretaria da Cultura, que tem planos para a construção de um museu no local. A casa está invadida por sem-teto do movimento Fórum dos Cortiços desde março de 97.
Até hoje, 150 famílias (cerca de 500 pessoas) continuam morando no local. O grupo ocupa três imóveis que existem no terreno, mas só uma das casas é de interesse da Secretaria da Cultura.
Antes de ser "descoberto" como parte da história, o casarão foi um dos milhares de cortiços de São Paulo. Não são poucos os invasores de hoje que viveram ali antes, pagando aluguel de até R$ 400 por um quarto.
Segundo Verônica Kroll, do Fórum dos Cortiços, a situação é pior justamente na casa que foi de Santos Dumont.
"O casarão está com risco de desabamento. Estamos rezando para que não chova. Aquilo é uma área de risco e pode acontecer uma tragédia", diz.
No início da ocupação, em 97, o assoalho do segundo andar da casa já apresentava buracos. Mesmo assim, segundo Verônica, todos os quartos continuam ocupados. "Se as pessoas tivessem para onde ir estariam lá?", pergunta.
Em 98, foi anunciado um acordo entre a CDHU e a Secretaria da Cultura para que fosse demolido o imóvel não-histórico (uma casa de dois andares no fundo do terreno) para a construção de um prédio de 10 andares para o PAC (Programa de Atuação em Cortiços).
O projeto, segundo Verônica, foi vetado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), que só dá aval ao projeto se o prédio não ultrapassar 18 metros de altura.
No momento, a CDHU realiza um estudo de viabilidade no local para saber se é possível realizar a obra. "A situação é pior do que antes", diz Verônica.
Enquanto o Estado não consegue encontrar uma solução para o casarão histórico, entidades dão ajuda aos sem-teto.
O Instituto Dom Bosco realiza atividades pedagógicas com as crianças. O colégio Liceu oferece cursos supletivos e de alfabetização para os adolescentes e para os adultos.
Este ano, pela segunda vez consecutiva, foi realizada uma festa de Dia das Crianças para os moradores, com o apoio da associação de funcionários da Porto Seguro, seguradora que tem sede no bairro.
Recentemente, a humorista Gorete Milagres, que faz o papel da doméstica Filô, do bordão "Ó coitado", apresentou uma peça para os moradores.


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