São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

HABITAÇÃO
Invasões quase quadruplicam em 2 anos e preocupam Conselho de Segurança; movimentos estão divididos
Sem-teto expandem ações no centro

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Em meio à lentidão dos governos estadual e municipal para implantar um programa de moradia para os 600 mil habitantes de cortiços do centro da cidade, os grupos de sem-teto, organizados ou não, crescem, se dividem e quase quadruplicam o número de invasões no centro expandido da maior metrópole do país.
A ação dos sem-teto começa a preocupar os moradores da região central. O Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do centro quer que as invasões cessem e propõe um pacto para o movimento (leia texto abaixo).
Ontem, o Fórum dos Cortiços decidiu que novas ocupações só vão acontecer a partir de 15 de janeiro. O grupo, filiado à União dos Movimentos de Moradia, decidiu interromper as invasões na tarde de ontem, em assembléia que reuniu 800 pessoas.
Nos últimos dez dias, quatro invasões, organizadas por diferentes grupos de sem-teto, foram frustradas em menos de 24 horas em ações rápidas da polícia.
Levantamento feito pela Folha junto aos movimentos organizados de sem-teto mostra que hoje há pelo menos 15 prédios e terrenos invadidos no centro de São Paulo e, segundo os grupos ouvidos, 9.000 pessoas estão nos prédios ou aguardam espaço em futuras invasões.
O número de invasões é três vezes e meio maior que em dezembro de 97, quando havia quatro invasões conhecidas. O número de militantes é pelo menos 50% maior. Em 97, os sem-teto organizados eram 6.000.

Movimento dividido
Esses são os números de invasões conhecidas. Mas estimativa da prefeitura, baseada em dados do professor Attílio Piraíno Filho, ex-coordenador de desenvolvimento da Secretaria Municipal de Habitação, aponta que 23 mil pessoas moram em prédios invadidos no centro expandido. Esse número, segundo ele, inclui invasões antigas e casos em que os cortiços saem do controle dos donos dos imóveis.
Em 97, as invasões no centro eram realizadas por dois grupos -a Unificação das Lutas de Cortiços (ULC) e o Fórum dos Cortiços, dissidência da ULC.
Hoje, estão atuando três novos grupos dissidentes -o Novo Centro e o Movimento de Moradia do Centro, saídos da ULC, e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto da Região Central, oriundo do Fórum. Atua na cidade ainda um grupo de ambulantes sem-teto da região do Brás.
Os dois últimos grupos não são filiados à União dos Movimentos de Moradia (UMM), que agrega os maiores grupos de sem-teto da cidade e tem parcerias em projetos de mutirão na periferia com governo do Estado e prefeitura.
Na opinião de Donizete Fernandes de Oliveira, um dos coordenadores da UMM, o movimento sem-teto vive o seu maior momento desde 87, quando as invasões mudaram a face da periferia de São Paulo.
No início da gestão Mário Covas, foi lançado o Plano de Atuação de Cortiços (PAC), que prevê a desapropriação de imóveis abandonados no centro para a construção de apartamentos para famílias de baixa renda.
O movimento ganhou fôlego no centro e surgem as primeiras grandes invasões, como o do casarão que foi de Santos Dumont, em Campos Elíseos, em março de 1997.
"Apesar de nenhum apartamento do PAC estar pronto, o Estado está dando expectativas de que vai construir", disse Oliveira.
"E a partir do momento em que é dada a expectativa e as obras não começam, as invasões acontecem. E no centro ainda há espaço para a ação de novos grupos porque na periferia não há mais espaço para ação", diz Oliveira.



Próximo Texto: Estado quer pressão sobre a prefeitura
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.