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HABITAÇÃO
Invasões quase quadruplicam em 2 anos e preocupam Conselho de Segurança; movimentos estão divididos
Sem-teto expandem ações no centro
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local
Em meio à lentidão dos governos estadual e municipal para implantar um programa de moradia
para os 600 mil habitantes de cortiços do centro da cidade, os grupos de sem-teto, organizados ou
não, crescem, se dividem e quase
quadruplicam o número de invasões no centro expandido da
maior metrópole do país.
A ação dos sem-teto começa a
preocupar os moradores da região central. O Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do
centro quer que as invasões cessem e propõe um pacto para o
movimento (leia texto abaixo).
Ontem, o Fórum dos Cortiços
decidiu que novas ocupações só
vão acontecer a partir de 15 de janeiro. O grupo, filiado à União
dos Movimentos de Moradia, decidiu interromper as invasões na
tarde de ontem, em assembléia
que reuniu 800 pessoas.
Nos últimos dez dias, quatro invasões, organizadas por diferentes grupos de sem-teto, foram
frustradas em menos de 24 horas
em ações rápidas da polícia.
Levantamento feito pela Folha
junto aos movimentos organizados de sem-teto mostra que hoje
há pelo menos 15 prédios e terrenos invadidos no centro de São
Paulo e, segundo os grupos ouvidos, 9.000 pessoas estão nos prédios ou aguardam espaço em futuras invasões.
O número de invasões é três vezes e meio maior que em dezembro de 97, quando havia quatro
invasões conhecidas. O número
de militantes é pelo menos 50%
maior. Em 97, os sem-teto organizados eram 6.000.
Movimento dividido
Esses são os números de invasões conhecidas. Mas estimativa
da prefeitura, baseada em dados
do professor Attílio Piraíno Filho,
ex-coordenador de desenvolvimento da Secretaria Municipal de
Habitação, aponta que 23 mil pessoas moram em prédios invadidos no centro expandido. Esse
número, segundo ele, inclui invasões antigas e casos em que os
cortiços saem do controle dos donos dos imóveis.
Em 97, as invasões no centro
eram realizadas por dois grupos
-a Unificação das Lutas de Cortiços (ULC) e o Fórum dos Cortiços, dissidência da ULC.
Hoje, estão atuando três novos
grupos dissidentes -o Novo
Centro e o Movimento de Moradia do Centro, saídos da ULC, e o
Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto da Região Central,
oriundo do Fórum. Atua na cidade ainda um grupo de ambulantes sem-teto da região do Brás.
Os dois últimos grupos não são
filiados à União dos Movimentos
de Moradia (UMM), que agrega
os maiores grupos de sem-teto da
cidade e tem parcerias em projetos de mutirão na periferia com
governo do Estado e prefeitura.
Na opinião de Donizete Fernandes de Oliveira, um dos coordenadores da UMM, o movimento sem-teto vive o seu maior momento desde 87, quando as invasões mudaram a face da periferia
de São Paulo.
No início da gestão Mário Covas, foi lançado o Plano de Atuação de Cortiços (PAC), que prevê
a desapropriação de imóveis
abandonados no centro para a
construção de apartamentos para
famílias de baixa renda.
O movimento ganhou fôlego no
centro e surgem as primeiras
grandes invasões, como o do casarão que foi de Santos Dumont,
em Campos Elíseos, em março de
1997.
"Apesar de nenhum apartamento do PAC estar pronto, o Estado está dando expectativas de
que vai construir", disse Oliveira.
"E a partir do momento em que
é dada a expectativa e as obras
não começam, as invasões acontecem. E no centro ainda há espaço para a ação de novos grupos
porque na periferia não há mais
espaço para ação", diz Oliveira.
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