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CRISE DE ENERGIA
Estudo inglês mostra relação entre iluminação e violência; para pesquisador, periferia seria a maior vítima
Corte de luz estimula a criminalidade
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um corte de 50% na iluminação
pública da cidade costeira de
Brighton, na Inglaterra, como
parte das medidas de emergência
diante da crise do petróleo nos
anos 70, provocou substancial aumento do crime.
Em janeiro e fevereiro de 1974, o
número de arrombamentos à
noite naquela cidade de lazer dobrou. Os furtos de veículos aumentaram 59%, e multiplicaram-se os casos de vandalismo.
Essa pesquisa é citada pelo coronel reformado da Polícia Militar paulista José Vicente da Silva,
pesquisador do Instituto Fernand
Braudel, a título de mostrar que a
escuridão é uma ameaça tanto para as melhores famílias britânicas
como para as brasileiras.
"Se houver apagão nas vias públicas, a violência recrudescerá",
alerta o especialista. "E se houver
apagão na periferia, é ela que vai
sofrer mais", afirma.
O caso de Brighton, mencionado em estudo de Kate Painter,
pesquisadora do Instituto de Criminologia da Universidade de
Cambridge, é um dos raros levantamentos sobre os efeitos de apagões encontrados na literatura sobre iluminação e criminalidade.
Em geral, as pesquisas procuram avaliar se a melhor iluminação das ruas é boa arma para inibir o crime. E não são conclusivas.
Em julho de 1977, o Departamento de Justiça norte-americano concluiu que não há evidências estatísticas de que a melhor
iluminação das ruas influi no nível dos crimes. Um relatório de
500 páginas apresentado ao Congresso dos Estados Unidos em
1997 chega à mesma conclusão. E
admite que esses levantamentos
não determinam em que medida
os criminosos também usam a
iluminação para levar vantagem.
Ao analisar 15 pesquisas realizadas na Inglaterra, Painter identificou oito casos em que houve declínio da criminalidade. Em dois,
contudo, observou-se um ligeiro
aumento dos crimes.
Há situações em que as ocorrências são reduzidas, mas depois
retornam aos níveis anteriores.
No início dos anos 90, a Prefeitura de Diadema, em São Paulo,
realizou um programa de melhoria da iluminação das ruas, levando esse serviço até as favelas.
Os resultados foram imediatos:
em 1991, houve redução de 22,7%
nos casos de roubo, em relação ao
ano anterior. Os homicídios também caíram. Mas, sem a conjugação de outras medidas preventivas, a criminalidade voltou a disparar nos anos seguintes.
"É quase impossível planejar e
implementar medidas efetivas
contra o crime se as causas básicas não forem conhecidas", afirma Duco Schreuder, um especialista holandês em iluminação pública e criminalidade.
O princípio parece valer para o
crime cometido às claras e para os
facilitados pela baixa luminosidade. Schreuder cita que a prática do
vandalismo incide diretamente
sobre os equipamentos de iluminação pública, que são destruídos
sem motivo aparente.
"Quando há escuridão, é maior
a possibilidade de que venha a
ocorrer o vandalismo", concorda
o coronel José Vicente, do Instituto Fernand Braudel.
"Nos casos de saque, o estímulo
à desordem é contagioso, principalmente porque a escuridão dificulta o reconhecimento", diz.
Na hipótese de apagão, ele considera ambientes propícios ao crime os locais próximos a shoppings centers. José Vicente defende o planejamento conjunto das
polícias estaduais, Militar e Civil,
municipais e os serviços de vigilância privada.
As pesquisas sobre iluminação e
criminalidade nos Estados Unidos mostram situações em que a
melhor iluminação das ruas desloca os criminosos para regiões
próximas menos iluminadas.
Em São Paulo, de acordo com o
pesquisador do Fernand Braudel,
os roubos costumam ser um fenômeno localizado: "O bandido
da zona norte não se desloca para
outra região, pois não sabe o esquema da vítima preferencial
nem conhece as vias de fuga".
"O crime é distribuído desigualmente", diz. Ele propõe unificar o
comando da ação (como a centralização dos sistemas de chamadas
telefônicas de urgência, tipo 190) e
descentralizar o diagnóstico, nos
casos de apagão.
"A unidade básica é o distrito
policial. Ninguém é capaz de fazer
um melhor perfil do crime e monitorar a ação policial conjunta do
que o delegado e o comando da
companhia de policiamento de
cada distrito", diz o especialista.
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