São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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SAÚDE

Apagão traz risco de queimaduras

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A ameaça de apagões que ronda o setor elétrico no país -ainda não totalmente afastada, mesmo com o racionamento- também preocupa médicos e o Ministério da Saúde. O risco de queimaduras poderá crescer com o uso de velas, que deverão ser o primeiro recurso se as luzes apagarem.
Especialistas sugerem cuidados ainda maiores se houver crianças por perto. De acordo com o ministério, em 2000, 47% dos 26.428 casos de queimadura registrados na rede do SUS (Sistema Único de Saúde) ocorreram na faixa etária de até nove anos.
O Corpo de Bombeiros registrou no mesmo ano as "brincadeiras de crianças" com fósforos, velas e álcool como a quinta principal causa de incêndios em São Paulo, com 1.094 casos.
O diretor do Departamento de Sistemas e Redes Assistenciais do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, disse que o órgão quer que mensagens de prevenção sejam divulgadas com as regras dos apagões, se eles ocorrerem.
O ministério não tem dados das principais causas de queimadura. Segundo estimativas dos principais serviços que atendem queimados em São Paulo, a queimadura por líquidos quentes -o escaldo- ainda é a mais frequente entre as crianças.
A coordenadora do serviço de queimados da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, Gilka Lima Nery, disse que, apesar do risco das brincadeiras com fogos e rojões nas festas juninas, elas não são as principais causas de queimadura no período.
De acordo com Gilka, os acidentes ocorrem principalmente entre crianças deixadas sozinhas em casa, que muitas vezes têm de preparar suas refeições.
"As queimaduras já ocorrem com frequência nas camadas menos favorecidas e isso pode se agravar se houver apagão", disse o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, Marcelo Borges, que organiza o 3� Congresso Brasileiro de Queimaduras. O evento vai acontecer no fim do mês em Porto Alegre.
Estimativa da entidade aponta a ocorrência de até 250 mil novos casos de queimadura todos os anos no país, número que está dentro da média internacional, segundo Borges. Ainda de acordo com estimativas da entidade, 80% dos casos ocorrem na cozinha.
Na queimadura, as altas temperaturas dilatam os vasos e fazem com que os líquidos contidos neles saiam, formando bolhas. Essas bolhas podem resultar em feridas, vulneráveis a infecções. As mortes ocorrem em 5% a 7% dos casos. A gravidade das queimaduras é definida pela extensão do dano.
Durante o congresso, será lançado um tipo de pele artificial, a Integra, utilizado em enxertos no tratamento de queimados. Segundo o responsável pelo serviço de Queimaduras do Hospital das Clínicas de São Paulo, Carlos Fontana, o produto, feito de colágeno bovino modificado e substâncias da derme, é o primeiro tipo de pele artificial que chega ao país.
A pele artificial poderá substituir o uso de pele de cadáveres em enxertos temporários com melhores resultados, disse Fontana.
O custo do produto é alto e ainda não custeado pelo SUS. De acordo com Fontana, 1 cm2 da Integra custa cerca de US$ 5. O acompanhamento da evolução do enxerto também demanda até três horas de dedicação do médico por dia.
Os três primeiros enxertos com a Integra no Brasil foram feitos em abril, e os pacientes estão bem, de acordo com o médico.


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