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SAÚDE
Apagão traz risco de queimaduras
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A ameaça de apagões que ronda
o setor elétrico no país -ainda
não totalmente afastada, mesmo
com o racionamento- também
preocupa médicos e o Ministério
da Saúde. O risco de queimaduras
poderá crescer com o uso de velas,
que deverão ser o primeiro recurso se as luzes apagarem.
Especialistas sugerem cuidados
ainda maiores se houver crianças
por perto. De acordo com o ministério, em 2000, 47% dos 26.428
casos de queimadura registrados
na rede do SUS (Sistema Único de
Saúde) ocorreram na faixa etária
de até nove anos.
O Corpo de Bombeiros registrou no mesmo ano as "brincadeiras de crianças" com fósforos,
velas e álcool como a quinta principal causa de incêndios em São
Paulo, com 1.094 casos.
O diretor do Departamento de
Sistemas e Redes Assistenciais do
Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, disse que o órgão quer que
mensagens de prevenção sejam
divulgadas com as regras dos apagões, se eles ocorrerem.
O ministério não tem dados das
principais causas de queimadura.
Segundo estimativas dos principais serviços que atendem queimados em São Paulo, a queimadura por líquidos quentes -o escaldo- ainda é a mais frequente
entre as crianças.
A coordenadora do serviço de
queimados da Secretaria Estadual
da Saúde de São Paulo, Gilka Lima Nery, disse que, apesar do risco das brincadeiras com fogos e
rojões nas festas juninas, elas não
são as principais causas de queimadura no período.
De acordo com Gilka, os acidentes ocorrem principalmente
entre crianças deixadas sozinhas
em casa, que muitas vezes têm de
preparar suas refeições.
"As queimaduras já ocorrem
com frequência nas camadas menos favorecidas e isso pode se
agravar se houver apagão", disse
o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, Marcelo
Borges, que organiza o 3� Congresso Brasileiro de Queimaduras. O evento vai acontecer no fim
do mês em Porto Alegre.
Estimativa da entidade aponta a
ocorrência de até 250 mil novos
casos de queimadura todos os
anos no país, número que está
dentro da média internacional,
segundo Borges. Ainda de acordo
com estimativas da entidade, 80%
dos casos ocorrem na cozinha.
Na queimadura, as altas temperaturas dilatam os vasos e fazem
com que os líquidos contidos neles saiam, formando bolhas. Essas
bolhas podem resultar em feridas,
vulneráveis a infecções. As mortes
ocorrem em 5% a 7% dos casos. A
gravidade das queimaduras é definida pela extensão do dano.
Durante o congresso, será lançado um tipo de pele artificial, a
Integra, utilizado em enxertos no
tratamento de queimados. Segundo o responsável pelo serviço de
Queimaduras do Hospital das Clínicas de São Paulo, Carlos Fontana, o produto, feito de colágeno
bovino modificado e substâncias
da derme, é o primeiro tipo de pele artificial que chega ao país.
A pele artificial poderá substituir o uso de pele de cadáveres em
enxertos temporários com melhores resultados, disse Fontana.
O custo do produto é alto e ainda não custeado pelo SUS. De
acordo com Fontana, 1 cm2 da Integra custa cerca de US$ 5. O
acompanhamento da evolução
do enxerto também demanda até
três horas de dedicação do médico por dia.
Os três primeiros enxertos com
a Integra no Brasil foram feitos
em abril, e os pacientes estão bem,
de acordo com o médico.
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