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Santa Casa cancela cirurgia de paciente já pré-anestesiado
Ex-marinheiro, que iria corrigir o antebraço torto por causa de duas fraturas, havia ficado mais de 30 h em jejum
Desempregado, Juraci Silva Batista espera a cirurgia para conseguir um trabalho; ele deve voltar ao hospital no dia 25 de março
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após um jejum de quase 30
horas e já sob o efeito do pré-anestésico, um paciente foi dispensado do centro cirúrgico da
Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo por falta de vaga.
Juraci Silva Batista, 41, ex-trabalhador rural, ex-ajudante
geral, ex-marinheiro e atualmente desempregado, foi internado no hospital na última
quarta-feira. A cirurgia corrigiria o antebraço esquerdo, totalmente torto em razão de duas
fraturas anteriores no mesmo
local -na última, há dez meses,
houve rompimento de cinco pinos e de uma placa de metal.
Na noite de quarta, após fazer todos os exames pré-operatórios, Batista teve o braço direito raspado para a cirurgia.
Ele conta que na quinta saiu
do quarto, por volta das 6h, rumo ao centro cirúrgico, esperou um tempo no corredor e foi
levado novamente para o quarto porque haveria casos mais
graves do que o seu para serem
atendidos. "Disseram que a
qualquer momento poderiam
me chamar." À noite, foi avisado de que a cirurgia seria no dia
seguinte."Nessa altura, já estava há mais de 24 horas sem comer e sem beber nada. Nem
água nem chá. Mas ainda acreditava que sairia do hospital
operado." Em geral, o paciente
fica em jejum, no mínimo, dez
horas antes da cirurgia.
Na sexta-feira cedo, Batista
foi levado novamente para o
centro cirúrgico. Lá, ele conta
que foi avisado de que precisaria de cinco doadores de sangue. "Liguei para a minha mulher no trabalho e a patroa dela
arrumou os doadores. Antes
das 10h, o sangue já estava lá."
Nesse meio tempo, Batista
diz que recebeu o pré-anestésico, mas pouco depois, por volta
das 10h15, diz ter sido informado de que a cirurgia fora cancelada e remarcada para 25 de
março. "Disseram que tinha
entrado alguém muito pior." O
hospital não confirma o ocorrido, mas diz que não há uma nova data para a cirurgia.
Alta
Poucos minutos depois, Batista recebeu alta e a recomendação de tomar analgésicos para controle da dor até o retorno
ao hospital, no dia 10 de março.
"Com a voz enrolada por causa
do pré-anestésico, telefonou
para minha casa pedindo que a
mulher fosse buscá-lo no hospital. Fiquei chocada. Quando
vão parar de tratar brasileiros
menos favorecidos como se
fossem vermes?", questiona
Rosemay Maluf Zarife, patroa
da mulher de Batista.
No relatório de alta, a dispensa tem um número: 2. E um
motivo: "melhorado". A Santa
Casa diz que o termo se refere à
melhora da dor do paciente.
A mulher de Batista, Marinês, 38, diz como o encontrou.
"Estava fraco, não parava em
pé e não falava coisa com coisa.
Saí de lá humilhada. Tinha
muita fé na cirurgia".
Há dois anos desempregado
em razão da fratura e das dores,
ele cuida de quatro filhas, enquanto a mulher trabalha como arrumadeira. "Não adiaram
só a cirurgia. Adiaram também
o meu sonho de voltar a trabalhar", diz com olhos marejados.
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