São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Santa Casa cancela cirurgia de paciente já pré-anestesiado

Ex-marinheiro, que iria corrigir o antebraço torto por causa de duas fraturas, havia ficado mais de 30 h em jejum

Desempregado, Juraci Silva Batista espera a cirurgia para conseguir um trabalho; ele deve voltar ao hospital no dia 25 de março

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após um jejum de quase 30 horas e já sob o efeito do pré-anestésico, um paciente foi dispensado do centro cirúrgico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo por falta de vaga.
Juraci Silva Batista, 41, ex-trabalhador rural, ex-ajudante geral, ex-marinheiro e atualmente desempregado, foi internado no hospital na última quarta-feira. A cirurgia corrigiria o antebraço esquerdo, totalmente torto em razão de duas fraturas anteriores no mesmo local -na última, há dez meses, houve rompimento de cinco pinos e de uma placa de metal.
Na noite de quarta, após fazer todos os exames pré-operatórios, Batista teve o braço direito raspado para a cirurgia.
Ele conta que na quinta saiu do quarto, por volta das 6h, rumo ao centro cirúrgico, esperou um tempo no corredor e foi levado novamente para o quarto porque haveria casos mais graves do que o seu para serem atendidos. "Disseram que a qualquer momento poderiam me chamar." À noite, foi avisado de que a cirurgia seria no dia seguinte."Nessa altura, já estava há mais de 24 horas sem comer e sem beber nada. Nem água nem chá. Mas ainda acreditava que sairia do hospital operado." Em geral, o paciente fica em jejum, no mínimo, dez horas antes da cirurgia.
Na sexta-feira cedo, Batista foi levado novamente para o centro cirúrgico. Lá, ele conta que foi avisado de que precisaria de cinco doadores de sangue. "Liguei para a minha mulher no trabalho e a patroa dela arrumou os doadores. Antes das 10h, o sangue já estava lá."
Nesse meio tempo, Batista diz que recebeu o pré-anestésico, mas pouco depois, por volta das 10h15, diz ter sido informado de que a cirurgia fora cancelada e remarcada para 25 de março. "Disseram que tinha entrado alguém muito pior." O hospital não confirma o ocorrido, mas diz que não há uma nova data para a cirurgia.

Alta
Poucos minutos depois, Batista recebeu alta e a recomendação de tomar analgésicos para controle da dor até o retorno ao hospital, no dia 10 de março. "Com a voz enrolada por causa do pré-anestésico, telefonou para minha casa pedindo que a mulher fosse buscá-lo no hospital. Fiquei chocada. Quando vão parar de tratar brasileiros menos favorecidos como se fossem vermes?", questiona Rosemay Maluf Zarife, patroa da mulher de Batista.
No relatório de alta, a dispensa tem um número: 2. E um motivo: "melhorado". A Santa Casa diz que o termo se refere à melhora da dor do paciente.
A mulher de Batista, Marinês, 38, diz como o encontrou. "Estava fraco, não parava em pé e não falava coisa com coisa. Saí de lá humilhada. Tinha muita fé na cirurgia".
Há dois anos desempregado em razão da fratura e das dores, ele cuida de quatro filhas, enquanto a mulher trabalha como arrumadeira. "Não adiaram só a cirurgia. Adiaram também o meu sonho de voltar a trabalhar", diz com olhos marejados.


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