|
Próximo Texto | Índice
Igreja fez reforma irregular em templo
Renascer trocou todas as telhas no ano passado, mas não avisou a Prefeitura de São Paulo, como determina a legislação
Presidente da igreja confirmou obra após informação da Defesa Civil; antes dizia que só houvera uma pintura na fachada
Fernando Donasci/Folha Imagem
|
|
Com Bíblia na mão, mulher observa escombros da igreja Renascer em Cristo no Cambuci (centro)
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
A Igreja Renascer em Cristo
fez em 2008 uma reforma irregular no telhado do templo que
desabou na noite de domingo
no Cambuci (centro de SP). Nove mulheres morreram e 124
pessoas ficaram feridas.
Entre agosto e novembro, todas as 1.600 telhas do templo
foram substituídas. O bispo Geraldo Tenuta Filho, presidente
da Renascer, confirmou a informação ontem, após a Defesa
Civil apontar que foram localizados materiais novos nos destroços -telhas e peças de ar-condicionado. Anteontem, Tenuta havia dito que a última reforma do prédio foi há três anos
e que no ano passado houve só
uma pintura da fachada.
A troca do telhado não foi informada à prefeitura, como exige a legislação municipal, segundo o secretário da Habitação, Orlando Almeida Filho.
Não se pode afirmar, porém,
se a reforma é a origem do acidente. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar o caso.
O coordenador da Defesa Civil de São Paulo, Orlando Rodrigues de Camargo Filho, levantou a hipótese de sobrecarga de peso na estrutura de madeira que sustenta o telhado,
com a instalação, por exemplo,
de aparelhos e tubulações de
ar-condicionado e câmeras de
TV. Ele disse ter trabalhado em
outro caso de desabamento do
telhado de uma igreja causado
exatamente por esse motivo.
"Normalmente eles colocam
um forro de gesso, que pesa, colocam ar-condicionado, tubulações e a própria telha."
Daniel dos Anjos, dono da
Etersul, contratada pela Renascer para trocar as telhas, disse
que não houve sobrecarga de
peso no telhado pois as novas
telhas são idênticas às antigas.
Segundo ele, havia goteiras e
telhas remendadas.
O prédio já teve problemas
no telhado em 1999. Segundo a
prefeitura, o alvará de funcionamento como igreja só foi
emitido em 2000 após o IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) atestar a segurança da
estrutura do telhado.
O templo também não tinha
laudo dos Bombeiros, diz o coronel Manuel Antonio da Silva
Araújo. O último foi feito em
2003 e precisaria ser renovado
a cada dois anos. O laudo atesta
a segurança do prédio em relação a rotas de fuga e equipamentos de combate a incêndio.
O Ministério Público Estadual vai analisar os documentos usados pela igreja para obter o alvará, inclusive o laudo
do engenheiro que atestou a segurança da obra. O Crea-SP
(conselho regional de engenharia) também apura a responsabilidade técnica pelo acidente.
Para o promotor Ricardo Andreucci (Criminal), a tragédia
poderia ter sido evitada se a
prefeitura tivesse feito uma rigorosa vistoria no prédio antes
de liberar seu funcionamento
-o alvará, válido por um ano,
foi renovado em julho de 2008.
O secretário de Habitação
disse que não foi feita vistoria e
que a prefeitura confiou no laudo técnico. No fim da tarde, a
secretaria mudou a versão e informou que foi, sim, feita uma
vistoria. A Folha pediu, mas
não teve acesso ao processo.
O presidente do Instituto de
Engenharia, Edemar de Souza
Amorim, disse que trocar uma
telha por outra do mesmo peso
não traz problemas se não houver mudança na estrutura.
"Aposto dez contra um que é
um problema de manutenção,
falta de o proprietário contratar engenheiro para fazer uma
vistoria regular."
(LUIS KAWAGUTI, EVANDRO SPINELLI, CONRADO CORSALETTE, ROGÉRIO PAGNAN E ADRIANA FERRAZ)
Próximo Texto: Parte do teto já havia caído na 4�, dizem fiéis Índice
|