São Paulo, domingo, 19 de março de 2000


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SOLIDARIEDADE
Falta de servidores obriga parentes a limpar e reformar instituições públicas
Pais "adotam" escolas em Ribeirão

VÂNIA CARVALHO
da Folha Ribeirão

Pais limpando salas de aula e mães servindo merenda ou vistoriando corredores. Essas cenas se tornaram comuns nas escolas estaduais de Ribeirão Preto.
O déficit de funcionários nas escolas, que chega a 83%, está levando os pais de alunos a assumir voluntariamente funções nos estabelecimentos de ensino, cobrindo uma lacuna deixada pelo Estado, responsável pela contratação de servidores.
De 12 escolas estaduais consultadas pela Folha, 7 têm pais participando com trabalho ou doação de recursos.
Em uma unidade, a contribuição financeira dos pais conseguiu montar um consultório odontológico. O motivo principal da adesão de pais e mães é a falta de perspectivas de que o Estado resolva as carências das escolas.
A Secretaria de Estado da Educação não comentou o assunto, mas os diretores afirmam que o déficit existe porque não há concurso para repor as vagas abertas.
"Não adianta esperar pelo governo, que ele não aparece. Somos nós que temos de cuidar da escola", diz a dona-de-casa Creusa Aparecida Dezza, que todo dia faz papel de inspetora, secretária, servente e "o que mais precisar" na unidade de ensino Eugênia Vilhena de Morais.
A escola deveria ter 31 funcionários, segundo o módulo estipulado pela própria Secretaria de Estado da Educação, mas conta atualmente com apenas cinco.
A situação do estabelecimento está sendo acompanhada pela Promotoria da Infância e da Juventude de Ribeirão Preto.
"Na reforma do prédio, só não cuidei da parte elétrica porque poderia causar um estrago ainda maior", brinca o autônomo José Gonzaga, que trabalha na construção civil em Ribeirão Preto.
Ele adotou a escola dos filhos, a Domingos João Baptista Spinelli, no bairro de Quintino Facci 2, desde o ano passado.
Além de cuidar pessoalmente dos reparos na escola, ele também se empenha em realizar festas para arrecadar dinheiro, que é revertido para o colégio.
O funileiro Antônio Carlos Bianchini comprou tintas e pagou o pintor para que as salas da escola do filho estivessem limpas na volta às aulas, em fevereiro.
"A idéia da pintura surgiu de uma conversa com meu filho." Ele diz que a experiência o motivou a continuar ajudando.
A mãe Bernardete Estrela diz que começou a ajudar a escola do filho há oito anos. "Meu filho fica a maior parte do tempo aqui. Eu tenho obrigação de ajudar a melhorar o local onde ele vive."
Funcionária municipal aposentada, Bernardete passa seu tempo entre o trabalho voluntário na escola Vicente Teodoro de Souza, o serviço de dona-de-casa e as marmitas que prepara para vender.
A contribuição financeira também tem servido de apoio às escolas. Na Meira Júnior, com 1.600 alunos, um grupo de 600 pais contribui com doações de R$ 1 a R$ 10 por mês. O dinheiro chega em envelopes sem identificação.



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