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SOLIDARIEDADE
Falta de servidores obriga parentes a limpar e reformar instituições públicas
Pais "adotam" escolas em Ribeirão
VÂNIA CARVALHO
da Folha Ribeirão
Pais limpando salas de aula e
mães servindo merenda ou vistoriando corredores. Essas cenas se
tornaram comuns nas escolas estaduais de Ribeirão Preto.
O déficit de funcionários nas escolas, que chega a 83%, está levando os pais de alunos a assumir voluntariamente funções nos estabelecimentos de ensino, cobrindo
uma lacuna deixada pelo Estado,
responsável pela contratação de
servidores.
De 12 escolas estaduais consultadas pela Folha, 7 têm pais participando com trabalho ou doação
de recursos.
Em uma unidade, a contribuição financeira dos pais conseguiu
montar um consultório odontológico. O motivo principal da adesão de pais e mães é a falta de
perspectivas de que o Estado resolva as carências das escolas.
A Secretaria de Estado da Educação não comentou o assunto,
mas os diretores afirmam que o
déficit existe porque não há concurso para repor as vagas abertas.
"Não adianta esperar pelo governo, que ele não aparece. Somos nós que temos de cuidar da
escola", diz a dona-de-casa Creusa Aparecida Dezza, que todo dia
faz papel de inspetora, secretária,
servente e "o que mais precisar"
na unidade de ensino Eugênia Vilhena de Morais.
A escola deveria ter 31 funcionários, segundo o módulo estipulado pela própria Secretaria de Estado da Educação, mas conta
atualmente com apenas cinco.
A situação do estabelecimento
está sendo acompanhada pela
Promotoria da Infância e da Juventude de Ribeirão Preto.
"Na reforma do prédio, só não
cuidei da parte elétrica porque
poderia causar um estrago ainda
maior", brinca o autônomo José
Gonzaga, que trabalha na construção civil em Ribeirão Preto.
Ele adotou a escola dos filhos, a
Domingos João Baptista Spinelli,
no bairro de Quintino Facci 2,
desde o ano passado.
Além de cuidar pessoalmente
dos reparos na escola, ele também
se empenha em realizar festas para arrecadar dinheiro, que é revertido para o colégio.
O funileiro Antônio Carlos
Bianchini comprou tintas e pagou
o pintor para que as salas da escola do filho estivessem limpas na
volta às aulas, em fevereiro.
"A idéia da pintura surgiu de
uma conversa com meu filho."
Ele diz que a experiência o motivou a continuar ajudando.
A mãe Bernardete Estrela diz
que começou a ajudar a escola do
filho há oito anos. "Meu filho fica
a maior parte do tempo aqui. Eu
tenho obrigação de ajudar a melhorar o local onde ele vive."
Funcionária municipal aposentada, Bernardete passa seu tempo
entre o trabalho voluntário na escola Vicente Teodoro de Souza, o
serviço de dona-de-casa e as marmitas que prepara para vender.
A contribuição financeira também tem servido de apoio às escolas. Na Meira Júnior, com 1.600
alunos, um grupo de 600 pais
contribui com doações de R$ 1 a
R$ 10 por mês. O dinheiro chega
em envelopes sem identificação.
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