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Aos 75, morre o cronista Lourenço Diaféria
Jornalista da Folha foi sepultado ontem no cemitério Gethsêmani (Morumbi); ele deixa mulher, 5 filhos e 3 netos
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu na noite de terça-feira e foi sepultado ontem, em
São Paulo, o jornalista, cronista
e escritor Lourenço Diaféria.
Ele estava com 75 anos e era casado com Geiza Diaféria. Deixou cinco filhos e três netos.
Nascido em 1933, no bairro
paulistano do Brás, Diaféria tinha 23 anos quando começou a
trabalhar como redator da Folha, em 1956. Devido ao lirismo
de seu texto, foi convidado a escrever crônicas, a partir de
1964, tendo como primeiro tema as "divagações sobre como
comemorar o dia de são João
num minúsculo apartamento"
paulistano.
Seus textos foram publicados
pelo jornal até setembro de
1977. Sua última e controvertida crônica comparava o heroísmo de um bombeiro que morreu em Brasília ao salvar no
zoológico uma criança e o duque de Caxias, patrono do
Exército brasileiro, que ele ironicamente criticava, como forma de atingir o regime militar.
A crônica virou pretexto para
um dos maiores incidentes na
conturbada história da mídia
durante o pós-1964.
A coluna saiu em branco na
edição de 16 de setembro de
1977, em sinal de protesto pela
prisão do cronista. No dia seguinte, o chefe da Casa Militar
da Presidência, general Hugo
Abreu, ameaçou fechar o jornal
caso o espaço da crônica saísse
novamente em branco. Diaféria ficou cinco dias detido.
O que estava na época em jogo era a tentativa de recuo no
processo de redemocratização,
por meio da candidatura presidencial do general Sílvio Frota.
Produção
Diaféria publicou na Folha
1.869 crônicas ou reportagens
assinadas. Um de seus antológicos textos descrevia a reação
da imprensa em japonês, em
São Paulo, após o seqüestro em
1970, por grupos terroristas, do
cônsul do Japão, Nobuo Ozuchi. Diaféria então notou que
os japoneses escreviam "ao
contrário" (no sentido oposto
ao dos ocidentais), a exemplo
do regime brasileiro.
Diaféria foi a seguir cronista
do "Jornal da Tarde", do "Diário Popular", do "Diário do
Grande ABC" e também trabalhou na TV Globo e nas rádios
Excelsior, Gazeta, Record e
Bandeirantes. Aluno de um colégio interno de padres camilianos, cursou a Faculdade de
Jornalismo Cásper Líbero,
Além de "Coração Corinthiano" (1992), livro com a história
do clube de futebol pelo qual
foi sempre um assumido apaixonado, estão entre suas obras
"Um Gato na Terra do Tamborim" (1976), "Circo dos Cavalões" (1978), "A Morte Sem Colete"(1983), " Empinador de
Estrela"(1984), "A Longa Busca
da Comodidade" (1988), "O Invisível Cavalo Voador - Falas
Contemporâneas" (1990), "Papéis Íntimos de Um Ex-boy Assumido" (1994), "O Imitador
de Gato" (2000) e "Brás - Sotaques e Desmemórias" (2002).
Acometido de câncer e com
sua capacidade de trabalho reduzida, Lourenço Diaféria
morreu de infarto às 22h de anteontem. Seu corpo foi velado
no cemitério Gethsêmani, no
Morumbi, onde foi sepultado
ontem, às 16h.
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