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Cervejaria patrocina festa junina de colégio de SP
Schincariol diz que patrocínio ocorre pelo 2� ano e que, em anos anteriores, já havia chope no evento; especialistas criticam medida
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo Schincariol -empresa de bebida responsável
por três marcas de cerveja- foi
um dos patrocinadores da festa
junina do colégio Santa Cruz
(zona oeste de SP). Ao todo, 134
empresas patrocinaram o
evento do último sábado.
No palco com shows, havia o
logotipo da marca de cerveja
Nova Schin. Ao evento, houve a
doação de água, sucos e refrigerantes. Toda a renda da venda
no local das bebidas e de outros
produtos foi revertida a um
fundo social do colégio.
"Achei um absurdo uma empresa de cerveja patrocinar
uma festa com tantas crianças e
adolescentes", disse um pai que
não quis se identificar. Ele afirma que, durante a festa, sua filha, de 15 anos, conseguiu comprar cerveja -a pedido dele-
sem a menor objeção do responsável pela barraca.
Procurada, a direção do colégio não se manifestou até o fechamento desta edição. Por
orientação da telefonista, a Folha encaminhou um e-mail ao
secretário-geral da escola,
Wagner Pittelkov com as perguntas, mas não teve resposta.
Para a Abead (Associação
Brasileira de Estudos de Álcool
e Drogas), tanto o patrocínio de
uma indústria de cerveja como
a venda da bebida no ambiente
escolar colaboram para o consumo precoce do álcool.
"É escandaloso isso acontecer em um local de formação
dessas crianças. Isso leva à banalização do consumo de álcool", afirma a presidente da
Abead, Analice Gigliotti.
O psiquiatra João Carlos
Dias, diretor da Associação
Brasileira de Psiquiatria, tem a
mesma opinião: "A escola marcou um gol contra. É um retrocesso de tudo aquilo que a gente não quer que aconteça".
Dias afirma que a presença
da indústria de cerveja em uma
festa escolar cria um clima de
banalização do consumo da bebida. "É o local onde a criança
faz as suas redes, tem os seus
amigos, onde cria a sua personalidade. E se a indústria de
cerveja está lá patrocinando, é
claro que ela [criança] naturaliza o consumo da bebida."
Pai de dois alunos -de oito e
de 12 anos- do colégio Santa
Cruz, o diretor de marketing do
grupo Schincariol, Marcel Sacco, disse ontem que estava bastante "surpreso" com a discussão. "A festa completou 25
anos, e a Schincariol só esteve
presente neste ano e no ano
passado. Durante 25 anos a festa sempre teve chope, como
qualquer festa junina em qualquer escola do Brasil."
Segundo Sacco, foram os pais
dos alunos que cuidaram dos
quiosques que vendiam chopes
da Schincariol e das barracas
com outras bebidas, como vinho quente e quentão. "Toda
festa junina escolar tem quiosque de chope e cerveja. As bebidas não são vendidas a menores
de 18 anos."
Para ele, esse tipo de discussão é "xiita": "Será que também
não é ruim o consumo de chocolate, de salgadinhos? Se a
gente for dizer que paçoca faz
mal porque é muito gordurosa,
vamos entrar numa loucura
sem fim".
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