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Comando deu parecer contra ação na favela
Comando Militar do Leste alertou para riscos da participação militar no projeto, mas prevaleceu decisão política do presidente
General enviou documento ao chefe do Exército em que considerava equivocada e arriscada a atuação da Força no morro da Providência
Rafael Andrade/Folha Imagem
| Moradores do morro da Providência protestam na sede do Comando Militar do Leste após a morte de três jovens no sábado |
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Em parecer encampado pelo
Comando do Exército, em Brasília, o Comando Militar do
Leste (CML) alertou para os
riscos da participação militar
no projeto Cimento Social no
morro da Providência, no Rio.
Foi, porém, voto vencido. O Palácio do Planalto seguiu a sugestão do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), e o projeto virou convênio dos ministérios
de Cidades e da Defesa.
O comandante do CML, general-de-exército Luiz Cesário
da Silveira Filho, enviou o parecer ao comandante do Exército,
general Enzo Peri. Discorreu
sobre os riscos do contato de
militares com bandidos, falou
sobre a possibilidade de haver
tiroteios e até mortes de civis
com balas perdidas. Seu temor
era que os militares estariam
em áreas conflagradas, mas
sem flexibilidade legal para real
combate ao crime.
Cesário é a maior autoridade
do Exército na região que
abrange Rio, Minas e Espírito
Santo. No documento, ele considerava equivocada e arriscada
a atuação da Força nas obras e
na segurança de pessoal na favela. Enzo, porém, não teve
margem para negociar.
Prevaleceu a decisão política
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, que se comprometeu a
apoiar a idéia de Crivella, aliado
federal e pré-candidato a prefeito pelo PRB, que ganhou visibilidade para seu projeto paralelo ao das obras do Estado
(aliado ao Planalto) ou da prefeitura (de oposição).
No final, foram definidos 50
militares de várias patentes da
área de engenharia e mais um
efetivo de 200 homens responsáveis pela segurança dos colegas, das casas, do equipamento
e do material das obras. Uma
das funções dos engenheiros e
seus subordinados é, em tese,
ensinar a população a melhorar
e manter suas próprias casas.
Ontem, em meio à crise, três
importantes autoridades do
Exército no Rio estavam fora
da cidade: Cesário, que estava
em Portugal; o comandante da
1� Divisão de Exército, general
Rui Monarca da Silveira, na Argentina; e o chefe da Inteligência, coronel Braga Neto.
Uma das preocupações do
general Cesário era justamente
o sempre indefinido poder do
Exército em situações do gênero e o temor de que os militares
ficassem de mãos atadas para
combater o crime.
A rigor, os militares que estão
na Providência não podem fazer repressão ou prevenção de
crimes, a não ser em situações
flagrantes e evidentes, como
ver uma pessoa portando arma
de fogo ostensivamente ou cometendo delito.
Esse tipo de limitação causa
claro desconforto entre os militares, que reclamam estar sujeitos a freqüentes provocações
e até ameaças de moradores. O
clima estava tenso nas últimas
semanas. Um tenente da engenharia foi ameaçado de morte,
o que o afastou do local e levou
à abertura de um inquérito policial militar. Houve outras detenções no período.
A Folha apurou que ao menos dois veículos militares
-um caminhão e um jipe- foram atingidos por disparos de
traficantes, desde o início da
atuação do Exército no morro.
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