São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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PERFIL

Acusado tinha nove mandados de prisão por assalto a mão armada

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Acusado de liderar pelo menos 15 assaltos nos últimos dois anos a apartamentos de classe média alta do Rio, com nove mandados de prisão por assalto a mão armada e respondendo a inquéritos por fraude processual, corrupção de menores e formação de quadrilha, a morte de Pedro Dom foi "tragédia anunciada", definiu seu pai, Luiz Victor Lomba.
Ex-policial que integrou o Esquadrão da Morte -grupo parapolicial liderado pelo detetive Mariel Mariscot nos anos 70-, Lomba diz que o filho tornou-se usuário de drogas aos nove anos.
Pedro Machado Lomba Neto -loiro, ganhou o apelido de Dom de outros garotos dependentes, com quem convivia nas esquinas da rua Prado Júnior, em Copacabana. Completaria 24 anos no próximo dia 27. Deixou um filho de cinco meses.
Começou a roubar por volta dos 12 anos para financiar seu vício. No começo, subtraía objetos de sua mãe, com quem vivia, junto com as duas irmãs. Depois, passou a furtar toca-fitas.
O advogado da família, Rogério Rocco, destaca as tentativas inúteis dos pais para libertá-lo do vício: foram 14 internações em clínicas de desintoxicação até ele ser preso, no ano de 2001, por porte ilegal de armas.
Rocco conta que, diante do laudo médico que atestava a dependência química do rapaz, o juiz decidiu libertá-lo, mas foi demovido pela mãe -que implorou de joelhos para que o filho fosse internado no hospital penitenciário Heitor Carilho, imaginando que seria uma forma de mantê-lo afastado de seu vício.
""Mas o hospital funcionou como uma escola de crime. Lá, ele conheceu assassinos, traficantes e ladrões que se tornaram seus companheiros de quadrilha", conta o advogado da família.
Pedro Dom ficou internado por seis meses. Voltou para as ruas em fevereiro de 2002, com a condição de continuar o tratamento de desintoxicação no ambulatório do hospital.
Contrariando a ordem judicial, foi só uma vez ao ambulatório. A partir de fevereiro de 2002, existe um vazio de informação sobre ele. "Ficou desaparecido por uns dois anos, sem dar notícias a ninguém", acrescenta o advogado. Pedro Dom ressurgiu há cerca de dois anos, liderando os assaltos a edifícios de luxo no Rio.
A primeira namorada, aos 17 anos, era usuária de drogas e assaltante. ""Filha de um oficial da Aeronáutica reformado, e muito bonita, ela ia na frente nos assaltos, para atrair os porteiros, que abriam as portas. Cada membro da quadrilha tinha uma especialidade. A Pedro Dom cabia roubar e ameaçar as vítimas", diz Rocco.

Fama de violento
Dom fez fama de violento. As vítimas descreviam cenas de horror. Uma mulher contou que ele chegou a colocar uma granada sobre a cabeça de uma criança para forçar as vítimas a contar onde guardavam as jóias.
O pai de Pedro Dom atribui o envolvimento do filho com o crime a uma fatalidade. "Algumas pessoas vão à terra do nunca e experimentam drogas, mas conseguem sair de lá e se tornam profissionais decentes. Outros ficam lá para sempre. A terra do nunca é o lugar onde os jovens desafiam tudo aquilo que as leis, as famílias e as escolas impõem. A senhora tem idéia da sensação de poder que a posse de uma arma provoca?", responde o ex-policial civil Luiz Victor Lomba ao ser questionado se Pedro Dom poderia ter se envolvido com a criminalidade para contestá-lo.
Para Lomba, a polícia creditou a Pedro Dom assaltos que teriam sido cometidos por outras quadrilhas. Ele afirma que a mídia criou um falso mito ao comparar seu filho a dois outros assaltantes do Rio de Janeiro, oriundos da classe média, que ficaram famosos: Lúcio Flávio Lírio, assaltante de bancos morto em 1975, e Mauricinho Botafogo, filho do proprietário de uma casa de câmbio, preso por assalto. Lomba foi um dos policiais que prenderam Lúcio Flávio.
Com o rosto e as mãos sujas do sangue do filho, Lomba disse que Pedro Dom havia sido vítima de extorsão várias vezes por policiais. Ele afirmou que a família chegou a vender um apartamento no bairro de Botafogo, na zona sul, para evitar que o rapaz fosse preso, no ano 2000.
"A polícia matou sua galinha de ovos de ouro", afirma. Lomba disse que não apoiava a conduta do filho, mas o amava.


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