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RACISMO
Dário Pereira Netto diz que o amigo e ele foram agredidos pelo grupo por estarem de mãos dadas
Testemunha não reconhece acusados
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
O operador de telemarketing
Dário Pereira Netto, 34, principal
testemunha da morte do adestrador de cães Edson Neris da Silva,
35, depôs ontem por duas horas à
polícia, mas não reconheceu entre
os 18 jovens presos os autores da
morte de seu acompanhante.
Neris da Silva foi espancado até
a morte à 0h10 do último domingo, quando passava pela praça da
República (região central de São
Paulo) em companhia de Netto.
A polícia atribui o crime a um
grupo denominado Carecas do
ABC -o qual, afirma, prega o extermínio de negros, homossexuais e nordestinos- e mantém
18 pessoas presas há sete dias.
Delas, porém, apenas uma foi
reconhecida -por somente por
uma das quatro testemunhas.
Para advogados consultados
pela Folha, a falta de reconhecimento impede a individualização
da conduta dos acusados -definição de quem estava na praça e
quem agrediu a vítima- e pode
absolvê-los (leia texto ao lado).
Motivo
Apesar de não ter ajudado a polícia a individualizar a conduta do
acusados, Netto conseguiu esclarecer ontem o motivo do ataque
contra seu acompanhante e ele.
De acordo com Netto, ele e Silva
-que se conheciam havia dez
dias- foram escolhidos entre outros homossexuais da região porque estavam andando de mãos
dadas.
"Acredito que aqueles carecas,
que sempre estão por ali aos sábados, tiveram seus instintos animais aguçados ao nos ver andando de mãos dadas, o que demonstrava nitidamente que éramos homossexuais", disse o rapaz.
"Eles marchavam ostensivamente em nossa direção, como se
estivessem indo para a guerra.
Percebi que seríamos agredidos e
gritei para o meu amigo: "Corre".
Quando me virei para correr, já
levei um chute pelas costas, tapas
e pontapés, mas consegui escapar
para o metrô", acrescentou, nervoso e chorando bastante.
Para o promotor de Justiça
Marcelo Milani, que acompanhou parte do depoimento e será
responsável pelo envio do caso à
Justiça, a narrativa permite qualificar triplamente o homicídio
-por motivo torpe (vil, as mãos
dadas), impossibilidade de defesa
da vítima e uso de meio cruel (espancamento)-, além de permitir
que os acusados sejam denunciados (indicados como culpados à
Justiça) por tentativa de homicídio duplamente qualificada (motivo torpe e impossibilidade de
defesa) e formação de quadrilha.
O inquérito deve estar concluído até a próxima segunda-feira.
Depois disso, o promotor terá
cinco dias para denunciar os acusados. Se condenados, a pena de
cada um pode chegar a 56 anos.
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