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ONGs pedem genérico contra Aids
do enviado especial a Bancoc
Uma das bandeiras que mobilizam as ONGs (Organizações
Não-Governamentais) que participam da Unctad-10 tem enorme
parentesco com a polêmica no
Brasil sobre remédios genéricos
versus remédios de marca.
Ocorre que a ONG tailandesa
Aids Access Foundation reclama
que o coquetel de remédios que
permite o controle da Aids é inacessível para a esmagadora maioria dos tailandeses, se tiverem que
pagar por uma droga patenteada
pelo laboratório norte-americano
Bristol-Myers Squibb.
O genérico que compõe esse
medicamento (o ddI ou didanosine) poderia ser produzido localmente, a um preço infinitamente
mais baixo, não fosse a patente,
alega a fundação.
O coquetel anti-Aids completo
custa US$ 675 por mês, preço inacessível para a grande maioria da
população (não só na Tailândia,
aliás), como diz Jon Ungpakorn,
diretor da ONG à revista "Far Eastern Economic Review".
O ddI torna mais eficazes os outros elementos do coquetel, já
produzidos na própria Tailândia.
O que tem a ver o remédio contra Aids com uma conferência sobre comércio e desenvolvimento?
Simples: o respeito irrestrito a
patentes consta do acordo sobre
comércio resumido na sigla Trips
(Aspectos da Propriedade Intelectual Relativos ao Comércio).
Mas a fundação não é a única
ONG mobilizada para a Unctad-10. Bem ao contrário do que ocorreu em Seattle, a Unctad convidou as entidades da sociedade civil a participarem ativamente das
discussões. "Queremos seriamente a integração das vozes e reclamos da sociedade civil", diz o
ministro tailandês Supachai Panitchpakdi, que, como anfitrião, é
o presidente da Unctad-10.
A Unctad montou, via Internet,
até o que batizou de "Livro de Aspirações", para que ONGs e demais entidades da sociedade pudessem manifestar o que esperam
do encontro da Tailândia.
Rubens Ricupero, o diretor-geral da Unctad, não se incomoda
com o rótulo de "Seattle dos pobres", que está sendo dado à conferência da organização que dirige, pela presença das ONGs e ausência de delegações expressivas
dos países ricos (exceto Japão).
"Somos uma espécie de anti-Davos, porque estamos muito
mais próximos dos pobres e marginalizados", diz o embaixador
brasileiro, em alusão à cidade suíça que abriga os encontros anuais
do Fórum Econômico Mundial,
em que se reúne a elite empresarial, governamental e acadêmica.
A polícia tailandesa montou rigoroso esquema de segurança, temendo não só manifestações como as de Seattle ou Davos mas
principalmente uma ação dos
guerrilheiros de Mianmar (ex-Birmânia).
(CLÓVIS ROSSI)
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