São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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ONGs pedem genérico contra Aids

do enviado especial a Bancoc

Uma das bandeiras que mobilizam as ONGs (Organizações Não-Governamentais) que participam da Unctad-10 tem enorme parentesco com a polêmica no Brasil sobre remédios genéricos versus remédios de marca.
Ocorre que a ONG tailandesa Aids Access Foundation reclama que o coquetel de remédios que permite o controle da Aids é inacessível para a esmagadora maioria dos tailandeses, se tiverem que pagar por uma droga patenteada pelo laboratório norte-americano Bristol-Myers Squibb.
O genérico que compõe esse medicamento (o ddI ou didanosine) poderia ser produzido localmente, a um preço infinitamente mais baixo, não fosse a patente, alega a fundação.
O coquetel anti-Aids completo custa US$ 675 por mês, preço inacessível para a grande maioria da população (não só na Tailândia, aliás), como diz Jon Ungpakorn, diretor da ONG à revista "Far Eastern Economic Review".
O ddI torna mais eficazes os outros elementos do coquetel, já produzidos na própria Tailândia.
O que tem a ver o remédio contra Aids com uma conferência sobre comércio e desenvolvimento?
Simples: o respeito irrestrito a patentes consta do acordo sobre comércio resumido na sigla Trips (Aspectos da Propriedade Intelectual Relativos ao Comércio).
Mas a fundação não é a única ONG mobilizada para a Unctad-10. Bem ao contrário do que ocorreu em Seattle, a Unctad convidou as entidades da sociedade civil a participarem ativamente das discussões. "Queremos seriamente a integração das vozes e reclamos da sociedade civil", diz o ministro tailandês Supachai Panitchpakdi, que, como anfitrião, é o presidente da Unctad-10.
A Unctad montou, via Internet, até o que batizou de "Livro de Aspirações", para que ONGs e demais entidades da sociedade pudessem manifestar o que esperam do encontro da Tailândia.
Rubens Ricupero, o diretor-geral da Unctad, não se incomoda com o rótulo de "Seattle dos pobres", que está sendo dado à conferência da organização que dirige, pela presença das ONGs e ausência de delegações expressivas dos países ricos (exceto Japão).
"Somos uma espécie de anti-Davos, porque estamos muito mais próximos dos pobres e marginalizados", diz o embaixador brasileiro, em alusão à cidade suíça que abriga os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, em que se reúne a elite empresarial, governamental e acadêmica.
A polícia tailandesa montou rigoroso esquema de segurança, temendo não só manifestações como as de Seattle ou Davos mas principalmente uma ação dos guerrilheiros de Mianmar (ex-Birmânia). (CLÓVIS ROSSI)



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