São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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ADMINISTRAÇÃO

Caos financeiro e inoperância da máquina são situações que ocorreram no início dos governos do PT e do PSDB

Tucano repete Marta nos primeiros cem dias

CONRADO CORSALETTE
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

José Serra (PSDB) chega ao seu centésimo dia como prefeito de São Paulo repetindo o mesmo discurso e adotando ações semelhantes às de sua antecessora e adversária política, Marta Suplicy (PT), no início de governo.
Caos financeiro, inoperância da máquina, serviços paralisados, descaso com dinheiro público e a impossibilidade de pagar a dívida com a União foram alguns dos temas explorados pela ex-prefeita petista que voltaram à agenda municipal nos últimos meses.
Sempre reclamando da falta de dinheiro, Marta e Serra tiveram de parcelar as dívidas atrasadas com fornecedores e pedir ao governo federal renegociação do contrato da dívida. Nas suas primeiras ações, petista e tucano recorreram a medidas de impacto.
A ex-prefeita lançou o Projeto Belezura, com o objetivo de diminuir a poluição visual da cidade e foi pintar os muros do estádio do Pacaembu. O atual prefeito realizou operações cata-bagulho, visitou piscinões assoreados e reativou o combate à propaganda irregular. Numa outra coincidência de percurso, brigaram com perueiros nos dois primeiros meses.
"O discurso é semelhante, mas há uma diferença fundamental em seu resultado: o governo do ex-prefeito Celso Pitta [antecessor de Marta] era visto por toda população como caótico, o que já não acontece com Marta", afirma o cientista político Rubens Figueiredo, do Cepac (Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação).
Segundo ele, ao insistir no discurso da "herança maldita", Serra desperta a lembrança de um passado que, para muitos paulistanos, não foi ruim -Figueiredo cita os altos índices de aprovação da ex-prefeita no final do mandato.
Para seu colega Fernando Abrúcio, professor de ciências políticas da PUC-SP, ao adotar um discurso voltado ao passado, Serra acaba anulando sua imagem de "homem que faz". "Um político não pode se pautar pelo passado porque o eleitor pensa no futuro", afirmou Abrúcio. "A comunicação do prefeito erra ao repetir o discurso da herança e gera um desgaste no próprio governo".

Situação financeira
Quando Marta assumiu, em janeiro de 2001, seus auxiliares apontaram um déficit deixado pela administração Celso Pitta (1997-2000) que se aproximava de R$ 1 bilhão. João Sayad, então no comando da Secretaria de Finanças, renegociou o pagamento das dívidas com os fornecedores em até quatro anos. No início da gestão, segurou dinheiro em caixa.
No último ano de sua administração, no qual disputou a sucessão paulistana com Serra, Marta assumiu compromissos além da capacidade financeira da cidade. Foi obrigada a reduzir serviços, como o de varrição de ruas, e cancelar empenhos (reservas orçamentárias). Ela afirma que, apesar dos cancelamentos e do aperto na reta final, fechou no azul.
Serra, no entanto, assumiu apontando um déficit de cerca de R$ 1,8 bilhão. Seu secretário de Finanças, Mauro Ricardo, adotou um critério de pagamento que prevê a quitação total do débito até 2012. Ele também vem segurando dinheiro em caixa afirmando que ele será usado com parcimônia para não deixar débitos para o próximo exercício fiscal.

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