|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONSUMO
CIDADANIA
Entidades temem que conquistas obtidas com o Código de Defesa do Consumidor ao longo de dez anos saiam enfraquecidas
Proposta de agência federal recebe críticas
EUNICE NUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA
As entidades de defesa do consumidor estão apreensivas com a
proposta do governo para a criação de uma Agência Nacional de
Defesa do Consumidor e da Concorrência (ANC). Temem que as
conquistas obtidas ao longo de
dez anos de vigência do Código de
Defesa do Consumidor saiam enfraquecidas.
Os anteprojetos de lei que tratam da criação da ANC estão
abertos para consulta pública até
o próximo dia 15 nos endereços
www.planalto.gov.br, www.mj.gov.br e www.fazenda.gov.br.
O principal problema apontado
pelas instituições é o governo não
ter designado o ministério ao qual
se subordinará a ANC.
"A discussão sobre o mérito de
criar a agência só faz sentido depois dessa definição. A agência
deve ficar subordinada ao Ministério da Justiça, ao qual compete a
defesa da cidadania. Se ficar sob a
coordenação da área econômica,
teremos problemas", diz Antonio
Hermann Benjamin, do Instituto
Brasileiro de Política e Direito do
Consumidor (Brasilcon).
Além dessa questão preliminar,
as entidades apontam vários outros problemas para a área do
consumidor. "O projeto não dá o
mesmo peso à defesa da concorrência e à defesa do consumidor",
diz Maria Inês Fornazaro, diretora executiva da Fundação Procon
de São Paulo (Procon/SP).
Ela exemplifica: o governo propõe a criação de um tribunal da
concorrência dentro da ANC e
apenas um conselho consultivo,
"de menor importância", para a
defesa do consumidor.
Marilena Lazzarini, coordenadora-executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(Idec), afirma que a própria estrutura da agência prevista no projeto do governo reforça essa idéia
de dois pesos e duas medidas.
"A agência terá dois diretores
para cuidar da defesa do consumidor e três para a concorrência.
Isso demonstra que o consumidor não será o tema prioritário da
nova agência", avalia ela.
Além disso, tanto o Procon/SP
como o Idec têm restrições a englobar numa única agência a defesa do consumidor e o controle da
concorrência. Para as duas instituições, os dois objetivos são distintos, quando não antagônicos.
"A experiência de alguns países
latino-americanos, como Panamá
e Peru, mostra que entre esses
dois temas -defesa do consumidor e da concorrência- não há
um equilíbrio: inevitavelmemte o
consumidor é quem sai perdendo, em favor da concorrência",
diz o Idec.
"O projeto do governo é muito
ruim. Se for aprovado, vai trazer
insegurança jurídica", afirma o
advogado Pedro Dutra, do Instituto Brasileiro de Defesa da Concorrência e do Consumidor
(Ibrac). "O que mais nos preocupa é a avocatória, que permite
centralizar todos os processos em
Brasília, medida que enfraquecerá o sistema vigente de defesa dos
consumidores, integrado pelos
Procons etc.", declara Marli Aparecida Sampaio, da Comissão de
Defesa do Consumidor da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP).
Os Procons de todo o Brasil estão fechando um documento único com as críticas e sugestões aos
anteprojetos do governo. A OAB-SP e o Brasilcon também estão
elaborando um documento sobre
o assunto.
O Idec já enviou seu posicionamento ao governo.
Texto Anterior: Violência: Beira-Mar está vivo, afirma advogado Próximo Texto: Trânsito: Aclimação é alternativa para quem vai à avenida Paulista Índice
|