São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

65% dos irregulares são peruanos

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CRUZEIRO DO SUL

Dos 37 médicos que hoje trabalham em Cruzeiro do Sul (648 km de Rio Branco), 24 são peruanos ou bolivianos. Desses estrangeiros contratados, 14 (11 pela prefeitura e 3 pelo Estado) ainda não possuem registro no CRM (Conselho Regional de Medicina).
Até junho do ano passado, havia no município 43 médicos e enfermeiros estrangeiros que -apesar de estarem sem vínculo com os respectivos conselhos e apenas com o visto de turista- recebiam salários da prefeitura e do Estado.
Na época, a Polícia Federal exigiu a regularização desses estrangeiros (visto temporário) para que eles pudessem exercer suas profissões e receber os salários, mesmo sem registro do CRM.
A remuneração dos médicos e enfermeiros baseava-se em um decreto municipal -emitido em janeiro de 1998 pelo prefeito Aluizio Bezerra de Oliveira (PMDB)- que autorizava as secretarias de Cruzeiro do Sul a convidar profissionais com curso superior completo para participar de atividades de "integração fronteiriça de caráter turístico e cultural, além de técnico e científico".
O objetivo desse decreto era incentivar o intercâmbio de informações e experiência na área de medicina, quando não houvesse médicos suficientes na cidade.
Segundo Jacikley da Costa Ribeiro, ex-coordenador do Fundo Municipal da Saúde da cidade, os médicos estrangeiros recém-formados são atraídos ao Brasil pelos salários.
"A situação é irregular, mas, sem os médicos estrangeiros, a área de saúde na cidade, que já é precária, chegaria ao fundo do poço", diz Suiane da Costa Negreiros do Vale, representante do CRM em Cruzeiro do Sul.
O médico peruano Carlos Luis Boggio Diez, 34, foi contratado há três anos pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul. Veio trabalhar no país, segundo disse, por causa do salário de R$ 2.500 que recebe.
Para Diez, que se formou em 1992 na Universidade San Martin de Lima, não há risco de ocorrer erros médicos em consultas que comprometam a saúde dos pacientes. Segundo ele, a possibilidade de ocorrer erros existe apenas durante as cirurgias, que são realizadas exclusivamente por médicos regularizados e contratados pelo Estado. "Deixar pessoas sem diploma trabalhar nas cidades do interior do Acre é um problema administrativo", diz Diez, que até hoje não conseguiu ser aprovado em testes realizados em universidades nacionais para a revalidação de seu diploma.
Diez afirma que quando começou atender os pacientes nas unidades de saúde da cidade encontrou inúmeras dificuldades com a língua portuguesa. "Nos primeiros meses, eu não sabia como conversar com os pacientes e receitar medicamentos durante as consultas, mas, como faço apenas um trabalho preventivo, tenho certeza de que não prejudiquei ninguém." (EDS)


Texto Anterior: Sem diploma não são punidos
Próximo Texto: Brasileiro não quer trabalhar no interior
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.