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65% dos irregulares são peruanos
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CRUZEIRO DO SUL
Dos 37 médicos que hoje trabalham em Cruzeiro do Sul (648 km
de Rio Branco), 24 são peruanos
ou bolivianos. Desses estrangeiros contratados, 14 (11 pela prefeitura e 3 pelo Estado) ainda não
possuem registro no CRM (Conselho Regional de Medicina).
Até junho do ano passado, havia no município 43 médicos e enfermeiros estrangeiros que
-apesar de estarem sem vínculo
com os respectivos conselhos e
apenas com o visto de turista-
recebiam salários da prefeitura e
do Estado.
Na época, a Polícia Federal exigiu a regularização desses estrangeiros (visto temporário) para
que eles pudessem exercer suas
profissões e receber os salários,
mesmo sem registro do CRM.
A remuneração dos médicos e
enfermeiros baseava-se em um
decreto municipal -emitido em
janeiro de 1998 pelo prefeito Aluizio Bezerra de Oliveira
(PMDB)- que autorizava as secretarias de Cruzeiro do Sul a convidar profissionais com curso superior completo para participar
de atividades de "integração fronteiriça de caráter turístico e cultural, além de técnico e científico".
O objetivo desse decreto era incentivar o intercâmbio de informações e experiência na área de
medicina, quando não houvesse
médicos suficientes na cidade.
Segundo Jacikley da Costa Ribeiro, ex-coordenador do Fundo
Municipal da Saúde da cidade, os
médicos estrangeiros recém-formados são atraídos ao Brasil pelos
salários.
"A situação é irregular, mas,
sem os médicos estrangeiros, a
área de saúde na cidade, que já é
precária, chegaria ao fundo do
poço", diz Suiane da Costa Negreiros do Vale, representante do
CRM em Cruzeiro do Sul.
O médico peruano Carlos Luis
Boggio Diez, 34, foi contratado há
três anos pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul. Veio trabalhar no
país, segundo disse, por causa do
salário de R$ 2.500 que recebe.
Para Diez, que se formou em
1992 na Universidade San Martin
de Lima, não há risco de ocorrer
erros médicos em consultas que
comprometam a saúde dos pacientes. Segundo ele, a possibilidade de ocorrer erros existe apenas durante as cirurgias, que são
realizadas exclusivamente por
médicos regularizados e contratados pelo Estado. "Deixar pessoas
sem diploma trabalhar nas cidades do interior do Acre é um problema administrativo", diz Diez,
que até hoje não conseguiu ser
aprovado em testes realizados em
universidades nacionais para a revalidação de seu diploma.
Diez afirma que quando começou atender os pacientes nas unidades de saúde da cidade encontrou inúmeras dificuldades com a
língua portuguesa. "Nos primeiros meses, eu não sabia como
conversar com os pacientes e receitar medicamentos durante as
consultas, mas, como faço apenas
um trabalho preventivo, tenho
certeza de que não prejudiquei
ninguém."
(EDS)
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