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Mato ocupa área de antiga fábrica
DA SUCURSAL DO RIO
Não fossem as placas de alerta
sobre a contaminação, nada num
primeiro instante na Cidade dos
Meninos lembraria um ambiente
com contaminação no ar, na terra
e na água. Mas após algum tempo
no lugar, a reportagem da Folha
já sentiu os olhos arderem.
A Cidade dos Meninos é um oásis de mais de 19 milhões m2 -algo como 12 parques Ibirapuera-
na Baixada Fluminense, área que
concentra os municípios mais pobres da região metropolitana do
Rio. Trata-se de uma grande área
rural, com pouquíssima iluminação pública e cortada por estradas
de terra.
"É um lugar onde as pessoas
ainda dormem de janelas abertas", define o administrador de
empresas Ronaldo Silva Leal, 43,
que mora com a mulher e duas filhas a 2 km da antiga fábrica.
A entrada é pelo km 12 da antiga
estrada Rio-Petrópolis. Uma guarita do INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social) pode ser confundida com a portaria de um
condomínio fechado. Ali mesmo,
logo na entrada, onde estranhos
param para se identificar, a Feema detectou um novo foco de
contaminação, dica dada por um
cheiro forte e característico no ar.
A região se destaca também por
ser um oásis de segurança num
município onde violência também é um problema. "Aqui é
muito seguro, muito tranquilo",
diz o técnico em telecomunicações Marcelo Mota da Silva, 30,
outro morador do local, logo ao
sair de manhã, de carro, para o
centro do Rio, onde trabalha.
Resistência
Marcelo é um dos que resistem
à idéia de deixar a própria casa,
que fica a menos de cem metros
da cerca que demarca a área onde
estava a fábrica do pesticida.
No terreno onde ficava a fábrica
de HCH, o mato cresceu. No entorno, a poucos metros da cerca
que isola a principal fonte de contaminação, há mato, árvores frutíferas, casas e varais com roupa
bem próximos às placas que avisam: "Área Contaminada/Produto Tóxico". O texto prossegue:
"Não consumir produtos deste
local", "Não beber água de poço".
"Nós sempre consumimos tudo
daqui, leite, carne, ovos, achando
que estávamos comendo do melhor", conta a professora Carmem
Regina Ribeiro da Silva, que se
mudou de lá em 1991, quando,
grávida pela primeira vez, descobriu estar contaminada, com altíssimas doses de HCH no sangue
(125 microgramas por litro).
(IC)
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