São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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Mato ocupa área de antiga fábrica

DA SUCURSAL DO RIO

Não fossem as placas de alerta sobre a contaminação, nada num primeiro instante na Cidade dos Meninos lembraria um ambiente com contaminação no ar, na terra e na água. Mas após algum tempo no lugar, a reportagem da Folha já sentiu os olhos arderem.
A Cidade dos Meninos é um oásis de mais de 19 milhões m2 -algo como 12 parques Ibirapuera- na Baixada Fluminense, área que concentra os municípios mais pobres da região metropolitana do Rio. Trata-se de uma grande área rural, com pouquíssima iluminação pública e cortada por estradas de terra.
"É um lugar onde as pessoas ainda dormem de janelas abertas", define o administrador de empresas Ronaldo Silva Leal, 43, que mora com a mulher e duas filhas a 2 km da antiga fábrica.
A entrada é pelo km 12 da antiga estrada Rio-Petrópolis. Uma guarita do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) pode ser confundida com a portaria de um condomínio fechado. Ali mesmo, logo na entrada, onde estranhos param para se identificar, a Feema detectou um novo foco de contaminação, dica dada por um cheiro forte e característico no ar.
A região se destaca também por ser um oásis de segurança num município onde violência também é um problema. "Aqui é muito seguro, muito tranquilo", diz o técnico em telecomunicações Marcelo Mota da Silva, 30, outro morador do local, logo ao sair de manhã, de carro, para o centro do Rio, onde trabalha.

Resistência
Marcelo é um dos que resistem à idéia de deixar a própria casa, que fica a menos de cem metros da cerca que demarca a área onde estava a fábrica do pesticida.
No terreno onde ficava a fábrica de HCH, o mato cresceu. No entorno, a poucos metros da cerca que isola a principal fonte de contaminação, há mato, árvores frutíferas, casas e varais com roupa bem próximos às placas que avisam: "Área Contaminada/Produto Tóxico". O texto prossegue: "Não consumir produtos deste local", "Não beber água de poço". "Nós sempre consumimos tudo daqui, leite, carne, ovos, achando que estávamos comendo do melhor", conta a professora Carmem Regina Ribeiro da Silva, que se mudou de lá em 1991, quando, grávida pela primeira vez, descobriu estar contaminada, com altíssimas doses de HCH no sangue (125 microgramas por litro).
(IC)


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