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RIO
Ministério Público apura danos causados pelo abandono de 400 toneladas de produto tóxico na área rural de Duque de Caxias
Inquérito apura contaminação ambiental
ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério Público Federal no
Rio de Janeiro instaurou um inquérito para tentar solucionar um
dos maiores escândalos ambientais já registrados no país, que se
arrasta há 45 anos.
A Cidade dos Meninos, uma extensa área rural do município de
Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e seus moradores convivem, desde 1956, com um ambiente contaminado por HCH
(hexaclorociclohexano), inseticida popularmente conhecido como "pó-de-broca".
Esse produto, altamente tóxico,
persistente e potencialmente cancerígeno -segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde)-,
já era proibido nos Estados Unidos em meados dos anos 50,
quando 400 toneladas dele foram
abandonadas a céu aberto em Duque de Caxias, após a desativação
da fábrica do Instituto de Malariologia, vinculado ao antigo Ministério da Saúde e da Educação,
que produzia o inseticida.
O inquérito do Ministério Público visa apurar os danos causados ao meio ambiente e às mais de
2.000 pessoas, entre adultos e
crianças, que moraram (ou moram) ali, e chegar a um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com os
órgãos públicos envolvidos.
O termo, que já está sendo elaborado, deve ser assinado por Ministério da Saúde, Feema (Fundação Estadual de Engenharia em
Meio Ambiente), Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis), Prefeitura de Duque de Caxias e outras instituições.
"Não há explicação razoável para a área contaminada e as pessoas estarem lá até hoje", disse a
procuradora da República Gisele
Porto, responsável pelo inquérito.
O TAC substitui um processo e,
por ele, os responsáveis se comprometem com ações, investimentos e cronograma para a solução. O debate sobre o caso foi retomado no final do ano passado e
já chegou ao gabinete do ministro
José Serra (Saúde).
O caso tem sido tratado como
prioridade, segundo a diretora do
Departamento de Ciência e Tecnologia em Saúde do Ministério
da Saúde, Beatriz Tess.
Um primeiro TAC foi assinado
em 1993, mas não foi cumprido
sob a justificativa de que o Ministério da Saúde não havia repassado os recursos necessários.
"Constatei omissão total ou
ações sem resultado. Não pode
haver mais atraso", afirmou a
procuradora, que tomou conhecimento do caso no final de 1999.
Situação é pior
A única tentativa de acabar com
a contaminação agravou a situação, segundo pesquisadores da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) e da PUC-Rio e a
própria Feema.
Em 1995, a empresa paranaense
Nortox, a pedido do Ministério da
Saúde, adicionou cal virgem ao
HCH e espalhou a mistura pelo
solo para desativar o inseticida.
A mistura, porém, gerou subprodutos tão ou mais tóxicos que
o "pó-de-broca", segundo os engenheiros Tomaz Langenbach, do
Instituto de Microbiologia da
UFRJ, e Tácio Mauro Pereira de
Campos, coordenador do Projeto
HCH da PUC-Rio.
"O problema foi espalhado",
afirma Langenbach. Hoje a área
foco está estimada em 40 mil m2.
"Há menos moléculas de HCH,
sem dúvida, mas há mais produtos tóxicos indo para o ar."
Procurada pela Folha, a Nortox
não quis se manifestar. Dos autos
do inquérito consta um laudo em
que a empresa se defende, apontando redução de HCH em cerca
de 86%, após a aplicação. O serviço foi prestado de graça.
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