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Prefeitura tira menores de lixão
DA REPORTAGEM LOCAL
Minutos antes de desfilar usando um vestido de noiva, Cláudia
Cristina dos Santos, 15, fazia planos sobre que profissão gostaria
de seguir daqui a alguns anos.
A descrição da cena pode se
aplicar perfeitamente ao mundo
das top models, não fosse o vestido de Cláudia feito de tela de
construção e ráfia (material usado
para fazer sacos de batata) e não
tivesse ela nascido em uma família de catadores que vivem do que
retiram do lixão do Alvarenga, o
mais antigo do Estado de São
Paulo, localizado na fronteira de
Diadema com São Bernardo do
Campo (Grande SP).
"Quero ser advogada. Trabalhar
no lixo não dá futuro para ninguém", dizia ela, segurando seu
buquê de flores de PET (plástico
de que são feitas as garrafas de refrigerante).
Cláudia só esteve no lixão para
fazer travessuras típicas da infância. Ela faz parte de uma geração
que encontrou alternativa de vida
e de educação. A moça cursa a sétima série numa escola pública de
São Bernardo.
Desde 1997, a prefeitura da cidade vem desenvolvendo ações, em
parceria com ONGs e empresas
privadas, para tirar os menores do
lixão. O programa, chamado Lixo
e Cidadania, tem apoio do Unicef.
Dirigido pela primeira-dama,
Laerte Soares de Almeida, um
grupo executivo do qual participam todas as secretarias municipais desenvolve ações como a
construção de uma árvore de Natal de 15 m de altura, feita de material reciclável retirado do lixão.
Em 1992, São Bernardo tinha
372 catadores no lixão do Alvarenga; 176 crianças. "A primeira
ação foi colocá-las nas escolas e,
ao mesmo tempo, fazer um
acompanhamento psicopedagógico para que superassem o estigma do lixo", conta a diretora de
Meio Ambiente, Sônia Lima.
Ela diz que o maior desafio agora é remover a população que mora na área do lixão. "Pedimos um
financiamento de cerca de R$ 2
milhões para o governo federal,
mas só liberaram R$ 160 mil. Não
dá para nada", reclama.
Maria Geralda Cândido, 31, e
Cléber Nonato de Souza, 26, participam do projeto da prefeitura.
Ambos são catadores: Maria há 12
anos, e Cléber há mais de dez.
"Me criei no lixão. Nunca tive
nenhum problema de saúde por
isso, mas meu filho de 2 anos tem
bronquite, e o gás da queima do
material piora a saúde dele", afirma Cléber, que estudou até o segundo ano do ensino fundamental.
(MV)
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