São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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Prefeitura tira menores de lixão

DA REPORTAGEM LOCAL

Minutos antes de desfilar usando um vestido de noiva, Cláudia Cristina dos Santos, 15, fazia planos sobre que profissão gostaria de seguir daqui a alguns anos.
A descrição da cena pode se aplicar perfeitamente ao mundo das top models, não fosse o vestido de Cláudia feito de tela de construção e ráfia (material usado para fazer sacos de batata) e não tivesse ela nascido em uma família de catadores que vivem do que retiram do lixão do Alvarenga, o mais antigo do Estado de São Paulo, localizado na fronteira de Diadema com São Bernardo do Campo (Grande SP).
"Quero ser advogada. Trabalhar no lixo não dá futuro para ninguém", dizia ela, segurando seu buquê de flores de PET (plástico de que são feitas as garrafas de refrigerante).
Cláudia só esteve no lixão para fazer travessuras típicas da infância. Ela faz parte de uma geração que encontrou alternativa de vida e de educação. A moça cursa a sétima série numa escola pública de São Bernardo.
Desde 1997, a prefeitura da cidade vem desenvolvendo ações, em parceria com ONGs e empresas privadas, para tirar os menores do lixão. O programa, chamado Lixo e Cidadania, tem apoio do Unicef.
Dirigido pela primeira-dama, Laerte Soares de Almeida, um grupo executivo do qual participam todas as secretarias municipais desenvolve ações como a construção de uma árvore de Natal de 15 m de altura, feita de material reciclável retirado do lixão.
Em 1992, São Bernardo tinha 372 catadores no lixão do Alvarenga; 176 crianças. "A primeira ação foi colocá-las nas escolas e, ao mesmo tempo, fazer um acompanhamento psicopedagógico para que superassem o estigma do lixo", conta a diretora de Meio Ambiente, Sônia Lima.
Ela diz que o maior desafio agora é remover a população que mora na área do lixão. "Pedimos um financiamento de cerca de R$ 2 milhões para o governo federal, mas só liberaram R$ 160 mil. Não dá para nada", reclama.
Maria Geralda Cândido, 31, e Cléber Nonato de Souza, 26, participam do projeto da prefeitura. Ambos são catadores: Maria há 12 anos, e Cléber há mais de dez.
"Me criei no lixão. Nunca tive nenhum problema de saúde por isso, mas meu filho de 2 anos tem bronquite, e o gás da queima do material piora a saúde dele", afirma Cléber, que estudou até o segundo ano do ensino fundamental. (MV)


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