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OPERAÇÃO CASTELINHO
Ministério Público classificou como "emboscada" a ação da polícia paulista que resultou em 12 mortes
Promotoria denuncia 53 PMs por homicídio
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano e nove meses depois da
ação que ficou conhecida como
"Operação Castelinho", em que
12 supostos integrantes do PCC
morreram em um cerco policial
no interior de São Paulo, o Ministério Público denunciou 53 PMs
sob acusação de homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, meio cruel e emboscada.
Entre os acusados estão o coronel José Roberto Martins Marques, que na época comandava a
Rota (Rondas Ostensivas Tobias
de Aguiar), seu subcomandante,
o major Augusto Fernando da Silva, mais o tenente-coronel reformado Roberto Mantovan, ex-coordenador do Gradi (Grupo de
Repressão e Análise dos Delitos
de Intolerância), e o oficial que
chefiava o policiamento rodoviário na região, tenente-coronel Romeu Takami Mizutani.
Dos 53 denunciados, dez são
oficiais da Polícia Militar. Ninguém foi afastado.
A Operação Castelinho foi deflagrada às 7h30 do dia 5 de março, na praça de pedágio da rodovia José Ermírio de Morais, região
de Sorocaba (100 km da capital
paulista). Cerca de 120 policiais da
Rota, do COE (Comando de Operações Especiais) e do policiamento rodoviário interceptaram
um ônibus e duas camionetes. Os
12 suspeitos pretendiam assaltar
um avião de transporte de dinheiro no aeroporto da cidade.
Segundo a promotora Vania
Maria Tuglio, a ação foi uma "armadilha" preparada pelo Gradi. O
grupo de inteligência usou policiais disfarçados e detentos, recrutados em presídios, para criar
a falsa informação do avião pagador e levar a quadrilha ao roubo.
Nos dias seguintes, a ação recebeu elogios do secretário da Segurança Pública do Estado, Saulo de
Castro Abreu Filho, e do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
"Foi um primor de operação em
termos de informação", disse
Abreu Filho à Folha.
"Vendeu-se uma versão absolutamente mentirosa para a sociedade", afirma o promotor Carlos
Cardoso, assessor de Direitos Humanos da Procuradoria Geral de
Justiça de São Paulo.
Se condenados pelo júri popular, os policiais podem pegar de
150 a 370 anos de prisão. Os dois
presos recrutados e que trabalharam para o Gradi, Marcos Massari
e Gilmar Leite Siqueira, foram incluídos na acusação, que ainda
precisa ser enviada à Justiça.
Versões
A denúncia de ontem é resultado de uma investigação do Ministério Público, com a Polícia Civil,
que ouviu cerca de 50 testemunhas e reuniu novos laudos periciais. O primeiro inquérito, concluído pela Delegacia Seccional de
Sorocaba, foi considerado "insuficiente" pela Promotoria.
Conforme a versão oficial da
PM, o plano de assalto foi descoberto por meio de interceptações
telefônicas. Depois é que teriam
começado as infiltrações.
Segundo a promotora, porém,
não há transcrição do conteúdo
desses grampos. Testemunhas
ouvidas pelo Ministério Público
disseram que uma pessoa ainda
não-identificada ligou para uma
das vítimas propondo o plano do
assalto e indicando os agentes do
Gradi para participar do crime.
No dia da ação, suspeitos teriam
sido rendidos e depois baleados
por policiais, relataram testemunhas. "Dessa forma, as penas privativas de liberdade a que algumas daquelas vítimas estavam sujeitas transformaram-se, arbitrária e ilicitamente, em 12 penas capitais", diz a denúncia.
Ainda para a Promotoria, os
PMs alteraram a cena do suposto
confronto, recolhendo projéteis e
possíveis provas, e prejudicaram
a investigação. As três fitas das câmeras da Viaoeste, concessionária que administra a rodovia, desapareceram. O Ministério Público informou ter recebido da PM
apenas cópias editadas.
"A grande maioria das vítimas
apresenta tiros no coração e na
cabeça", afirma a promotora.
O secretário e dois juízes são investigados pelo Tribunal de Justiça por causa das ações do Gradi,
reveladas pela Folha a partir de
julho do ano passado.
Outro lado
Em nota, a Secretaria da Segurança afirmou que a "polícia fez
um cerco, com quase uma centena de policiais, exatamente para
que não houvesse confronto".
A assessoria da PM não quis falar sobre a denúncia. Ontem, a
Folha não localizou, em seus locais de trabalho, o ex-comandante da Rota, seu subcomandante, o
ex-coordenador do Gradi e o ex-comandante da Polícia Rodoviária na região de Sorocaba.
Colaborou Caio Junqueira, da Reportagem Local
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