São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2001

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NOVA ADMINISTRAÇÃO
Pelo cálculo de assessores, prefeita não terá caixa para liquidar compromissos já na 1� semana de governo
Marta estima rombo de R$ 2 bi nas contas

Jorge Araújo - 12.dez.2000/Folha Imagem
A petista Marta Suplicy, que assume hoje a Prefeitura de São Paulo com a perspectiva de um rombo de RÏ 2 bilhões no Orçamento


JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A psicóloga Marta Suplicy, 55, assume hoje o comando da Prefeitura de São Paulo com a expectativa de encontrar as contas no vermelho, a mesma cor usada como símbolo de seu partido, o PT.
Segundo cálculos de sua equipe, ela não terá dinheiro suficiente em caixa para liquidar compromissos que vencem nos primeiros dias de governo e ainda encontrará um rombo de até R$ 2 bilhões no Orçamento de 2001.
Os dados sobre a falta de recursos em caixa foram obtidos na própria prefeitura, segundo o economista Fernando Haddad, que integra a equipe de João Sayad (Finanças).
Ele diz que Marta assumirá a prefeitura com um caixa de R$ 70 milhões, mas poderá decidir como usar apenas R$ 1,6 milhão. "Isso não é suficiente para pagar os compromissos dos primeiros dias de governo. Há, por exemplo, a parcela da dívida com a União vencendo no dia 3", afirma.
O restante dos recursos em caixa está vinculado a projetos específicos e não pode ser usado para quitar dívidas que vencem no início da nova gestão, de acordo com o economista.
A saída de Marta será a de negociar, logo nos primeiros dias, atraso nos pagamentos. Essa situação se repetirá outras vezes e ainda atingirá os programas sociais que Marta prometeu em campanha. Como já disse o secretário Sayad, dificilmente eles sairão do papel no primeiro ano de governo.
Pela análise da equipe da petista, isso ocorrerá, em parte, devido ao Orçamento comprometido que ela terá. Só com folha de pagamento e a parcela da dívida negociada com a União (R$ 913 milhões), 51% do Orçamento de R$ 8,1 bilhões já está comprometido.
Há também uma dívida de R$ 1 bilhão com fornecedores que Marta herdará hoje de Celso Pitta (PTN), como afirma sua equipe das Finanças. Se um dos cenários traçados pela nova gestão se confirmar, não haverá recursos garantidos no Orçamento para acertar essa pendência.
A dívida passará, então, a fazer parte de uma lista que, somada, poderá chegar a um rombo de R$ 2 bilhões só neste ano.
A soma é completada com alegados recursos insuficientes previstos no Orçamento para gastos com pessoal, pagamento de precatórios (dívidas judiciais) e outras despesas.
O último ingrediente desse quadro indigesto é o veto, na última sexta-feira, a uma emenda que permitia a Marta remanejar recursos do Orçamento sem comprometer uma margem de 15% que ela havia conseguido para adequar a peça feita por Pitta a seus planos de governo.
Com o veto à emenda que havia sido aprovada na Câmara, Pitta impôs uma derrota a Marta.
As dívidas calculadas pelas Finanças, por exemplo, podem engessar o Orçamento e impedir que a prefeita reorganize de acordo com seus projetos os recursos que terá neste ano.
Além desses problemas, Marta terá ainda de dar soluções a problemas que a cidade enfrenta, como as enchentes, que castigam os moradores. Pouco mais da metade dos paulistanos (57%) acredita que o governo da petista será um sucesso, como revela pesquisa feita pelo Datafolha.



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