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Periscópio
As maiores erupções da Terra
José Reis
especial para a Folha
Muitos dos mais violentos e extensos fenômenos havidos na Terra
são atribuídos à ação das chamadas plumas ou penachos do manto. Elas teriam
sido responsáveis por gigantescas erupções de lava, fragmentação de continentes, abertura de oceanos e fixação de padrões hidrográficos peculiares. Esse vulcanismo atingiu proporções centenas de
milhares de vezes maiores do que tudo o
que se tem visto na superfície da Terra.
As plumas são colunas de rocha quente
que se erguem no manto, a camada plástica situada entre o núcleo fundido e a
crosta sólida da Terra. Elas surgem na
base do manto, na linha que o separa do
núcleo, e sobem em consequência dos
processos de convecção do manto gerados pelo calor do núcleo e do decaimento radiativo dos isótopos presentes nas
rochas do próprio manto. Ao aproximar-se da crosta, as plumas a aquecem
em áreas denominadas de pontos quentes. As rochas da pluma caminham metros por ano e levam milhões de anos para atravessar os poucos milhares de quilômetros do manto e atingir a crosta.
A formação das plumas ocorreu a cada
20 milhões ou 30 milhões de anos, em vários pontos do globo, nos últimos 250
milhões de anos. Estudos comprovam
que essas formações podem ter desempenhado relevante papel na separação de
continentes, assim como em imensas
erupções de lava basáltica. A ação das
plumas modernas pode ser estudada nas
ilhas do Havaí, onde a rocha fundida
emerge como lava. Pensou-se outrora,
investigando as formações vulcânicas
ativas e mortas dessas ilhas, que os pontos quentes se deslocam com o tempo,
mas depois se verificou que o deslocamento era das placas tectônicas em que
antes se encontravam os pontos quentes;
onde estes se acham há atividade vulcânica, que não se observa em ilhas gêmeas
que já passaram pelos pontos quentes.
As plumas tanto podem atingir regiões
da crosta oceânica, como no Havaí,
quanto massas continentais mais espessas. Nesses casos o calor do ponto quente
se espalha por áreas que podem chegar
até 1.000 km ou 2.000 km de diâmetro.
As rochas aquecidas empurram a crosta,
produzindo grandes domos (abóbadas)
que podem atingir 2 km de altura.
As cataratas do Iguaçu encontram-se
em um grande domo ligado à separação
da América do Sul e da África. Nessas regiões a tendência do continente é partir-se, deixando escoar ao mesmo tempo
enormes derrames de basalto, chamados
por isso mesmo de basaltos de inundação. Solidificados, esses basaltos empilham-se em espessos lençóis feitos de camadas superpostas ("trap") que se podem apreciar muito bem na província
indiana do Decão, em Karoo (sudoeste
da África) e na bacia do Paraná.
As camadas de basalto podem alcançar
18 km de altura e se espalhar por centenas de milhares de quilômetros quadrados. A erupção que originou os "trap" do
Decão foi de 2 milhões de quilômetros
cúbicos de lava. As plumas provocaram
há alguns milhões de anos erupções no
Parque Nacional de Yellowstone (EUA),
sendo o ponto quente ali localizado a origem das fontes hidrotermais da região.
Os domos permanecem muito tempo
após a movimentação da crosta e permitem o desenvolvimento de padrões característicos de drenagem, representados por rios que parecem correr ao contrário, isto é, nascem perto da crosta e dirigem-se para o interior, dando longas
voltas para afinal chegar ao oceano. Sirva
de exemplo a bacia do Paraná. A pressão
da pluma também pode forçar o continente a se dividir, criando um novo
oceano. É possível que por esse mecanismo a África e a América do Sul se tenham
separado há 130 milhões de anos.
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