São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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Periscópio

As maiores erupções da Terra

José Reis
especial para a Folha

Muitos dos mais violentos e extensos fenômenos havidos na Terra são atribuídos à ação das chamadas plumas ou penachos do manto. Elas teriam sido responsáveis por gigantescas erupções de lava, fragmentação de continentes, abertura de oceanos e fixação de padrões hidrográficos peculiares. Esse vulcanismo atingiu proporções centenas de milhares de vezes maiores do que tudo o que se tem visto na superfície da Terra.
As plumas são colunas de rocha quente que se erguem no manto, a camada plástica situada entre o núcleo fundido e a crosta sólida da Terra. Elas surgem na base do manto, na linha que o separa do núcleo, e sobem em consequência dos processos de convecção do manto gerados pelo calor do núcleo e do decaimento radiativo dos isótopos presentes nas rochas do próprio manto. Ao aproximar-se da crosta, as plumas a aquecem em áreas denominadas de pontos quentes. As rochas da pluma caminham metros por ano e levam milhões de anos para atravessar os poucos milhares de quilômetros do manto e atingir a crosta.
A formação das plumas ocorreu a cada 20 milhões ou 30 milhões de anos, em vários pontos do globo, nos últimos 250 milhões de anos. Estudos comprovam que essas formações podem ter desempenhado relevante papel na separação de continentes, assim como em imensas erupções de lava basáltica. A ação das plumas modernas pode ser estudada nas ilhas do Havaí, onde a rocha fundida emerge como lava. Pensou-se outrora, investigando as formações vulcânicas ativas e mortas dessas ilhas, que os pontos quentes se deslocam com o tempo, mas depois se verificou que o deslocamento era das placas tectônicas em que antes se encontravam os pontos quentes; onde estes se acham há atividade vulcânica, que não se observa em ilhas gêmeas que já passaram pelos pontos quentes.
As plumas tanto podem atingir regiões da crosta oceânica, como no Havaí, quanto massas continentais mais espessas. Nesses casos o calor do ponto quente se espalha por áreas que podem chegar até 1.000 km ou 2.000 km de diâmetro. As rochas aquecidas empurram a crosta, produzindo grandes domos (abóbadas) que podem atingir 2 km de altura.
As cataratas do Iguaçu encontram-se em um grande domo ligado à separação da América do Sul e da África. Nessas regiões a tendência do continente é partir-se, deixando escoar ao mesmo tempo enormes derrames de basalto, chamados por isso mesmo de basaltos de inundação. Solidificados, esses basaltos empilham-se em espessos lençóis feitos de camadas superpostas ("trap") que se podem apreciar muito bem na província indiana do Decão, em Karoo (sudoeste da África) e na bacia do Paraná.
As camadas de basalto podem alcançar 18 km de altura e se espalhar por centenas de milhares de quilômetros quadrados. A erupção que originou os "trap" do Decão foi de 2 milhões de quilômetros cúbicos de lava. As plumas provocaram há alguns milhões de anos erupções no Parque Nacional de Yellowstone (EUA), sendo o ponto quente ali localizado a origem das fontes hidrotermais da região.
Os domos permanecem muito tempo após a movimentação da crosta e permitem o desenvolvimento de padrões característicos de drenagem, representados por rios que parecem correr ao contrário, isto é, nascem perto da crosta e dirigem-se para o interior, dando longas voltas para afinal chegar ao oceano. Sirva de exemplo a bacia do Paraná. A pressão da pluma também pode forçar o continente a se dividir, criando um novo oceano. É possível que por esse mecanismo a África e a América do Sul se tenham separado há 130 milhões de anos.



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