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CIÊNCIA
Genética confirma dieta antienvelhecimento
MARCELO LEITE
especial para a Folha
O envelhecimento é uma ferida
que não se fecha, mas pode ser
tratada com... dieta. Batizada como "restrição calórica", a única
terapia aceita contra a degeneração do organismo começa a ser
explicada com alta tecnologia genética.
"No nível das moléculas, o envelhecimento normal se parece
com um estado de agressão ("injury') crônica", resume Tomas
Prolla, um dos autores de trabalho na revista norte-americana
"Science" de hoje que tem tudo
para tornar-se um clássico.
Em primeiro lugar, a equipe capitaneada por ele e Richard
Weindruch, da Universidade de
Wisconsin em Madison (EUA),
descobriu ou confirmou alguns
processos químicos básicos do
envelhecimento. A questão vinha
sendo objeto de intenso debate.
Depois, mostrou que a restrição
calórica consegue cortar muitos
elos na corrente da decadência fisiológica. Apesar de ter eficácia
reconhecida, não se sabia como a
parcimônia alimentar prorroga a
expectativa de vida.
Por fim, Prolla e Weindruch
lançaram mão dos "DNA arrays"
(chips de DNA). Essas matrizes
de ácido desoxirribonucléico -a
molécula-alfabeto do código genético- estão revolucionando a
interpretação de genomas, bibliotecas de genes reunidas no núcleo
de cada célula.
O chip de DNA permite detectar
quais genes estão sendo mais solicitados num organismo e, mais
que isso, medir essa atividade.
Cada gene conhecido do organismo -no caso da pesquisa de
Wisconsin foram 6.347 genes de
camundongo, entre 5% e 10% do
total da espécie- é colocado em
um lugar determinado no arranjo, 20 cópias para cada um. Quando o material genético extraído
do animal entra em contato com a
placa, "gruda" naqueles pontos
que contêm a mesma sequência,
deixando uma marca.
Funciona como um gabarito de
prova. Um laser faz a leitura, identificando quais locais e quantas
cópias foram ativados.
O material genético posto sobre
a placa é RNA, ácido ribonucléico. Ele tem a função de levar a informação dos genes (DNA) para
os setores da célula que fabricam
as proteínas necessárias ao organismo. Muitas cópias de uma dada sequência de RNA são um sinal de que o gene e a proteína correspondentes estão em alta.
Poluentes químicos
O time de Wisconsin comparou
RNA de cobaias com 5 e 30 meses.
Mostrou que nas mais velhas há
intensa produção de proteínas relacionadas à poluição química gerada pelo próprio funcionamento
do organismo. São poluentes como radicais livres, que danificam
células e genes -a agressão contínua a que se referiu Prolla.
A célula passa a funcionar imperfeitamente, o que reduz a disponibilidade de energia. A técnica
do "DNA array" revelou que são
muito menos exigidos nos ratinhos de meia-idade aqueles genes
envolvidos na geração de energia.
Prolla e Weindruch não estacionaram aí. Compararam também
camundongos de 30 meses submetidos a dieta normal e a outra
de baixas calorias (24% a menos).
Descobriram que o regime é capaz de suspender inteiramente
um terço do padrão de ativação/
desativação de genes associado
com envelhecimento (além de suprimir parcialmente outro terço).
No centro de tudo parece estar o
processamento de proteínas.
Quanto mais proteína se ingere,
mais poluição química, que por
sua vez danifica outras proteínas.
Com o acelerado envelhecimento da população, que não é
mais prerrogativa de países ricos,
essas descobertas interessam ao
filão de mercado voltado para a
qualidade de vida de idosos. Tanto é que Prolla e Weindruch já encaminharam pedido de patente
para o uso dos chips de DNA na
pesquisa da velhice.
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