São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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Rios foram essenciais para descobertas

do enviado especial ao Rio

A definição dos limites entre o Brasil e os países de fala espanhola do continente também é um tema de história naval. O motivo é simples: a penetração pelo interior da América do Sul dependia dos rios. Algumas dessas esquecidas -ou pouco conhecidas- expedições foram tema do simpósio, na ilha Fiscal, no Rio de Janeiro.
Foi o caso dos trabalhos do explorador espanhol Francisco Requena, que passou um quarto de século na Amazônia, "demarcando os limites das possessões portuguesas e espanholas, deixando relações, mapas e aquarelas de suas incríveis expedições", segundo o pesquisador Eric Beerman. Em 1782, ele se aventurou pelo rio Japurá, continuando a expedição até o atual território da Colômbia.
Igualmente importante foi a expedição de José Gonçalves da Fonseca ao rio da Madeira, em 1749-1750, tema do português André Ferrand de Almeida, do Instituto Universitário Europeu, de Florença. Essa expedição, diz ele, "corresponde a um período decisivo no reconhecimento e na definição do território brasileiro".
A rota pelo rio da Madeira tinha valor estratégico para a coroa portuguesa, pois havia receio de que por ela se extraviasse o ouro das minas de Mato Grosso e que se fizessem comunicações potencialmente perigosas com os domínios espanhóis.
Para os portugueses e espanhóis, desbravar esses rios foi o passo seguinte à investigação da costa da América. "Os grandes rios tiveram assim um papel decisivo nos descobrimentos", diz o brasileiro Plinio Freire Gomes, também do Instituto Universitário Europeu.
O Amazonas e o Prata, principalmente, se tornaram alvo de uma "mito-geografia" -fantasias como "florestas de especiarias, índios bigodudos, manufaturas de louça preciosa, cortes riquíssimas, tribos de viragos e, é claro, o El Dorado", diz Plinio.
Era um momento de rápido avanço na geografia. No começo do século 16 houve uma redefinição da representação da relação entre continentes e oceanos nos mapas, até então baseada no modelo cosmográfico ptolomaico, "que postulava que todas as águas do planeta estavam, em última instância, rodeadas por terra", segundo o pesquisador espanhol Francesc Relaño, da Universidade de Lleida.
A viagem de circunavegação iniciada pelo navegador português Fernão de Magalhães, a serviço da Espanha, foi peça fundamental na redefinição desse modelo, já que ela teria sido impossível em um planeta rodeado de terra. (RBN)


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