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CIÊNCIA
Simpósio discute como pequenos fatos mudam o rumo das nações
Detalhes fundamentais
RICARDO BONALUME NETO
enviado especial ao Rio
Uma conferência com um tema
especializado, o 5� Simpósio de
História Marítima e Naval Ibero-Americana, no Rio de Janeiro, revelou como o destino dos países
pode, em dados momentos, depender de detalhes -sejam eles o
direcionamento dos ventos e das
correntes marítimas, os avanços
tecnológicos ou mesmo uma concepção cosmográfica da distribuição de terras e mares pelo planeta.
Um "detalhe" que teve influência importante na história da Austrália foi relatado pelo pesquisador Robert J. King, de Canberra.
A colonização da Austrália foi
iniciada pelos britânicos com
uma frota que ali aportou em
1788, trazendo os primeiros povoadores europeus da ilha. Uma
das escalas dessa épica viagem de
vários meses foi o Rio de Janeiro,
em agosto de 1787.
Para sorte dos futuros australianos, o comandante da frota, Arthur Phillip, tinha antes servido
como "capitão de nau" na esquadra portuguesa em operações
contra os espanhóis, de 1775 a
1778, no sul do Brasil e na região
do Rio da Prata.
A amizade de Phillip com as autoridades coloniais portuguesas
bastou para que ele e sua frota tivessem uma calorosa acolhida no
Rio -algo que não era regra antes da abertura dos portos, em
1808-, recebendo suprimentos
que foram vitais para o sucesso da
nova colônia britânica.
Phillip participara da defesa do
posto avançado português no rio
da Prata, a colônia de Sacramento, fundada em 1680 e que se tornou o principal ponto de discórdia entre Portugal e Espanha durante a maior parte do século 18.
A rivalidade Portugal-Espanha
na disputa do mundo foi um tema
típico de um simpósio "ibero-americano". Por exemplo, a palestra do pesquisador Adolfo
Kunsch, da Academia Uruguaia
de História Marítima e Fluvial, era
sobre uma fracassada tentativa
naval anglo-portuguesa de recuperar Sacramento em 1763.
O "detalhe" importante foi a
vulnerabilidade das naus ao atacar as fortificações de Sacramento. Em geral, fortes são feitos de
pedra e não pegam fogo se atacados com balas esféricas de ferro.
Já navios de madeira, com velas
de lona e carregando grande
quantidade de pólvora, são altamente inflamáveis.
A rivalidade luso-espanhola
também tinha como fronteira o
Extremo Oriente. "A conquista
espanhola das Filipinas, em 1565,
deu à Espanha uma posição estratégica vantajosa, invejável", diz a
pesquisadora portuguesa Isabel
Augusta Tavares Mourão, do Instituto Além Mar.
O século 16 foi o auge do império português no Oriente, graças a
um "detalhe" crucial: a presença
do brilhante estrategista Afonso
de Albuquerque nos primeiros
anos da expansão, de 1510 a 1515.
A política expansionista liderada por ele, lembrou o pesquisador
português Vitor Luís Gaspar Rodrigues, do Instituto de Investigação Científica Tropical, "conduziu à duplicação da área ocupada
pelo Estado da Índia" e, por consequência, "a um grande desenvolvimento das suas forças navais
aí estacionadas".
O jornalista Ricardo Bonalume Neto esteve
no Rio como conferencista convidado pela
Marinha.
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