São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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CIÊNCIA
Simpósio discute como pequenos fatos mudam o rumo das nações
Detalhes fundamentais

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial ao Rio

Uma conferência com um tema especializado, o 5� Simpósio de História Marítima e Naval Ibero-Americana, no Rio de Janeiro, revelou como o destino dos países pode, em dados momentos, depender de detalhes -sejam eles o direcionamento dos ventos e das correntes marítimas, os avanços tecnológicos ou mesmo uma concepção cosmográfica da distribuição de terras e mares pelo planeta.
Um "detalhe" que teve influência importante na história da Austrália foi relatado pelo pesquisador Robert J. King, de Canberra.
A colonização da Austrália foi iniciada pelos britânicos com uma frota que ali aportou em 1788, trazendo os primeiros povoadores europeus da ilha. Uma das escalas dessa épica viagem de vários meses foi o Rio de Janeiro, em agosto de 1787.
Para sorte dos futuros australianos, o comandante da frota, Arthur Phillip, tinha antes servido como "capitão de nau" na esquadra portuguesa em operações contra os espanhóis, de 1775 a 1778, no sul do Brasil e na região do Rio da Prata.
A amizade de Phillip com as autoridades coloniais portuguesas bastou para que ele e sua frota tivessem uma calorosa acolhida no Rio -algo que não era regra antes da abertura dos portos, em 1808-, recebendo suprimentos que foram vitais para o sucesso da nova colônia britânica.
Phillip participara da defesa do posto avançado português no rio da Prata, a colônia de Sacramento, fundada em 1680 e que se tornou o principal ponto de discórdia entre Portugal e Espanha durante a maior parte do século 18.
A rivalidade Portugal-Espanha na disputa do mundo foi um tema típico de um simpósio "ibero-americano". Por exemplo, a palestra do pesquisador Adolfo Kunsch, da Academia Uruguaia de História Marítima e Fluvial, era sobre uma fracassada tentativa naval anglo-portuguesa de recuperar Sacramento em 1763.
O "detalhe" importante foi a vulnerabilidade das naus ao atacar as fortificações de Sacramento. Em geral, fortes são feitos de pedra e não pegam fogo se atacados com balas esféricas de ferro. Já navios de madeira, com velas de lona e carregando grande quantidade de pólvora, são altamente inflamáveis.
A rivalidade luso-espanhola também tinha como fronteira o Extremo Oriente. "A conquista espanhola das Filipinas, em 1565, deu à Espanha uma posição estratégica vantajosa, invejável", diz a pesquisadora portuguesa Isabel Augusta Tavares Mourão, do Instituto Além Mar.
O século 16 foi o auge do império português no Oriente, graças a um "detalhe" crucial: a presença do brilhante estrategista Afonso de Albuquerque nos primeiros anos da expansão, de 1510 a 1515.
A política expansionista liderada por ele, lembrou o pesquisador português Vitor Luís Gaspar Rodrigues, do Instituto de Investigação Científica Tropical, "conduziu à duplicação da área ocupada pelo Estado da Índia" e, por consequência, "a um grande desenvolvimento das suas forças navais aí estacionadas".


O jornalista Ricardo Bonalume Neto esteve no Rio como conferencista convidado pela Marinha.



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