|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENERGIA NUCLEAR
Suspensão de créditos para a exportação decorre da desativação de 19 centrais e poderá afetar Angra-3
Alemanha já dificulta a venda de usinas
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA
O governo alemão vai suspender os créditos às exportações de
tecnologia nuclear, o que ameaça
a consolidação do programa de
energia atômica do Brasil. Com o
corte, a construção da usina de
Angra-3 pode ficar mais difícil de
sair do papel.
A suspensão dos créditos, pelos
quais o governo alemão bancava
os riscos das exportações de empresas atômicas, foi aprovada pelo Bundestag, o Parlamento do
país, e deverá ser adotada pelos
ministérios. "É uma decisão de
governo", disse à Folha a deputada Angelika Köster-Lossak, do
partido Aliança 90/Os Verdes.
"Mudamos as nossas linhas-mestras de concessão de crédito,
de modo a incluir questões como
desenvolvimento sustentável e
proteção ambiental, e decidimos
que a tecnologia nuclear não deverá mais ser exportada", disse.
Com a nova política, a empresa
alemã Siemens, que fabricou os
reatores das usinas Angra-2 e Angra-3, não poderá mais recorrer
às facilidades estatais para exportar os equipamentos para as plantas atômicas brasileiras.
O sistema de crédito a exportações é uma espécie de aval do Estado aos investimentos das empresas alemãs no exterior. Se a
Siemens, por exemplo, tem um
plano para montar uma usina no
Brasil, ela submete a proposta ao
governo e uma comissão interministerial decide se banca uma garantia contra riscos do projeto.
A retirada do apoio estatal não
significa, porém, a proibição da
venda de tecnologia nuclear ao
exterior. No entanto, segundo
Köster-Lossak, "agora elas [as
empresas" terão de buscar garantias próprias, junto a bancos, por
exemplo. Mas não sei que banco
financiaria esse risco."
Sem notificação
O governo brasileiro não foi notificado ainda da decisão. Mas, segundo a deputada verde, o recado
de que não haveria apoio alemão
a Angra-3 já havia sido dado no
ano passado, quando o presidente
Fernando Henrique Cardoso visitou a Alemanha.
A suspensão faz parte do plano
de banir o uso da energia nuclear
no país até 2021. Um acordo entre
a coalizão governista e as empresas energéticas produziu um
acordo que determina o desligamento das 19 usinas atômicas em
funcionamento. A primeira delas,
em Obrigheim (Baden-Württemberg), será desativada até 2002.
O acordo deverá ser aprovado
como lei ainda este ano. Ele determina o tempo de vida útil de um
reator nuclear no país em 32 anos
e fixa datas para o desligamento
das usinas. Se uma empresa optar
por desligar um reator antigo antes do previsto, pode usar esse
tempo para prolongar o funcionamento de um reator mais novo.
O jornalista Claudio Angelo viajou à
Alemanha a convite do governo alemão
(Instituto Goethe/InterNationes)
Texto Anterior: Periscópio - José Reis: Prevenção química do câncer Próximo Texto: Brasil ainda não se definiu sobre Angra-3 Índice
|