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Periscópio
Prevenção química do câncer
José Reis
especial para a Folha
Em "Science" (vol. 259, pág. 633),
Brian E. Henderson e colaboradores
escreveram sobre a quimioprevenção
hormonal do câncer feminino. As estatísticas mostram que o uso de anticoncepcionais orais durante os últimos 30
anos acarretou grande declínio na incidência dos cânceres de ovário e endométrio (revestimento interno do útero), fato
que era previsível. Embora não haja registro de ação semelhante sobre o câncer
mamário, é possível desenvolver alternativas que protejam contra os três tipos de
tumor. Já está em andamento um ensaio
clínico para verificar essa possibilidade.
Além disso, outros agentes quimiopreventivos, como o tamoxifen, estão em
ativo estudo para esse fim.
Nos Estados Unidos, mais de 20% dos
novos cânceres relacionados com hormônios ocorrem em homens. Em mulheres, esse índice chega a 40%. Como os
hormônios endógenos afetam diretamente o risco desses tumores, a ministração de anti-hormônios, que reduzem
o teor de divisão do tecido importante
em cada caso, passou a ser intensamente
focalizada nas pesquisas de prevenção
do câncer. Entre eles estão os anticoncepcionais orais, os agentes estimuladores dos hormônios hipofisários que libertam gonadotrofina (substância que
age sobre os órgãos reprodutores), os
progestonais (produtos sintéticos semelhantes à progesterona, o hormônio da
reprodução), o tamoxifen e o finasteride,
que age no câncer da próstata.
Está muito bem documentada a ação
preventiva dos anticoncepcionais orais
sobre o câncer do endométrio. Há redução de cerca de 11,7% no risco desse câncer. A proteção dura pelo menos 15 anos
após a cessação do anticoncepcional.
O principal determinante do risco do
câncer ovariano é a parição, cujo aumento decresce o risco do câncer. A explicação está associada à ovulação, pois o aumento do risco do câncer ovariano cresce em cada ovulação. E isso porque é no
tecido em que o câncer se desenvolve
que ocorre o impulso reparador da superfície ovariana lesada pela expulsão do
óvulo. Dados indicam que o desenvolvimento dos folículos em que se formam
os óvulos e que se rompem para a libertação desses é o principal determinante
do câncer ovariano.
As pesquisas sobre o uso da pílula e o
câncer mamário têm resultados confusos, mas de um modo geral é possível
afirmar que as preparações comuns que
reúnem estrogênio e progestogênio não
protegem contra esse tipo de tumor. Tais
misturas são planejadas para atingir dois
objetivos bem definidos e relacionados:
evitar a gravidez pela suspensão da ovulação e contrabalançar os efeitos da baixa
do teor de estrogênio no sangue causada
pela inação do ovário.
Alternativa útil nesses casos é representada pela ministração de estimuladores do hormônio liberador da gonadotrofina. Calcula-se que esse regime poderá reduzir o risco do câncer mamário em
31% quando usado por cinco anos, em
47% quando usado por dez anos e 70%
quando por 15 anos.
O tamoxifen tem sido precioso adjuvante no tratamento do câncer mamário.
Está provado que em muitos casos ele
previne o aparecimento do tumor na outra mama. Acha-se atualmente em andamento nos Estados Unidos um ensaio de
quimioprevenção pelo tamoxifen em
mulheres com elevado risco de câncer
mamário. Henderson e colaboradores
avaliam que a droga fará desaparecer a
lenta e continuada ascensão da incidência de câncer após os 50 anos.
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