São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Pesquisa reconstrói fera do mar primordial

Parente dos crustáceos de 540 milhões de anos foi o primeiro superpredador

Equipe internacional usou fósseis desenterrados há quase um século no Canadá para recriar anatomia do "monstro" de 20 centímetros

"Science"/AAAS
Ilustração mostra como deveria ter sido em vida o predador marinho do Cambriano

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A paciente montagem de um quebra-cabeças de centenas de peças revelou agora a inusitada, inédita e exclusiva forma de um dos mais antigos e ferozes predadores do mar.
Vasculhando centenas de fósseis, tanto achados recentemente quanto engavetados em museus, a equipe de pesquisadores pôde recriar a bizarra anatomia da Hurdia victoria.
A espécie viveu entre 540 milhões e 500 milhões de anos atrás, no Período Cambriano. Ele pertence ao grupo dos anomalocarídeos, animais que estão entre os ancestrais dos artrópodes, o filo biológico que inclui aranhas e crustáceos.
O estudo foi feito por Allison Daley, da Universidade de Uppsala, Suécia, com colegas do Canadá e Reino Unido, e está publicado na edição de hoje da revista "Science". Esses animais extintos têm bocas redondas cheias de dentes, garras na cabeça e o corpo segmentado.
A Hurdia tem uma característica só dela: uma carapaça frontal dividida em três partes, cuja função ainda não está clara para os cientistas.
A carapaça frontal, segundo Daley, é algo que nunca foi observado antes em outro animal. "Em muitos animais, uma concha ou carapaça é usada para proteger as partes moles do corpo, como em um caranguejo ou camarão, mas essa estrutura na Hurdia é vazia e não cobre ou protege o resto do corpo."
O corpo do bicho é em boa parte coberto por guelras. Os pesquisadores assumem que elas seriam necessárias para uma respiração mais eficiente, pois o animal precisaria de bastante oxigênio por ser tão ativo.
O nome Anomalocaris significa justamente "camarão estranho". Apesar da forma exótica, eles eram os mais ferozes predadores existentes, o equivalente no Cambriano do tiranossauro. Os maiores anomalocarídeos podiam chegar a 2 metros de comprimento. A Hurdia chegava no máximo a 20 cm -tamanho respeitável para a fauna da época.
As "peças" do quebra-cabeças estavam não só dispersas, como classificadas de modo errado. Pedaços de Hurdia chegaram mesmo a ser identificados como oito outros animais distintos -como medusas, pepinos-do-mar ou crustáceos.
A Hurdia é o mais comum anomalocarídeo do Folhelho Burgess, formação geológica no Canadá famosa por seus fósseis cambrianos espetaculares. Fósseis de Hurdia foram achados também nos EUA, na República Tcheca e talvez na China. Essa disseminação indicaria boa capacidade de adaptação a ambientes marinhos.


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