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BIOTECNOLOGIA
Inseto modificado geneticamente passou a produzir uma proteína de interesse farmacêutico no seu casulo
Bicho-da-seda vira "biofábrica" no Japão
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas japoneses desenvolveram um bicho-da-seda transgênico para ser usado não na indústria têxtil, mas na farmacêutica. O
inseto foi modificado para produzir uma substância com várias
aplicações em medicina e na indústria de cosméticos, o colágeno.
Com isso, os bichos-da-seda
passam a ser importantes potenciais fábricas de proteínas. A pesquisa tem relevância também para o Brasil, o quarto maior produtor mundial de seda -em primeiro lugar está a China, onde se
inventou essa agroindústria, há
milhares de anos. O Paraná é o
principal estado produtor, e o
maior mercado importador da seda brasileira é o Japão.
Não é a primeira vez que um organismo sofre transformação por
engenharia genética para produzir colágeno, mas o bicho-da-seda
é o que maior potencial tem para
rapidamente chegar a uma escala
industrial de produção. Colágeno
também já foi produzido no leite
de camundongos e em plantas de
tabaco transgênicos.
O colágeno é uma proteína fundamental para as fibras de tecido
e estruturas do corpo, como pele,
osso, cartilagem e tendões.
A pesquisa foi feita por Katsutoshi Yoshizato, da Universidade
de Hiroshima, e mais nove colegas. O artigo científico descrevendo a técnica será publicado na
edição de janeiro da revista especializada "Nature Biotechnology", mas passa a estar disponível hoje na internet (www.nature.com/naturebiotechnology).
Hiroshima, cidade que foi alvo
de uma bomba atômica, patrocina um programa de regeneração
de tecidos do corpo onde vários
dos autores da pesquisa trabalham. O colágeno é muito usado
para isso, mas sua principal fonte
hoje, a pele de vacas, "traz grande
risco de contaminação e pode
causar reações alérgicas", segundo os autores da pesquisa.
O bicho-da-seda (Bombyx mori) é um inseto que, na forma de
lagarta (a larva de uma borboleta)
se alimenta de folhas, principalmente da amoreira.
Quando atinge cerca de cinco
centímetros de comprimento, ele
começa a formar um casulo, feito
por fios de seda "cuspidos" por
uma glândula abaixo da boca.
Depois de cerca de três semanas,
nasce uma borboleta do casulo.
Os bichos-da-seda transgênicos
não param de produzir seda, mas
passam a incorporar o colágeno
nos fios que formam os casulos.
Os pesquisadores tiveram depois
de purificar o colágeno.
Os cientistas inseriram em embriões de bichos-da-seda genes
não só para a produção de um tipo de colágeno humano, mas
também de uma proteína fluorescente. Com isso foi possível literalmente enxergar se a "exportação" dos genes tinha dado certo.
Algumas das borboletas tinham
olhos vermelhos, que brilhavam
mesmo à luz do dia.
Os pesquisadores comentam
que as glândulas de produção de
seda são altamente eficientes -o
conteúdo de proteína de um casulo passa de 95%.
"É uma suposição razoável que
outras proteínas expressas [ativadas" nesse sistema por transgênese, como descrito no presente estudo, possam atingir quantidades
de produção próximas da da seda", dizem os pesquisadores.
Uma outra proteína humana
útil seria a albumina, que, ainda
segundo o grupo de Yoshizato,
"eliminaria alguns dos riscos
reais ou imaginados associados
com produtos derivados de tecido humano".
A equipe calcula que seria possível produzir 5 kg de colágeno
por ano em uma instalação de
apenas 300 metros quadrados e
cinco trabalhadores cuidando de
1,5 milhão de insetos. Os 5 kg de
colágeno seriam retirados do total de cerca de 600 kg de casulos.
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