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AMBIENTE
Participantes de conferência internacional na Malásia acusam meios de comunicação de saturar público com tragédias
Imprensa ambiental exagera, diz encontro
REINALDO JOSÉ LOPES
ENVIADO ESPECIAL A KUCHING (MALÁSIA)
Um encontro internacional sobre a relação entre imprensa e
ambiente terminou na última sexta-feira com um alvo improvável:
a própria imprensa. Na primeira
edição da Imes (Cúpula Internacional de Mídia e Ambiente), na
Malásia, os meios de comunicação foram acusados de saturar o
público com catástrofes.
As críticas começaram já na
abertura da Imes, num hotel de
Kuching, que fica na ilha de Bornéu e é capital do Estado malaio
de Sarawak. O secretário-geral da
Associação das Nações do Sudeste Asiático, Ong Keng Yong, afirmou que a falta de contextualização do noticiário ambiental e a
concentração em grandes desastres, rapidamente esquecidos, faz
com que o público acabe desconfiando da relevância e realidade
do que é mostrado.
Yong citou o exemplo do tsunami de dezembro passado -segundo ele, apesar do desastre e da
perda de vidas, poucos jornais
mencionaram o fato de que os
países que haviam conservado
seus manguezais tiveram suas
perdas minimizadas.
O geneticista e divulgador de
ciência canadense David Suzuki,
por sua vez, afirmou que hoje a
imprensa "é parte do problema",
graças ao excesso de superficialidade e imediatismo que, segundo
ele, caracteriza seu comportamento. "A mídia consegue prestar atenção às coisas pelo mesmo
tempo que um beija-flor", debochou, ao fazer comentários após a
fala de Yong.
Também sobraram críticas para
a necessidade da imprensa de tratar fatos como certezas absolutas
-algo que, quando se leva em
conta o conteúdo científico dos
estudos ambientais e a incerteza
inerente a eles, é impraticável. O
exemplo do aquecimento global
-os cientistas não têm dúvida
sobre a relação de causa e efeito
entre a ação humana e o fenômeno, mas não sabem quanto nem
em quanto tempo o planeta vai
esquentar- foi citado.
A reação mais extrema contra o
comportamento da imprensa, no
entanto, veio dos próprios anfitriões, representados pelo ministro-chefe de Sarawak, Pehin Sri
Abdul Taib Mahmud. Para ele,
Sarawak (pronuncia-se "sarauá")
é vítima de uma "campanha de
difamação" estimulada por ONGs
do Primeiro Mundo e "jornalistas
de escritório".
Mahmud afirmou que a "publicidade adversa" gerada por esses
grupos era composta de "fatos infundados e mentiras deslavadas".
Ele citou o caso de um relatório
segundo o qual orangotangos estavam sendo mortos para abrir
espaço a plantações de palmeira.
"Ora, essas áreas eram floresta secundária, e se sabe muito bem
que os orangotangos só vivem em
matas primárias", defendeu-se.
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