Campinas, Domingo, 21 de Novembro de 1999

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CPI DO NARCOTRÁFICO
Durante uma semana, campineiros fazem torcida e ficam mobilizados diante da TV
Campinas vive clima de Copa do Mundo durante as investigações

Frâncio de Hollanda/ Folha Imagem
Câmeras de TV enfileiradas na cobertura da CPI do Narcotráfico, instalada o Fórum de Campinas durante uma semana


do enviado especial

e da Folha Campinas

Desde sexta-feira da semana passada, quando um grupo de deputados federais "desfilou" em Campinas escoltado por carros da Polícia Federal com suas sirenes e metralhadoras ostensivas, a CPI do Narcotráfico catalisa as atenções na cidade.
Donos de bares e restaurantes do centro instalaram, em caráter excepcional, aparelhos de televisão que transmitem ao vivo todos os depoimentos, atraem pequenas multidões e provocam torcidas, palmas e expressões de espanto nos lances mais emocionantes.
O fenômeno só tem precedente a cada quatro anos, na Copa do Mundo.
Pessoas como Beto Zini, Jorge Meres, Robson Tuma, Badan Palhares, Alexandre Negrão, investigador Lazinho, Pompeo de Mattos, Roberto Mingone, Moroni Torgan, Artur Eugênio Mathias, Ricardo de Lima e William Sozza foram transformadas em personagens e divididas entre mocinhos e bandidos, embora, até agora, ninguém tenha sido condenado pela Justiça pelos crimes que a CPI investiga.
Na frente do Fórum, uma multidão diferente da que geralmente se aglomera no local conhecido como "praça dos desempregados" para conferir as ofertas de trabalho, espera pacientemente por uma oportunidade para entrar no tribunal do júri, local dos depoimentos.
No plenário, pedidos de prisão e debates ásperos dividem a "torcida". Um exemplo foi a discussão entre os deputados Robson Tuma (PFL-SP), Laura Carneiro (PFL-RJ) e o empresário e piloto Alexandre Negrão, quarta-feira.
"O senhor me respeite", gritou Tuma.
"Me respeite o senhor também", retrucou Negrão, no mesmo tom de voz.
Laura intercedeu em favor do deputado e ouviu de Negrão: "abaixe a bola". Foi a senha para Tuma pedir a prisão do piloto, típico representante da elite campineira, por desacato.
A "platéia" reagiu no ato. Enquanto muitos aplaudiam o deputado, outros apelavam ao presidente da CPI, Magno Malta (PTB-ES), para que Negrão não fosse preso, aos gritos de "pela legalidade, presidente".
No final, o piloto teve mais sorte do que o advogado Artur Eugênio Mathias e o delegado Ricardo de Lima, que saíram algemados do plenário sob aplausos.
Também não faltaram as gafes e cenas de comédia durante as investigações da CPI.
Ainda na quarta-feira, Tuma, ovacionado pela multidão em frente ao Fórum, foi lançado candidato a presidente. Pouco depois, passou por uma situação curiosa quando uma mulher o abordou berrando: "doutor Badan, doutor Badan, o senhor é nossa esperança". "Por favor, não me confunda com esse homem" respondeu o deputado.
Sexta-feira, o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), interrompeu um depoimento para divulgar o CD de música gospel lançado pelo ex-jogador de futebol Jacozinho.
"O disco é muito bom e, inclusive, recomendo que todos ouçam", disse Mattos.
A transmissão ao vivo pela TV fez com que alguns deputados se comportassem como se estivessem em tradicionais programas de auditório.
"Digo isso às pessoas que nos assistem pela TV", afirmou Celso Russomano (PPB-SP).
(RICARDO GALHARDO, enviado especial a Campinas, MAURÍCIO SIMIONATO, da Folha Campinas, ANA PAULA SCINOCCA e RICARDO BRANDT, free-lance para a Folha Campinas)

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