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Relatório preliminar da CPI do Narcotráfico
deve apontar envolvimento de cem na região
MAURÍCIO SIMIONATO
da Folha Campinas
O relatório preliminar da CPI
do Narcotráfico em Campinas deve apontar o envolvimento de pelo menos cem pessoas na cidade e
região com o crime organizado.
Os envolvidos são, em sua
maioria, empresários, policiais e
políticos de Campinas. Os nomes
não foram revelados.
Em todo o Estado, cerca de 500
nomes teriam participação na
quadrilha especializada em roubos de cargas, tráfico de drogas e
lavagem de dinheiro.
A informação é do sub-relator
da CPI em Campinas deputado
federal Pompeo de Mattos (PDT-RS), que antecipou o relatório para a Folha.
Os deputados admitem que os
trabalhos da CPI não serão suficientes para acabar com o crime
organizado.
"A CPI foi surpreendida com a
complexidade do crime organizado em Campinas. Apenas estouramos uma dinamite na boca da
mina", afirmou o sub-relator.
O documento, que será concluído entre 20 e 30 dias, também
aponta que foram quebrados sigilos bancário, fiscal e telefônico de
cerca de 50 pessoas na região,
além dos resultados de cem diligências realizadas pela Polícia Federal em duas semanas.
"Nossa única preocupação é
com o vácuo que a CPI vai deixar
na cidade após a sua saída. Vamos
cobrar do governo do Estado uma
investigação mais efetiva", disse
Mattos.
Roteiro
O relatório vai indicar que Campinas tem o roteiro completo do
crime organizado: roubos de cargas, carros e caminhões, narcotráfico, lavagem de dinheiro e a
inserção de "dinheiro sujo" na
atividade pública para corromper
instituições.
A participação da população
nas denúncias chamou a atenção
dos parlamentares.
Foram cerca de mil ligações telefônicas pelo 0800-619619 em
uma semana.
Para a CPI, Campinas concentra o alto grau da organização.
"Campinas é o cérebro da organização. Até agora foi o local mais
difícil por onde a CPI passou",
afirmou o sub-relator.
O presidente da CPI, deputado
federal Magno Malta (PDT-ES),
disse ter informações de que o
principal chefe da quadrilha, o
empresário campineiro William
Walder Sozza, deve se entregar à
comissão nos próximos dias. O
mandado de prisão de Sozza foi
expedido pela Justiça do Maranhão em 14 de outubro.
"Temos indícios de que ele está
pretendendo se entregar à CPI.
Não há outra saída para ele", afirmou o presidente da CPI do Narcotráfico.
Nas investigações, a CPI chegou
a concluir que Sozza pode não ser
o chefe máximo da quadrilha.
"Tem gente muito maior do que o
Sozza dentro dessa quadrilha",
disse o deputado Robson Tuma
(PFL-SP), que também é sub-relator da CPI do Narcotráfico em
Campinas.
A Polícia Federal vai continuar
as investigações sobre a quadrilha
em Campinas e na região.
Estados
Até agora a CPI já passou por
cinco Estados: Acre, Maranhão,
Mato Grosso, Rio de Janeiro e São
Paulo.
Já foram cassados os deputados
Hildebrando Paschoal (AC, sem
partido) e o deputado estadual José Gerardo de Abreu (PPB-MA).
Os próximos pontos de investigações da CPI estão no Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Suriname, "polígono da maconha"
(região no norte de Pernambuco),
Espírito Santo, Alagoas, Piauí e
Ribeirão Preto (SP).
Lavagem
A lavagem de dinheiro foi considerada pela CPI como um dos crimes da quadrilha que renderam
menos avanços nas investigações.
"A lavagem de dinheiro é a parte mais difícil nas investigações.
Campinas é um dos centros nacionais de lavagem de dinheiro.
Para se ter uma idéia, é como se o
novelo da lavagem tivesse dez
quilômetros e nós só descobrimos cinco centímetros", afirmou
Mattos.
Dossiê
A CPI investiga um dossiê, encaminhado anonimamente, que
indica todo o suposto esquema
bilionário de lavagem de dinheiro
do narcotráfico e do crime organizado em 13 Estados e oito países, incluindo o Brasil.
O dossiê contém uma relação de
nomes de instituições financeiras,
empresas, extratos bancários,
empresários e políticos.
As informações do dossiê ainda
estão sendo verificadas pelos deputados.
O dossiê relaciona o esquema
do tráfico internacional de drogas
e armas com ramificações em
máfias internacionais.
A CPI investiga a possibilidade
de o cérebro financeiro da quadrilha ser um homem conhecido como Maurício Radice, que utilizaria pelo menos outras quatro
identidades falsas.
Segundo o dossiê, ele circularia
nos principais centros financeiros
do mundo.
Maurício se tornou um dos homens mais procurados pela CPI
do Narcotráfico.
Ele também seria responsável
pela montagem de todo o esquema de lavagem de dinheiro do
empresário Paulo César Farias,
ex-tesoureiro do ex-presidente
Fernando Collor de Mello, morto
em 96.
Com a morte de PC Farias, Radice teria herdado todo o espólio
dessa rede financeira. Casas de
câmbio e outros tipos de instituições financeiras seriam utilizadas
na lavagem de dinheiro.
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