Campinas, Domingo, 21 de Novembro de 1999

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Relatório preliminar da CPI do Narcotráfico deve apontar envolvimento de cem na região

MAURÍCIO SIMIONATO
da Folha Campinas

O relatório preliminar da CPI do Narcotráfico em Campinas deve apontar o envolvimento de pelo menos cem pessoas na cidade e região com o crime organizado.
Os envolvidos são, em sua maioria, empresários, policiais e políticos de Campinas. Os nomes não foram revelados.
Em todo o Estado, cerca de 500 nomes teriam participação na quadrilha especializada em roubos de cargas, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
A informação é do sub-relator da CPI em Campinas deputado federal Pompeo de Mattos (PDT-RS), que antecipou o relatório para a Folha.
Os deputados admitem que os trabalhos da CPI não serão suficientes para acabar com o crime organizado.
"A CPI foi surpreendida com a complexidade do crime organizado em Campinas. Apenas estouramos uma dinamite na boca da mina", afirmou o sub-relator.
O documento, que será concluído entre 20 e 30 dias, também aponta que foram quebrados sigilos bancário, fiscal e telefônico de cerca de 50 pessoas na região, além dos resultados de cem diligências realizadas pela Polícia Federal em duas semanas.
"Nossa única preocupação é com o vácuo que a CPI vai deixar na cidade após a sua saída. Vamos cobrar do governo do Estado uma investigação mais efetiva", disse Mattos.

Roteiro
O relatório vai indicar que Campinas tem o roteiro completo do crime organizado: roubos de cargas, carros e caminhões, narcotráfico, lavagem de dinheiro e a inserção de "dinheiro sujo" na atividade pública para corromper instituições.
A participação da população nas denúncias chamou a atenção dos parlamentares.
Foram cerca de mil ligações telefônicas pelo 0800-619619 em uma semana.
Para a CPI, Campinas concentra o alto grau da organização. "Campinas é o cérebro da organização. Até agora foi o local mais difícil por onde a CPI passou", afirmou o sub-relator.
O presidente da CPI, deputado federal Magno Malta (PDT-ES), disse ter informações de que o principal chefe da quadrilha, o empresário campineiro William Walder Sozza, deve se entregar à comissão nos próximos dias. O mandado de prisão de Sozza foi expedido pela Justiça do Maranhão em 14 de outubro.
"Temos indícios de que ele está pretendendo se entregar à CPI. Não há outra saída para ele", afirmou o presidente da CPI do Narcotráfico.
Nas investigações, a CPI chegou a concluir que Sozza pode não ser o chefe máximo da quadrilha. "Tem gente muito maior do que o Sozza dentro dessa quadrilha", disse o deputado Robson Tuma (PFL-SP), que também é sub-relator da CPI do Narcotráfico em Campinas.
A Polícia Federal vai continuar as investigações sobre a quadrilha em Campinas e na região.

Estados
Até agora a CPI já passou por cinco Estados: Acre, Maranhão, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo.
Já foram cassados os deputados Hildebrando Paschoal (AC, sem partido) e o deputado estadual José Gerardo de Abreu (PPB-MA).
Os próximos pontos de investigações da CPI estão no Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Suriname, "polígono da maconha" (região no norte de Pernambuco), Espírito Santo, Alagoas, Piauí e Ribeirão Preto (SP).

Lavagem
A lavagem de dinheiro foi considerada pela CPI como um dos crimes da quadrilha que renderam menos avanços nas investigações.
"A lavagem de dinheiro é a parte mais difícil nas investigações. Campinas é um dos centros nacionais de lavagem de dinheiro. Para se ter uma idéia, é como se o novelo da lavagem tivesse dez quilômetros e nós só descobrimos cinco centímetros", afirmou Mattos.

Dossiê
A CPI investiga um dossiê, encaminhado anonimamente, que indica todo o suposto esquema bilionário de lavagem de dinheiro do narcotráfico e do crime organizado em 13 Estados e oito países, incluindo o Brasil.
O dossiê contém uma relação de nomes de instituições financeiras, empresas, extratos bancários, empresários e políticos.
As informações do dossiê ainda estão sendo verificadas pelos deputados.
O dossiê relaciona o esquema do tráfico internacional de drogas e armas com ramificações em máfias internacionais.
A CPI investiga a possibilidade de o cérebro financeiro da quadrilha ser um homem conhecido como Maurício Radice, que utilizaria pelo menos outras quatro identidades falsas.
Segundo o dossiê, ele circularia nos principais centros financeiros do mundo.
Maurício se tornou um dos homens mais procurados pela CPI do Narcotráfico.
Ele também seria responsável pela montagem de todo o esquema de lavagem de dinheiro do empresário Paulo César Farias, ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello, morto em 96.
Com a morte de PC Farias, Radice teria herdado todo o espólio dessa rede financeira. Casas de câmbio e outros tipos de instituições financeiras seriam utilizadas na lavagem de dinheiro.


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