Campinas, Domingo, 20 de Maio de 2001

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NO ESCURO 2
Como no início do século passado, as 150 famílias do bairro Três Pontes convivem com a falta de energia há três anos
Bairro de Sumaré vive apagão constante

DA FOLHA CAMPINAS

Os moradores do bairro Três Pontes, na periferia de Sumaré (26 km de Campinas), convivem com um apagão forçado.
As 150 famílias que ocupam o bairro não sabem o que é claridade depois das 18h e vivenciam a falta de energia elétrica há, no mínimo, três anos.
Para terem acesso à luz artificial, os moradores recorrem a mecanismos que remontam o início do século passado.
As casas do Três Pontes são iluminadas com lampiões a gás. A TV e o rádio só funcionam com bateria. Quem se arrisca a manter uma geladeira tem de abastecê-la com barras de gelo para conservar frescos os alimentos.
"Frequentemente, aparecem cobras por aqui", reclama o ajudante de pedreiro Paulo Pereira da Silva, 34.
Para ele, a vida sem energia elétrica é monótona e impõe medo aos moradores do bairro.
"Não dá para sair à noite porque as ruas são totalmente escuras", disse Silva, que se diverte em uma mesa de bilhar sob a luz escassa de um lampião.
A proprietária de um bar na entrada do bairro, que não disse o nome temendo possíveis "retaliações", disse gastar duas cargas de bateria por dia -cerca de R$ 8-, para manter manter o rádio e a TV ligados durante o dia.
O autônomo Osvaldo Olinto de Oliveira, 53, disse que economizou durante um ano para comprar um gerador. Segundo ele, o aparelho foi comprado em sociedade com dois amigos e custou R$ 4.000.
O gerador, no entanto, não lhe garante uma vida normal.
Chuveiro elétrico nem pensar. A água para o banho tem de ser aquecida em um fogão à lenha por sua mulher, Flauzina de Oliveira, 59. "A gente tem de tomar banho de caneca", disse.
A culpa pela falta de energia elétrica é atribuída à administração municipal. "Na época da eleição, o prefeito [Dirceu Dalben] prometeu que se fosse reeleito traria luz para nós", afirmou Oliveira.

Outro lado
A Prefeitura de Sumaré informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a administração não pode levar luz ao local porque a área é do Estado e foi invadida pelos moradores.
A prefeitura informou que já está fazendo gestões com o governo para que a área seja legalizada e possa ser contemplada com as ligações elétricas. A prefeitura informou que ofereceu outras áreas para os moradores do bairro, mas eles não quiseram deixar o local.


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