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Delator nega colaboração antes de ser preso em 71
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
José Anselmo dos Santos, o
Cabo Anselmo, afirmou à Folha que não há prova de que ele
seria um colaborador da ditadura já em 1964. Em entrevista
por telefone, ele conta que virou agente da repressão após
ser preso, em 1971, para não
morrer.
FOLHA - Por que o sr. pede reparação econômica ao governo se atuou
como agente da ditadura?
JOSÉ ANSELMO DOS SANTOS - Porque eu era um prisioneiro, fiquei preso dois anos. Fui instado: ou vai agir assim ou morre.
Preferi viver. Formou-se uma
consciência totalmente diferente do que era o comunismo
internacional e que aquilo tudo
não ia dar em nada.
FOLHA - Arrepende-se da atuação
que diz ter tido no pós-golpe de 64?
ANSELMO - Absolutamente. Eu
era um otário.
FOLHA - Por quê?
ANSELMO - Olha, você está fazendo perguntas que...
FOLHA - Historiadores dizem, como levantou o ministro da Justiça,
que você já era agente em 1964.
ANSELMO - Ele e os historiadores que provem isso. Se [naquele época] eu fosse um sujeito da
repressão, da CIA ou do diabo a
quatro, você acha que estaria
nessa condição que estou hoje?
FOLHA - O sr. tinha noção de que
suas informações levariam várias
pessoas à morte e à tortura?
ANSELMO - Não. À tortura sim,
porque eu mesmo fui torturado. Agora, morte não.
FOLHA - O sr. sente remorso?
ANSELMO - Eu não era da equipe policial. Era um prisioneiro.
FOLHA - O sr. sabia, em 1973, que
suas informações levariam seis pessoas à morte, entre elas sua mulher?
ANSELMO - Não. Eu tinha um
acordo [com o Dops de SP]. O
grupo seria preso e Soledad seria liberada para voltar a Cuba.
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