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FEIRA DE HANNOVER
Embratur faz contrato com agência de publicidade que tem como sócia filha de presidente do PFL
Governo gasta R$ 13,7 mi sem licitação
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem fazer licitação, a Embratur
entregou um contrato de R$ 13,7
milhões para uma agência de publicidade que tem entre seus sócios uma filha do senador Jorge
Bornhausen (SC), presidente do
PFL, partido da base governista.
O contrato refere-se à administração da montagem do pavilhão
brasileiro na Exposição Universal
de Hannover, na Alemanha, que
começa no dia 1� de junho.
A agência chama-se Artplan
Prime. É dirigida por Fernanda
Bornhausen Sá, filha do senador,
e Ricardo Dalcanale Bornhausen,
sobrinho dele.
A Artplan -agência do Rio que
se associou à filha e sobrinho de
Bornhausen para criar a Artplan
Prime- também tem ligações
com o PFL.
Um dos sócios da Artplan é o
deputado federal Rubem Medina
(PFL-RJ).
Foi o PFL que indicou o ex-ministro do Esporte e Turismo Rafael Greca, um dos encarregados
de organizar a participação brasileira em Hannover. Greca deixou
o cargo após as comemorações
dos 500 anos do Brasil, acusado
de uma série de irregularidades
no ministério.
O atual ministro, Carlos Melles,
também foi indicado pelo presidente do PFL.
"Perderam o prazo"
O Ministério do Esporte e Turismo e o Itamaraty, responsáveis
pela participação brasileira em
Hannover, não fizeram licitação
porque "perderam o prazo", segundo o presidente da Embratur,
Caio Luiz de Carvalho.
A "solução legal" encontrada foi
entregar a organização do pavilhão em Hannover para a agência
que faz a publicidade internacional da Embratur.
A Artplan Prime recebeu a tarefa em março.
O contrato de publicidade internacional, assinado em outubro do
ano passado, não cita Hannover.
Fala genericamente em "exposições e eventos (workshops e
roadshows)".
Workshops e "roadshows" são
eventos muito menores do que
uma exposição universal, como a
de Hannover.
Um workshop, por exemplo,
custa de R$ 65 mil a R$ 110 mil,
dependendo do porte.
O presidente da Embratur diz
que o contrato de Hannover foi
imposto à Embratur pelo ex-ministro Greca.
"Eu cumpri ordens porque o
Brasil não poderia dar o vexame
de ficar de fora da Expo 2000 depois de ter gasto dois milhões de
marcos com o aluguel do espaço."
O valor do aluguel equivale a R$
1,75 milhão.
O Ministério do Esporte e Turismo e o Itamaraty começaram a
discutir a participação brasileira
em Hannover em 1998.
Segundo Carvalho, só em fevereiro deste ano os dois ministérios
notaram que não haveria tempo
hábil para fazer licitação de Hannover. O pavilhão brasileiro teria
que começar a ser montado em 1�
de abril e, em 60 dias, seria impossível fazer uma licitação.
Totalmente ilegal
O procurador da República Luiz
Francisco Fernandez de Souza diz
que o contrato da Embratur com
a Artplan Prime é "totalmente ilegal".
"Não tenho dúvidas de que a
Artplan Prime é beneficiária de
uma dispensa ilegal de licitação."
Deveria haver concorrência pública, segundo ele, porque o objeto da licitação vencida pela Artplan Prime no ano passado não
faz referência à exposição universal.
"O objeto do contrato era propaganda internacional. Esse contrato não serve para Hannover",
diz o procurador.
A não-realização da licitação,
afirma Souza, fere o princípio da
competitividade.
"Uma outra empresa poderia
oferecer um preço menor para a
montagem do pavilhão se soubesse que a licitação era para isso",
exemplifica.
A alegada urgência, a justificativa de que o Brasil ficaria de fora
da Expo 2000 se fizesse a licitação,
também não tem base legal, segundo o procurador. "Não se pode alegar urgência quando há
omissão da autoridade. Urgência
só se aplica em fatos imprevisíveis, e Hannover não é um fato
imprevisível."
Souza diz que pretende mover
uma ação para anular o contrato.
O presidente da Embratur diz
saber que o assunto "é polêmico".
Para se precaver, já solicitou ao
Tribunal de Contas da União que
faça uma auditoria nos gastos em
Hannover.
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