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DIPLOMACIA
Chefes de governo de 13 países se reúnem para discutir "Terceira Via", hoje chamada de "Progressive Governance"
FHC vai a Berlim defender "nova utopia"
DO CONSELHO EDITORIAL
O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá defender
mais uma vez nesta semana, perante seus pares de outros 12 países, o que chama de "nova utopia", capaz de "cimentar a coesão
social hoje esgarçada".
Para o presidente brasileiro, a
nova utopia pode ser resumida a
uma única expressão: "radicalização da democracia", que teria
duas características centrais, sempre segundo FHC:
1 - aponta em direção a uma sociedade plural e solidária, que, em
clima de liberdade, se atualiza a
cada dia pelo próprio exercício;
2 - a democracia radicalizada
não extingue os conflitos sociais,
mas "convive e bem com o dissenso, já que privilegia a persuasão, a acomodação permanente e
incansável dos interesses conflitantes".
A exposição de Fernando Henrique se dará em Berlim, nos dias
2 e 3 de junho, durante a segunda
sessão de debates do que antes se
chamava de "Terceira Via" e, agora, está rebatizada para "Progressive Governance" ("forma progressista de governar").
A primeira sessão foi em Florença (Itália), em novembro do
ano passado. Agora, não muda
apenas a cidade, mas também o
formato. Ampliou-se a lista dos
governantes convidados (ver texto abaixo). Em Florença foram
apenas governantes de países ricos, com exceção de FHC.
Agora, serão 13 no total, o que
inviabiliza o esquema anterior,
em que os mandatários participaram de uma sessão aberta durante
a qual foram questionados por
acadêmicos.
Em Berlim, a reunião dos governantes será fechada e, depois dela,
os que quiserem farão seus pronunciamentos individual ou coletivamente.
O que não mudou é o tema. Trata-se de buscar um caminho intermediário entre o que FHC chama de "fundamentalismo de mercado" e o estatismo burocrático.
Ou, como prefere o sociólogo
britânico Anthony Giddens (da
London School of Economics), o
principal ideólogo da "Terceira
Via", "trata-se de criar uma relação equilibrada entre três fatores
fundamentais: Estado, mercado e
sociedade civil".
Para Giddens, "há um papel para um governo ativo, mas não para a excessiva burocracia. Há um
papel para o mercado, mas não
queremos comercializar todos os
aspectos da sociedade. E há um
papel para a sociedade civil que,
no entanto, não pode se tornar
tão predominante que gere um
impasse como o da Irlanda do
Norte" (alusão ao conflito entre
católicos e protestantes nessa região da Grã-Bretanha).
Que ninguém, no entanto, espere do encontro conclusões específicas, uma espécie de bula para
"governos progressistas".
"É um seminário de alto nível de
chefes de governo, mas não é um
foro de decisões ou de negociações ou de apresentação de propostas", diz Eduardo Santos, assessor da Presidência.
A lista de temas que comporão a
pauta de Berlim fica em aberto
mas deve incluir questões como a
reforma do Estado, a chamada
"Nova Economia" (baseada na
Internet), a questão social, com
ênfase para o desemprego ("talvez o assunto mais candente da
agenda globalizada", diz FHC), e a
sociedade da informação.
O governo brasileiro gostaria,
de todo modo, que a cúpula de
Berlim servisse para "um compromisso um pouco mais concreto na área de educação e ciência e
tecnologia", diz o sociólogo Vilmar Faria, assessor especial de
Fernando Henrique.
O presidente brasileiro deverá
reconhecer um avanço e um retrocesso ocorridos na cena internacional desde o encontro anterior em Florença.
O avanço foi a criação do G-20,
um conglomerado de 20 países
desenvolvidos e em desenvolvimento (Brasil incluído) para discutir reformas no sistema financeiro internacional.
O presidente sempre insistiu,
desde a posse para o primeiro
mandato, em que era necessário
reformar o sistema para permitir
"o controle de crises financeiras
provocadas pela fuga desordenada de capitais".
O G-20 ainda não é a reforma do
sistema, mas é um passo para ampliar o elenco de países envolvidos na discussão.
O retrocesso foi o fracasso da
Conferência de Seattle, convocada para lançar a chamada "Rodada do Milênio", novo ciclo de negociações comerciais.
O governo brasileiro insiste há
tempos em que é necessária, como diz FHC, "maior justiça na repartição das oportunidades e benefícios gerados pelo comércio
internacional".
A "Rodada do Milênio" seria a
oportunidade para tentar estabelecer "maior justiça", mas está totalmente empacada.
Antes de participar da reunião
de Berlim, FHC irá a Hannover,
também na Alemanha, para a
inauguração da Expo-2000, a última exposição universal do século.
(CLÓVIS ROSSI)
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