São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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DIPLOMACIA
Chefes de governo de 13 países se reúnem para discutir "Terceira Via", hoje chamada de "Progressive Governance"
FHC vai a Berlim defender "nova utopia"

DO CONSELHO EDITORIAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá defender mais uma vez nesta semana, perante seus pares de outros 12 países, o que chama de "nova utopia", capaz de "cimentar a coesão social hoje esgarçada".
Para o presidente brasileiro, a nova utopia pode ser resumida a uma única expressão: "radicalização da democracia", que teria duas características centrais, sempre segundo FHC:
1 - aponta em direção a uma sociedade plural e solidária, que, em clima de liberdade, se atualiza a cada dia pelo próprio exercício;
2 - a democracia radicalizada não extingue os conflitos sociais, mas "convive e bem com o dissenso, já que privilegia a persuasão, a acomodação permanente e incansável dos interesses conflitantes".
A exposição de Fernando Henrique se dará em Berlim, nos dias 2 e 3 de junho, durante a segunda sessão de debates do que antes se chamava de "Terceira Via" e, agora, está rebatizada para "Progressive Governance" ("forma progressista de governar").
A primeira sessão foi em Florença (Itália), em novembro do ano passado. Agora, não muda apenas a cidade, mas também o formato. Ampliou-se a lista dos governantes convidados (ver texto abaixo). Em Florença foram apenas governantes de países ricos, com exceção de FHC.
Agora, serão 13 no total, o que inviabiliza o esquema anterior, em que os mandatários participaram de uma sessão aberta durante a qual foram questionados por acadêmicos.
Em Berlim, a reunião dos governantes será fechada e, depois dela, os que quiserem farão seus pronunciamentos individual ou coletivamente.
O que não mudou é o tema. Trata-se de buscar um caminho intermediário entre o que FHC chama de "fundamentalismo de mercado" e o estatismo burocrático.
Ou, como prefere o sociólogo britânico Anthony Giddens (da London School of Economics), o principal ideólogo da "Terceira Via", "trata-se de criar uma relação equilibrada entre três fatores fundamentais: Estado, mercado e sociedade civil".
Para Giddens, "há um papel para um governo ativo, mas não para a excessiva burocracia. Há um papel para o mercado, mas não queremos comercializar todos os aspectos da sociedade. E há um papel para a sociedade civil que, no entanto, não pode se tornar tão predominante que gere um impasse como o da Irlanda do Norte" (alusão ao conflito entre católicos e protestantes nessa região da Grã-Bretanha).
Que ninguém, no entanto, espere do encontro conclusões específicas, uma espécie de bula para "governos progressistas".
"É um seminário de alto nível de chefes de governo, mas não é um foro de decisões ou de negociações ou de apresentação de propostas", diz Eduardo Santos, assessor da Presidência.
A lista de temas que comporão a pauta de Berlim fica em aberto mas deve incluir questões como a reforma do Estado, a chamada "Nova Economia" (baseada na Internet), a questão social, com ênfase para o desemprego ("talvez o assunto mais candente da agenda globalizada", diz FHC), e a sociedade da informação.
O governo brasileiro gostaria, de todo modo, que a cúpula de Berlim servisse para "um compromisso um pouco mais concreto na área de educação e ciência e tecnologia", diz o sociólogo Vilmar Faria, assessor especial de Fernando Henrique.
O presidente brasileiro deverá reconhecer um avanço e um retrocesso ocorridos na cena internacional desde o encontro anterior em Florença.
O avanço foi a criação do G-20, um conglomerado de 20 países desenvolvidos e em desenvolvimento (Brasil incluído) para discutir reformas no sistema financeiro internacional.
O presidente sempre insistiu, desde a posse para o primeiro mandato, em que era necessário reformar o sistema para permitir "o controle de crises financeiras provocadas pela fuga desordenada de capitais".
O G-20 ainda não é a reforma do sistema, mas é um passo para ampliar o elenco de países envolvidos na discussão.
O retrocesso foi o fracasso da Conferência de Seattle, convocada para lançar a chamada "Rodada do Milênio", novo ciclo de negociações comerciais.
O governo brasileiro insiste há tempos em que é necessária, como diz FHC, "maior justiça na repartição das oportunidades e benefícios gerados pelo comércio internacional".
A "Rodada do Milênio" seria a oportunidade para tentar estabelecer "maior justiça", mas está totalmente empacada.
Antes de participar da reunião de Berlim, FHC irá a Hannover, também na Alemanha, para a inauguração da Expo-2000, a última exposição universal do século.
(CLÓVIS ROSSI)


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