São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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"Frequentei a escola por 15 dias"

DA AGÊNCIA FOLHA,
EM ARAUÁ E INDIAROBA

Edvaldo da Silva, 15, é um dos cerca de 16 mil jovens trabalhadores do sul de Sergipe que não conseguiram ser inclusos no Peti.
Ficou fora quando tinha 13 anos. O governo federal promete reduzir o déficit de bolsas na região a partir de junho, quando de 9.200 bolsas o Estado passará a ter 20.200 -4.800 bolsas a menos do que o total de jovens em idade escolar que trabalham.
Silva tem o biótipo típico de outros catadores de laranja: baixo, com músculos definidos e com impressões digitais irreconhecíveis pelo manuseio das frutas.
O seu perfil escolar também é bastante comum na região. "Frequentei a escola apenas por uns 15 dias. Não estudei porque não tive chance de gostar de estudar."
A reportagem o localizou na manhã da terça passada trabalhando em uma propriedade do município de Arauá, sob chuva. Ele foi contratado por André Santos, 22, um intermediário entre o produtor e os trabalhadores.
Os produtores da região contratam os ""atravessadores" para evitar ações trabalhistas e se livrar dos encargos sociais e outras penalidades legais previstas em casos de trabalhadores em situação irregular, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Citricultura de Sergipe, Carlos Alberto Gato de Oliveira.
Como a época é de entressafra, os produtores pagam R$ 5 por dia de trabalho, desde que se atenda a exigência de colher, no mínimo, 30 caixas de 30 quilos da fruta.
"Normalmente colho 40 caixas por dia", afirma o garoto, que diz pesar apenas 33 quilos. Os outros três trabalhadores que dividiam a colheita com Edvaldo da Silva também eram menores. "Quem tem mais de 15 anos pode trabalhar normalmente", disse o intermediário. Na fazenda Cauanga, em Indiaroba, de propriedade do desembargador e ex-governador nomeado do Amapá Gilton Garcia, a Agência Folha encontrou entre os adolescentes que colhiam laranja Ivaneide dos Santos, 13.
Ela tem seis irmãos e apenas Sinvaldo, 10, está no programa da bolsa-escola. "Estou trabalhando porque estudo à noite. Sou boa aluna e já estou na 6� série", disse.
Entre os 10 trabalhadores contratados pelo intermediário José Silva Andrade, 6 tinham idade inferior a 18 anos. "O doutor Garcia não sabe que tem menor trabalhando aqui. Isso vai me dar problema", disse o intermediário. O desembargador não foi localizado em Aracaju para comentar. (AC)


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