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"Frequentei a escola por 15 dias"
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM ARAUÁ E INDIAROBA
Edvaldo da Silva, 15, é um dos
cerca de 16 mil jovens trabalhadores do sul de Sergipe que não conseguiram ser inclusos no Peti.
Ficou fora quando tinha 13
anos. O governo federal promete
reduzir o déficit de bolsas na região a partir de junho, quando de
9.200 bolsas o Estado passará a ter
20.200 -4.800 bolsas a menos do
que o total de jovens em idade escolar que trabalham.
Silva tem o biótipo típico de outros catadores de laranja: baixo,
com músculos definidos e com
impressões digitais irreconhecíveis pelo manuseio das frutas.
O seu perfil escolar também é
bastante comum na região. "Frequentei a escola apenas por uns 15
dias. Não estudei porque não tive
chance de gostar de estudar."
A reportagem o localizou na
manhã da terça passada trabalhando em uma propriedade do
município de Arauá, sob chuva.
Ele foi contratado por André Santos, 22, um intermediário entre o
produtor e os trabalhadores.
Os produtores da região contratam os ""atravessadores" para evitar ações trabalhistas e se livrar
dos encargos sociais e outras penalidades legais previstas em casos de trabalhadores em situação
irregular, segundo o presidente
do Sindicato dos Trabalhadores
na Citricultura de Sergipe, Carlos
Alberto Gato de Oliveira.
Como a época é de entressafra,
os produtores pagam R$ 5 por dia
de trabalho, desde que se atenda a
exigência de colher, no mínimo,
30 caixas de 30 quilos da fruta.
"Normalmente colho 40 caixas
por dia", afirma o garoto, que diz
pesar apenas 33 quilos. Os outros
três trabalhadores que dividiam a
colheita com Edvaldo da Silva
também eram menores. "Quem
tem mais de 15 anos pode trabalhar normalmente", disse o intermediário. Na fazenda Cauanga,
em Indiaroba, de propriedade do
desembargador e ex-governador
nomeado do Amapá Gilton Garcia, a Agência Folha encontrou
entre os adolescentes que colhiam
laranja Ivaneide dos Santos, 13.
Ela tem seis irmãos e apenas
Sinvaldo, 10, está no programa da
bolsa-escola. "Estou trabalhando
porque estudo à noite. Sou boa
aluna e já estou na 6� série", disse.
Entre os 10 trabalhadores contratados pelo intermediário José
Silva Andrade, 6 tinham idade inferior a 18 anos. "O doutor Garcia
não sabe que tem menor trabalhando aqui. Isso vai me dar problema", disse o intermediário. O
desembargador não foi localizado
em Aracaju para comentar.
(AC)
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