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Movimentos de esquerda se reúnem por mudanças
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os 34 meses do governo Luiz
Inácio Lula da Silva fizeram movimentos e entidades de esquerda
acreditarem que não vale mais a
pena apostar na eleição de um
presidente para resolver ao menos parte dos problemas sociais.
Por conta disso, com o apoio da
Igreja Católica, representantes de
sem-terra, sem-teto, quilombolas,
índios e estudantes se reúnem
nesta semana em Brasília para
traçar uma nova estratégia política em busca de mudanças.
A organização do encontro
também aponta um desgaste de
movimentos e entidades com o
sistema partidário, principalmente em relação ao PT -base estrutural e política de inúmeras manifestações antes da chegada de Lula ao Palácio do Planalto, em janeiro de 2003.
Para o evento desta semana, nenhum representante de partido
foi convidado, nem mesmo intelectuais filiados ou ligados a alguns deles.
Cerca de 8.000 pessoas são esperadas na "Assembléia Popular:
Mutirão por um Novo Brasil",
que ocorre entre terça e sexta-feira em um ginásio da cidade. Ao final do encontro será divulgado
um documento com prováveis
pedidos de mudanças na política
econômica e de pressa para as reformas agrária e política no país.
À frente do evento, representantes da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) esperam uma autocrítica em relação à
esquerda e uma avaliação sobre as
articulações dos partidos para as
eleições do ano que vem. Foram
convidadas figuras carimbadas
como o presidente nacional da
CPT (Comissão Pastoral da Terra), dom Tomás Balduíno, e o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio
Cappio, que ficou conhecido após
passar dez dias em greve de fome
e conseguir que o governo federal
adiasse por tempo indeterminado
o início das obras de transposição
das águas do rio São Francisco.
"Está na hora de fazer uma avaliação e tomar posicionamentos
sobre projetos para o país. [No
governo Lula] A gente teve algumas perdas nesse direcionamento
por parte da esquerda, uma certa
desarticulação. A perda de um
projeto nacional", disse irmã Delci Franzen, da coordenação da
Pastoral Social da CNBB.
Racha na esquerda
A chamada "desarticulação" citada pela representante da CNBB
ficou evidente com o auge da crise
política. Em agosto passado, por
exemplo, uma ala representada
por PSTU, PSOL e Conlutas
(Coordenação Nacional de Lutas)
fez um ato contra Lula um dia depois de CUT (Central Única dos
Trabalhadores), UNE (União Nacional dos Estudantes) e MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) liderarem manifestação a favor do presidente
na Esplanada dos Ministérios.
"A esquerda está sem representatividade. Está difícil saber hoje
quem representa de fato a esquerda. Na verdade, antes era apenas
um partido [PT] que sintetizava
toda essa expectativa da esquerda", afirmou Delci Franzen.
Atualmente, depois de ter
apoiado Lula nas últimas quatro
eleições presidenciais, movimentos, entidades e a chamada ala
progressista da Igreja Católica
preferem falar em projetos a longo prazo, deixando nomes e partidos fora de questão. Para o MST,
por exemplo, o apoio eleitoral na
expectativa de mudanças faz parte do passado.
"Era preciso concluir esse ciclo
de apostar na expectativa de um
presidente sendo eleito, vindo de
nosso meio, e que poderia resolver o problema de nosso povo.
Vamos partir para outra estratégia, que não é a de apenas eleger
presidente", disse João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional
do movimento. O líder dos sem-terra completou: "Não podemos
ficar presos a calendários eleitorais, e sim fazer um programação
mais a longo prazo".
Na mesma linha do coordenador nacional do MST está o bispo
de Jales (SP), dom Demétrio Valentini, integrante do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e
Social da Presidência da República. "Percebemos que isso [apoio
de movimentos e entidades a partidos e políticos] é desgastante e
não abre horizontes. Então pensamos agora em algo a longo prazo", disse o bispo.
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