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Delegado Laertes
Calandra nega
ter visto Herzog
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado que estava de
plantão no dia em que Vladimir Herzog foi encontrado
morto em sua cela, no dia 25
de outubro de 1975, um sábado, até hoje não reconhece
o codinome assumido no
passado. Mesmo tendo sido
apontado por diversos ex-presos políticos como o "Capitão Ubirajara", acusado de
práticas de tortura durante a
ditadura, o delegado Aparecido Laertes Calandra afirma que tudo isso não passa
de um equívoco.
"Nunca usei codinomes. E
no dia 25 de outubro de 1975
eu estava de plantão no Decap [Departamento de Polícia Judiciária da Capital], antigo Degran [Departamento
Regional de Polícia da Grande São Paulo]", afirmou Calandra à Folha anteontem.
A identidade completa do
delegado só foi conhecida
em 1983, quando ele foi trabalhar com o senador Romeu Tuma (PFL-SP), na Superintendência da Polícia
Federal, em São Paulo.
Foi o "Capitão Ubirajara"
quem comunicou à Divisão
de Criminalística a existência de um morto na cela especial número um do DOI-Codi (Destacamento de
Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), sucessor da
Oban (Operação Bandeirantes) criada pelo general Canavarro Pereira para combater os grupos de esquerda.
Naquele dia, o "Capitão
Ubirajara" requisitou os serviços de perícia para examinar o corpo de Herzog.
"Não tenho nada a ver
com isso. Não sei do que você está falando. Desconheço
totalmente esse assunto",
disse Calandra. Após ser
questionado três vezes pela
reportagem sobre em quais
circunstâncias conheceu o
senador Romeu Tuma, a ligação foi interrompida.
A ex-militante do movimento MR-8 (Movimento
Revolucionário 8 de Outubro) Nádia Lúcia Nascimento, presa sob a acusação de
subversão em abril de 1974,
disse ter sido torturada pelo
próprio Calandra. Quando
foi presa, Nádia estava grávida de quatro meses. "Nunca
me esqueceria daquele rosto", disse Nádia à Folha, em
entrevista em outubro do
ano passado. Outro ex-preso
político que reconheceu Calandra é o ex-presidente nacional do PT José Genoino.
O delegado Calandra hoje
trabalha no setor de materiais do Departamento de
Administração de Pessoal
(DAP) da Polícia Civil no
bairro da Luz, centro de São
Paulo. O delegado ocupa
uma sala do 16� andar.
Extrema direita
Antes de trabalhar no
DAP, Calandra era o responsável pela coleta de informações sigilosas da Polícia Civil. Após reportagem da Folha noticiar em 14 de abril de
2003 que Calandra ocupava
posição estratégica dentro
da polícia, entidades de defesa dos direitos humanos
protestaram e o governador
Geraldo Alckmin (PSDB-SP) determinou sua transferência para um departamento burocrático e de menor
visibilidade da Secretaria de
Segurança Pública.
Passados 30 anos da morte
de Herzog, poucos amigos
ainda chamam Calandra de
"Capitão Ubirajara". Amigos da polícia dizem que o
delegado é conhecido por
sua tendência política de extrema direita e disseram que
ele costuma referir-se aos
ex-presos políticos como
"vermelhos" ou comunistas.
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