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CELSO PINTO
Os dólares para o BC intervir
O Banco Central calcula que poderia gastar até US$ 4,6 bilhões
em intervenções no câmbio neste
mês e US$ 3,9 bilhões em dezembro, os dois meses mais críticos
em termos de fluxo de dólares.
Por que não intervir com mais vigor no mercado?
Em abril, bastou o BC, junto
com o FMI, anunciar que teria
até US$ 8 bilhões para gastar no
segundo trimestre no câmbio para valorizar o real. A cotação do
dólar, que havia chegado perto de
R$ 2,20, caiu até perto de R$ 1,65.
Agora, apesar do anúncio de
uma ampla margem de intervenção, a cotação continua próxima
a R$ 1,95. Para quem acha esse
nível razoável, basta lembrar a
conta feita pelo banco CSFB-Garantia. Tomando o câmbio real
(descontada a inflação) do primeiro semestre de 94 como base, a
R$ 1,95 o real está 25% abaixo daquele nível. Quer dizer: se o primeiro semestre de 94 indicava um
nível de câmbio competitivo, então o real está 25% mais desvalorizado do que seria necessário.
A verdade é que, no segundo trimestre, o BC fez mais do que apenas anunciar que tinha US$ 8 bilhões para o câmbio. Como lembra um trabalho do ex-presidente
do BC Affonso Celso Pastore, o
governo gastou cerca de US$ 3 bilhões dos US$ 8 bilhões para ajudar a conter o câmbio.
Desta vez, o BC está muito mais
cauteloso nas intervenções, até
agora, mínimas. O mercado, por
sua vez, está mais prudente em
apostar na valorização do real,
porque não sabe ao certo se o
"bug do milênio" levará, de fato,
a uma forte escassez de dólares
em dezembro. Em abril, a aposta
no real era mais clara.
O excesso de prudência, por enquanto, não se justificou. O mercado internacional continua
aberto e a alta de juros americana sob controle. A margem de intervenção até dezembro parece
mais do que suficiente para a travessia, sem comprometer o piso
de reservas líquidas acertado com
o FMI.
É uma situação totalmente distinta da do segundo trimestre,
quando o mercado externo estava fechado para o Brasil e o buraco externo parecia assustador.
Em outubro, um dos piores meses
em termos de fluxo de obrigações
externas, as contas do BC mostram que o buraco no mercado de
câmbio foi de exatos US$ 578 milhões. Neste mês, por enquanto, o
saldo é positivo.
Quer dizer, toda essa pressão sobre o câmbio se explica por um
desequilíbrio pequeno na oferta
de dólares. No regime anterior de
câmbio, para tentar, inutilmente,
defender o real, o BC chegou a
gastar até US$ 1,8 bilhão num
único dia. A timidez atual do BC
só faz sentido se houver dúvidas
se as contas externas, de fato, vão
melhorar a partir de janeiro.
Nas contas do BC, as amortizações, que chegarão a US$ 9,1 bilhões neste trimestre, cairão para
US$ 3,8 bilhões no primeiro trimestre de 2000. A margem de intervenção do BC no câmbio, por
sua vez, é calculada em US$ 6 bilhões em janeiro, US$ 5,1 bilhões
em fevereiro e US$ 3,1 bilhões em
março.
O déficit externo em conta corrente, nos 12 meses encerrados em
outubro, chegou a US$ 25,5 bilhões, uma queda de US$ 8,1 bilhões em relação a dezembro, antes da desvalorização. O investimento direto externo, nos 12 meses até outubro, chegou a US$
29,4 bilhões, ou seja, cobriu com
folga o déficit externo.
A balança comercial, em dez
meses, melhorou US$ 5,7 bilhões.
A tendência é "animadora", como diz a Funcex. A quantidade
exportada ("quantum") subiu
17% em outubro, comparado a
outubro de 98. No ano, ela é positiva em 3,3%, sendo que, nos semestre que encerra em outubro,
comparado ao semestre anterior,
o aumento é de 5,4%.
O índice de "quantum" já é 13%
superior à média de 98. Mais importante: o "quantum" dos manufaturados, embora ainda apresente queda de 1,5% no ano, vem
crescendo sem parar. A tendência
do índice da Funcex aponta para
uma forte alta, que já supera os
últimos três anos.
Os preços de exportação acumulam queda de 12% no ano,
mas, desde abril, já bateram no
piso. Em outubro, a queda nos
preços foi menor e, pela primeira
vez no ano, o índice do mês superou o do mês anterior.
As importações ampliaram a
queda em outubro (18,3%), em
relação a outubro de 98, apesar
da recuperação econômica. O que
reforça o argumento dos que atribuem a queda nas importações
não só à recessão, mas também, e
de forma mais permanente, à
substituição de importações.
Em resumo, existem boas indicações no fluxo de capitais e investimentos e sinais graduais mas
persistentes de melhora na balança comercial e na conta corrente.
E há dólares para suprir uma escassez temporária, se o BC quiser
usá-los.
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