São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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Cartel não produz, só vende

da enviada especial a Tabatinga (AM)

Os famosos cartéis do tráfico internacional de cocaína -como os de Cali e de Medellín- controlam apenas uma fase do comércio da droga. Ao contrário do que se imagina, não há organização que domine todas as etapas, do plantio à distribuição, da droga.
Levantamento feito pela Comunidade Andina de Inteligência Policial (que congrega as polícias federais de oito países da América Latina, incluindo a do Brasil) mostra que há uma divisão rígida de trabalho por etapas da produção. Cada organização, segundo a Polícia Federal, é especializada em uma delas.
O tráfico se divide em seis fases de trabalho: plantio, pisoteiro (ou produção da pasta-base de cocaína), refino, comércio, distribuição e financiamento. Em cada fase, existe uma rígida hierarquia de funções (ver quadro).
O plantio da coca é feito no Peru, na Bolívia e na Colômbia. O ranking da produção é o seguinte: a Colômbia lidera com 95 mil hectares de plantio, contra 75 mil no Peru e 45 mil na Bolívia.
A fase seguinte é a do pisoteiro, onde as folhas sofrem o primeiro processo de manufatura, sendo transformadas em pasta-base de coca. A pasta também é usada para consumo. Na região amazônica, ela chega a ser mais consumida do que a cocaína refinada.
A terceira etapa é a do refino (transformação da pasta-base em cocaína pura, com 90% de concentração). A Colômbia tem, praticamente, o monopólio dessa atividade -mais de 80% da produção. A pasta-base produzida no Peru e na Bolívia é enviada para os laboratórios de refino na Colômbia e é nesse momento que entram em ação as organizações baseadas na Amazônia ocidental.
Como não há estradas interligando os dois países, a droga tem de ser transportada por aviões e barcos. Como são grandes distâncias, há necessidade de reabastecimento das aeronaves, o que é feito em pistas clandestinas.
O delegado Sérgio Luiz Fortes, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF do Amazonas, diz que ainda não há envolvimento expressivo de organizações no Brasil com o refino, nem com o plantio no tráfico internacional.
Segundo a Polícia Federal, a rota internacional do tráfico que passa pela Amazônia ocidental não abastece o mercado brasileiro. O abastecimento do mercado brasileiro, segundo a PF, é feito pela Bolívia e pelo Paraguai.









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