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CRIME ORGANIZADO
Alto Solimões é porta de entrada da droga; país também é usado para lavagem de dinheiro
7 cartéis do tráfico agem na Amazônia
ELVIRA LOBATO
enviada especial a Tabatinga (AM)
Pelo menos sete
organizações internacionais do tráfico
de cocaína atuam
na região amazônica do Alto Solimões, onde o país faz fronteira
com o Peru e a Colômbia. Entre
elas, está a Organização Rivera,
comandada pelo colombiano Vicente Wilson Rivera Gonzalez, tido como o maior narcotraficante
da América Latina, na atualidade.
Três organizações são colombianas. Apenas uma, identificada
como Chico Matos, é brasileira.
Duas são peruanas e a outra é paraguaia.
O Alto Solimões compreende
sete municípios, que ocupam
uma área de 142 mil quilômetros
quadrados, equivalente à soma
dos Estados do Rio, do Espírito
Santo e da Paraíba. A região depende economicamente do narcotráfico e já faz parte da rota internacional da cocaína.
Tabatinga é o portão de entrada
dessas organizações no país. A cidade tem posição estratégica no
mapa do tráfico, pois faz fronteira
aberta com a cidade de Letícia
(Colômbia) e com o Peru, pelo rio
Solimões. Segundo a Superintendência da Polícia Federal no
Amazonas, há 450 pessoas oriundas do Alto Solimões (a maioria
de Tabatinga) presas por tráfico
de drogas no Brasil e no exterior.
As ramificações desses grupos
no Brasil atuam na lavagem do dinheiro e no transporte da droga.
No Brasil, obtêm a infra-estrutura
(pilotos, aviões, barcos, combustível e pistas de pouso clandestinas) para recolher a pasta-base de
cocaína no Peru e entregá-la aos
laboratórios de refino da Colômbia. A mesma estrutura é usada
para transportar a cocaína pura,
ou cloridrato de cocaína, da Colômbia para entrepostos no Suriname, de onde segue para a Europa. Essa rota também é usada,
embora em menor escala, para
envio da droga para os EUA.
Chico Matos
As organizações que agem na
área foram identificadas pela Comunidade Andina de Inteligência
Policial, criada em junho de 97,
que reúne as polícias federais do
Brasil, da Colômbia, do Peru, do
Chile, da Bolívia, do Panamá, da
Venezuela e do Equador.
Segundo o delegado Mauro
Spósito, secretário-executivo da
entidade e chefe da Unidade de
Projetos Especiais da Polícia Federal do Amazonas, a organização Chico Matos é uma dissidência da Organização Rivera. Ela é
comandada por Francisco de Assis Rodrigues Matos.
Matos, segundo o delegado, foi
surpreendido com 420 quilos de
cocaína e condenado a oito anos
de prisão pela PF do Amazonas,
em 94, mas cumpre a pena em regime aberto por decisão do Tribunal Regional Federal de Brasília. A droga estava escondida no
fundo falso de um barco que navegava no rio Solimões em direção ao Suriname, de onde seguiria
para a Holanda.
De acordo com o delegado
Mauro Spósito, Chico Matos tem
ligações com o ex-ditador do Suriname Desi Butersi e acumulou
um patrimônio pessoal superior a
US$ 20 milhões. Segundo Spósito,
ele já foi multado em R$ 30 milhões por contrabando.
Organização Rivera
A força da Organização Rivera
na Amazônia ocidental (região
que abrange Acre, Amazonas,
Roraima e Rondônia) foi evidenciada em 95, com a apreensão, em
Tocantins, de 7,5 toneladas de cocaína. A droga seria enviada para
a Europa.
Na operação, foi preso o filho do
líder, Vicente Wilson Rivera Ramos, o ""Vicentico". Condenado a
14 anos de prisão, ele cumpre a
pena em Manaus e também está
condenado na Holanda.
Na mesma operação, foi preso
Mário Alberto Cano Gusman, o
Tatá Cano, filho do ex-senador
colombiano Antonio Cano Gusman. Tatá cumpriu parte da pena
em Manaus e vive em regime de
prisão aberta em Tabatinga.
A prisão de Tatá Cano e de Vicentico revelou um outro elo da
Organização Rivera no Brasil: o financeiro. Na mesma operação,
caiu um sobrinho do palestino
naturalizado brasileiro Maruf
Hassan Ibrahim, que, segundo a
Polícia Federal, financiava 50% da
carga apreendida. Pelos cálculos
da polícia, as 7,5 toneladas valiam
cerca de US$ 75 milhões.
""Maruf é o agiota do tráfico de
cocaína no Brasil", diz Mauro
Spósito. Segundo o delegado, o
palestino vive em Ciudad del Este,
fronteira do Paraguai com o Brasil. A Justiça Federal quebrou o sigilo bancário de Maruf, mas a
providência resultou inútil, porque ele só possui conta bancária
no Paraguai.
A Rivera tem sofrido baixas importantes no Brasil, mas continua
a mais forte em atuação na Amazônia ocidental. Em 97, foi preso
na cidade de Cajamar (SP) um
dos coordenadores do grupo no
país, Antônio da Mota Graça, o
Curica, da cidade de Benjamin
Constant (próxima a Tabatinga).
Na sequência, foi presa a mulher dele, a piloto de avião Sâmia
Haddock Lobo, apelidada de ""baronesa do pó". A mãe de Curica é
cunhada do ex-senador colombiano Antonio Gusman, e, em razão do vínculo familiar, Curica e a
mulher ascenderam na Organização Rivera.
Sâmia, que é paulista de Vinhedo, foi condenada a quatro anos
de prisão por sonegação de impostos e remessa ilegal de dinheiro para o exterior, mas a prisão foi
substituída por trabalhos comunitários. Curica está preso em São
Paulo, e ela vive em Itajaí (SC).
Com ajuda da DEA (Drug Enforcement Administration, dos
EUA), a Polícia Federal localizou
um depósito de US$ 3 milhões de
Sâmia na Suíça, e o dinheiro foi
bloqueado. Na ocasião, ela afirmou perante a Justiça suíça que o
dinheiro provinha de um garimpo de sua propriedade na Guiana.
Até hoje, a PF não conseguiu provar envolvimento de Sâmia com o
narcotráfico, mas suspeita que ela
tenha US$ 12 milhões em investimentos nos EUA, provenientes
dessa atividade.
Organização Porras
Criada pelo lendário traficante
colombiano Evaristo Porras Ardila, a Organização Porras sofreu
um fracionamento desde que seu
líder foi acusado de ser o mandante do assassinato, em 84, do
então ministro da Justiça colombiano, Rodrigo Lara Bonilla. Evaristo Porras era o principal fornecedor de pasta-base de coca de
Pablo Escobar -líder do Cartel
de Medellín, morto em 93. Hoje,
Porras está preso em Bogotá.
Em fevereiro de 97, foram presos 26 membros da organização
em uma fazenda em Pimenta
Bueno (Rondônia). O grupo, liderado por Rolando Saavedra Shapiana (peruano, proprietário do
hotel Pousada do Sol, o maior de
Tabatinga), foi preso sem a droga
e condenado, em decisão inédita
da Justiça, como quadrilha de traficantes.
Outro elo da Organização Porras no Brasil foi identificado, há
apenas duas semanas, em Fortaleza (CE), com a prisão do colombiano Joaquim Hernando Castilla
Jimenez. Em depoimento à PF, ele
afirmou ter ""lavado", desde 1993,
US$ 720 milhões para a organização com ajuda de funcionários de
bancos brasileiros. A legalização
do dinheiro foi feita, segundo ele,
com a compra de imóveis em pelo
menos seis Estados.
O colombiano disse que o próprio Evaristo Porras Ardila chegou a trazer dólares para o Brasil e
que o dinheiro entrava no país camuflado entre peixes. A organização comandava a maior empresa
de pescado de Letícia, a Pescaderia Del Amazonas, confiscada pelo governo daquele país após a
condenação de Ardila, em 95.
O sucessor de Evaristo Ardila na
organização, seu irmão Henri
Porras, mora em Tabatinga. Preso
com 80 kg de cocaína na Colômbia, fugiu para o Brasil, onde vive
protegido pelo fato de ter um filho
registrado brasileiro.
Os irmãos peruanos Nicolas,
Segundo Gaudêncio e Adolfo Cachique Rivera lideram uma dissidência da Organização Porras conhecida como Organização Cachique Rivera. Cartazes do principal líder do grupo, Nicolas (o Nico), e de sua mulher, Maria del
Carmem Rivera, estão em todas
as delegacias e postos de fiscalização da região. Segundo a PF, o
grupo transporta pasta-base do
Peru para a Colômbia, pela Amazônia, com a ajuda de brasileiros.
A Organização Stela é liderada
por uma mulher colombiana, de
nome Stela, que assumiu os espaços deixados por Pablo Escobar
na região de Medellín. O grupo é
conhecido também como Cartel
de Los Llanos.
O paraguaio Ramon Mendonza
lidera uma outra organização,
identificada como Dom Papito,
que fornece armas e munições
aos guerrilheiros da Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia) em troca de cocaína. O
grupo, segundo a polícia, revende
a droga a traficantes brasileiros.
A sétima organização apontada
no organograma do narcotráfico
na Amazônia ocidental é especializada no fornecimento de produtos químicos para o refino da pasta-base de cocaína. Ela opera no
Brasil, Peru, EUA e no Equador,
mas, segundo a PF, está temporariamente desarticulada em razão
da morte de principal líder, o peruano Carlos Zapater Zarak.
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