São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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CRIME ORGANIZADO
Correia Lima, PM reformado acusado de crimes no Piauí, foi citado em investigação em MG
Inquérito liga coronel a dinheiro falso

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Teresina

Um inquérito aberto em 1996 pela Polícia Civil de Minas Gerais envolve o coronel reformado da PM do Piauí José Viriato Correia Lima com falsificação de dinheiro. Ele está preso sob acusação de liderar o crime organizado no Piauí.
No inquérito em Minas Gerais, Correia Lima, na época major, é citado como a pessoa que propôs trocar R$ 500 mil em notas falsas por R$ 150 mil verdadeiros.
A proposta teria sido feita ao comerciante Paulo Fernando da Silva, preso em flagrante em Frutal (MG), em 24 de outubro de 1996, com 337 notas falsas de R$ 5, uma de R$ 50 e um revólver calibre 38.
Em seu depoimento, Silva disse que conheceu Correia Lima em janeiro daquele ano, quando viajou a Teresina para cobrar uma dívida. O valor e a razão da dívida não foram mencionados.
Segundo o comerciante, após "várias conversas", o então major propôs a ele que arrumasse pessoas em Minas interessadas em fazer a "lavagem" do dinheiro falso. Silva disse que fechou o negócio e retornou ao seu Estado. Mais tarde, afirmou, recebeu as notas, apreendidas pela polícia mineira.
A prisão ocorreu após o comerciante, em companhia de outros dois homens, ter comprado de um vendedor ambulante três garrafas de suco de laranja com uma nota falsa de R$ 5.
Em seu depoimento, Silva acusou Correia Lima de tê-lo enganado na venda de uma camionete D-20. Segundo o comerciante, em troca do veículo, o coronel ficou com cheques que ele não conseguia receber (de valores não mencionados) e mais R$ 9.000 em dinheiro. Fechado o negócio, ele e os amigos levaram o veículo.
Quando retornava com a D-20 ao hotel onde estava hospedado em Teresina, o grupo de Silva teria sido assaltado na rua por quatro homens armados.
A camionete e R$ 3.000 que Silva havia recebido de comissão foram levados pelos assaltantes, que estavam em um Santana.
No dia seguinte, Silva e os amigos teriam localizado a camionete e o Santana na casa de Correia Lima. O grupo disse à polícia que não conseguiu recuperar o veículo e o dinheiro e que, por isso, não negociou mais com Correia Lima.
Apesar de citado, Correia Lima não foi ouvido na época. Uma nova investigação só foi aberta em 21 de outubro passado, por determinação da Procuradoria da República em Uberaba (MG).
O procurador que determinou a nova investigação é um piauiense, Wellington Luis de Sousa Bonfim. Ele viu o nome do coronel no processo e decidiu mandar apurar.
Para o Ministério Público Federal do Piauí, a abertura de um processo na esfera federal representa a chance de transferir o oficial do quartel da PM onde está preso para instalações do Exército no Estado, em tese mais seguras.
O Ministério Público acha ainda que a investigação poderá revelar mais um braço da rede que Correia Lima é acusado de comandar. Já há indícios de ligação do coronel com o crime organizado no Acre, Ceará e Maranhão.
O oficial vem sendo investigado desde fevereiro passado, quando a Polícia Federal, com autorização da Justiça, iniciou uma operação de escuta telefônica nos aparelhos dos suspeitos de crimes no Piauí.
Nove pessoas tiveram seus telefones "grampeados" até setembro, o que resultou em um dossiê com cerca de 3.000 páginas. Foram gravadas 700 horas de conversas, em 350 fitas.
Com as gravações, a PF conseguiu reunir evidências que poderão desarticular esquemas de desvio de dinheiro de prefeituras por meio da emissão de notas frias.
Também poderá elucidar homicídios até então tidos como insolúveis, como os de Hélio Araújo Silva e Heinaldo Liberal Xavier Júnior, que tiveram seus corpos carbonizados em março de 1998.
As gravações indicam ainda que o grupo atuaria no roubo de cargas e caminhões, em extorsões, e que possuiria ramificações no Executivo, Legislativo e Judiciário do Piauí. Até agora, dois juízes, um promotor de Justiça, o comandante da PM e o chefe da Casa Militar foram afastados de seus cargos por suspeita de envolvimento com Correia Lima.
Doze pessoas tiveram prisão decretada pela Justiça do Estado. A CPI do Narcotráfico apura a eventual ligação do coronel com o tráfico de drogas.
Todos os envolvidos, acusados e presos negam envolvimento com o crime organizado. Correia Lima afirmou que sabia que seus telefones estavam grampeados. Ele disse que as conversas tinham por objetivo mostrar sua força ao superintendente da PF no Piauí, Robert Rios.




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