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CRIME ORGANIZADO
Correia Lima, PM reformado acusado de crimes no Piauí, foi citado em investigação em MG
Inquérito liga coronel a dinheiro falso
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Teresina
Um inquérito
aberto em 1996 pela
Polícia Civil de Minas Gerais envolve
o coronel reformado da PM do Piauí
José Viriato Correia Lima com
falsificação de dinheiro. Ele está
preso sob acusação de liderar o
crime organizado no Piauí.
No inquérito em Minas Gerais,
Correia Lima, na época major, é
citado como a pessoa que propôs
trocar R$ 500 mil em notas falsas
por R$ 150 mil verdadeiros.
A proposta teria sido feita ao comerciante Paulo Fernando da Silva, preso em flagrante em Frutal
(MG), em 24 de outubro de 1996,
com 337 notas falsas de R$ 5, uma
de R$ 50 e um revólver calibre 38.
Em seu depoimento, Silva disse
que conheceu Correia Lima em
janeiro daquele ano, quando viajou a Teresina para cobrar uma
dívida. O valor e a razão da dívida
não foram mencionados.
Segundo o comerciante, após
"várias conversas", o então major
propôs a ele que arrumasse pessoas em Minas interessadas em
fazer a "lavagem" do dinheiro falso. Silva disse que fechou o negócio e retornou ao seu Estado. Mais
tarde, afirmou, recebeu as notas,
apreendidas pela polícia mineira.
A prisão ocorreu após o comerciante, em companhia de outros
dois homens, ter comprado de
um vendedor ambulante três garrafas de suco de laranja com uma
nota falsa de R$ 5.
Em seu depoimento, Silva acusou Correia Lima de tê-lo enganado na venda de uma camionete
D-20. Segundo o comerciante, em
troca do veículo, o coronel ficou
com cheques que ele não conseguia receber (de valores não mencionados) e mais R$ 9.000 em dinheiro. Fechado o negócio, ele e
os amigos levaram o veículo.
Quando retornava com a D-20
ao hotel onde estava hospedado
em Teresina, o grupo de Silva teria sido assaltado na rua por quatro homens armados.
A camionete e R$ 3.000 que Silva havia recebido de comissão foram levados pelos assaltantes, que
estavam em um Santana.
No dia seguinte, Silva e os amigos teriam localizado a camionete
e o Santana na casa de Correia Lima. O grupo disse à polícia que
não conseguiu recuperar o veículo e o dinheiro e que, por isso, não
negociou mais com Correia Lima.
Apesar de citado, Correia Lima
não foi ouvido na época. Uma nova investigação só foi aberta em 21
de outubro passado, por determinação da Procuradoria da República em Uberaba (MG).
O procurador que determinou a
nova investigação é um piauiense,
Wellington Luis de Sousa Bonfim.
Ele viu o nome do coronel no processo e decidiu mandar apurar.
Para o Ministério Público Federal do Piauí, a abertura de um
processo na esfera federal representa a chance de transferir o oficial do quartel da PM onde está
preso para instalações do Exército
no Estado, em tese mais seguras.
O Ministério Público acha ainda
que a investigação poderá revelar
mais um braço da rede que Correia Lima é acusado de comandar.
Já há indícios de ligação do coronel com o crime organizado no
Acre, Ceará e Maranhão.
O oficial vem sendo investigado
desde fevereiro passado, quando
a Polícia Federal, com autorização
da Justiça, iniciou uma operação
de escuta telefônica nos aparelhos
dos suspeitos de crimes no Piauí.
Nove pessoas tiveram seus telefones "grampeados" até setembro, o que resultou em um dossiê
com cerca de 3.000 páginas. Foram gravadas 700 horas de conversas, em 350 fitas.
Com as gravações, a PF conseguiu reunir evidências que poderão desarticular esquemas de desvio de dinheiro de prefeituras por
meio da emissão de notas frias.
Também poderá elucidar homicídios até então tidos como insolúveis, como os de Hélio Araújo
Silva e Heinaldo Liberal Xavier
Júnior, que tiveram seus corpos
carbonizados em março de 1998.
As gravações indicam ainda que
o grupo atuaria no roubo de cargas e caminhões, em extorsões, e
que possuiria ramificações no
Executivo, Legislativo e Judiciário
do Piauí. Até agora, dois juízes,
um promotor de Justiça, o comandante da PM e o chefe da Casa Militar foram afastados de seus
cargos por suspeita de envolvimento com Correia Lima.
Doze pessoas tiveram prisão decretada pela Justiça do Estado. A
CPI do Narcotráfico apura a eventual ligação do coronel com o tráfico de drogas.
Todos os envolvidos, acusados
e presos negam envolvimento
com o crime organizado. Correia
Lima afirmou que sabia que seus
telefones estavam grampeados.
Ele disse que as conversas tinham
por objetivo mostrar sua força ao
superintendente da PF no Piauí,
Robert Rios.
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