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Presidente do conselho vê falta de afinação
da Reportagem Local
O presidente do Conselho de
Recursos do Sistema Financeiro
Nacional, Waldemar Messias de
Araújo, 62, tem uma explicação
para a grande disparidade entre
as punições aplicadas pelo Banco
Central e as decisões revistas dentro do âmbito do "conselhinho":
o BC trata como infração operações que o conselho já não considera irregulares.
Outro exemplo de falta de afinação, segundo Araújo: em alguns
processos, o BC pune de forma
coletiva, enquanto o conselho exige a comprovação de culpa do dirigente ou administrador (a responsabilidade subjetiva).
Economista e contador com
pós-graduação em direito internacional, comércio exterior e
mercado de capitais, Araújo preside o conselho há oito meses.
Nascido em Sergipe, ex-presidente do Banco da Amazônia,
Messias de Araújo trabalhou 35
anos nas áreas de fiscalização e
mercado de capitais do BC. "Eu
conheço os vários ângulos da
questão", disse, em entrevista à
Folha, em Brasília.
(FREDERICO VASCONCELOS).
Folha - A fiscalização vai com
muita sede ao pote ou o "conselhinho" tem pouco apetite para
manter as punições?
Waldemir Messias de Araújo -
Eu fui inspetor e tenho essa experiência. Ao chegar à instituição,
cada vírgula colocada inadequadamente era, para mim, alguma
coisa que poderia ser premeditada. É a cabeça do fiscal...
Folha - O "conselhinho" é um
órgão de abrandamento?
Araújo - É evidente que, com todos os cuidados jurídicos, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional não se expõe a patrocinar
uma penalidade que será derrubada na Justiça comum. Infelizmente, praticamente foram derrubadas todas as decisões do conselho em que houve recurso na
justiça comum.
Folha - Como o sr. explica a
discrepância entre as penalidades aplicadas pelo BC e as decisões do "conselhinho"?
Araújo - Na verdade, o BC ainda
insiste em não observar a jurisprudência firmada pelo conselho.
O conselho não considera como
falta tudo o que o BC pune.
Folha - Quais são os casos em
que há maior divergência?
Araújo - Mais de 50% das divergências envolvem a questão do
factoring (compra, por instituição financeira, de duplicatas de
outra empresa).
Sem que fique provado que
houve a captação do público, não
há como se considerar que, ao administrar esses recursos próprios,
a empresa exerce funções de instituição financeira.
Folha - E qual é a visão do BC?
Araújo - Para o BC, mesmo não
se comprovando a captação do
público, é um exercício de instituição financeira. Para o conselho, isso é matéria de polícia.
Folha - Há decisões discrepantes no próprio BC?
Araújo - O BC dispõe de delegacias do Rio Grande do Sul ao Pará.
Muitas vezes se identifica diferenças de postura, embora com absoluta correção. É possível que agora, com a reestruturação, concentrando os trabalhos, haja maior
unificação.
Folha - Bons advogados obtêm o abrandamento de decisões no conselho, onde nem todos têm formação jurídica...
Araújo - Minha experiência de
oito meses mostra que o plenário
dificilmente deixa de acompanhar a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. E os procuradores estão equidistantes da disputa
e podem analisar os fatos sem
emoção.
Folha - O representante da Febraban está sempre pedindo o
arquivamento de processos...
Araújo - Hélio Domingues é extremamente ético. Ele não nega as
posições que assume, das quais
não se afasta. Em geral, registra os
votos vencidos. Mas ele é, geralmente, perdedor.
Folha - Nas "operações casadas", envolvendo bancos e empresas do mesmo grupo, há
uma constante redução das penalidades...
Araújo - Sempre que se identifica o empréstimo à coligada tem
havido a penalização. O que se
exige é que haja a prova da operação. Nem sempre isso é visível.
Folha - Dirigentes de bancos
que abriram "contas fantasmas"
sofreram multas irrisórias. Isso
inibe novas infrações?
Araújo - Há casos em que as penalidades são bastante reduzidas.
A procuradoria tem que se valer
do que a lei diz. Mas há instituições que reagem para não ter na
sua ficha aquele registro.
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