São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Comissão investigou, entre 1995 e 1998, a participação de PMs e investigadores em quadrilhas
Policiais são acusados em CPI paulista

ROBERTO COSSO
da Reportagem Local


A CPI do Crime Organizado, que funcionou na Assembléia Legislativa de São Paulo entre 1995 e 1998, apurou que a maioria das organizações criminosas ligadas a roubo de carros e de cargas no Estado tem policiais no comando.
"As organizações sempre incluem policiais. Quando eles não estão no comando, dão proteção aos criminosos em troca de vantagens", diz o deputado Elói Pietá (PT), que foi relator da CPI.
As investigações promovidas neste ano pela CPI do Narcotráfico, da Câmara dos Deputados, apontaram, por exemplo, suspeitas de envolvimento de policiais civis no desaparecimento de cerca de 340 kg de cocaína do Instituto Médico Legal de Campinas (99 km a noroeste de São Paulo).
Na CPI da Assembléia Legislativa, três das quatro quadrilhas que receberam maior atenção eram comandadas por delegado ou oficiais da Polícia Militar. A outra tinha a participação de investigadores da Polícia Civil.
O ex-delegado Marcos Vinícios Linhares foi acusado de comandar uma quadrilha de roubo de cargas, sequestros e assassinato na região de Atibaia (65 km ao norte de São Paulo).
Linhares foi condenado a mais de 20 anos de prisão. Chegou a fugir do Presídio Especial da Polícia Civil, mas foi recapturado.
O ex-capitão da Polícia Militar Oscar Câmara foi acusado de chefiar um bando de roubo de cargas na região de Aparecida (170 km a noroeste de São Paulo). Ele chegou a ser assessor do deputado Roberto Cardoso Alves (PTB-SP), morto em janeiro de 1996.
A organização de Câmara contava com um sargento e dois cabos da Polícia Militar, além de vários civis. Todos foram condenados pela Justiça.
O deputado Afanasio Jazadji (PFL) ressalta que nos casos de roubo de cargas, a CPI não conseguiu identificar os destinatários das mercadorias roubadas.
Por isso, segundo ele, seria temeroso afirmar que os policiais identificados pela CPI como chefes dos bandos não estavam subordinados a outras pessoas.
Ele afirma, contudo, que os operadores do roubo de cargas eram "policiais da ativa ou ex-policiais" porque tinham profundo conhecimento sobre o funcionamento e a estrutura da polícia.
A comissão também identificou uma quadrilha de roubo de carros e caminhões sediada em Guarulhos (Grande São Paulo) que seria comandada pelo capitão Cleodir Fioravante Nardo, demitido da Polícia Militar "a bem do serviço público" na semana passada, por decisão do Tribunal de Justiça Militar.
A Folha apurou que o decreto de exoneração dele será assinado nesta semana pelo governador Mário Covas (PSDB).
De acordo com as apuração dos policiais, o capitão usaria quartéis da PM para guardar veículos roubados e faria ofícios às montadoras em papel timbrado da corporação para pedir adesivos numerados para os caminhões, com o objetivo de "esquentá-los".
A CPI apurou que o roubo de veículos movimenta cerca de R$ 1,2 bilhão por ano no Estado.
Haveria dois esquemas: um passaria os veículos para os desmanches, que vendem as peças; outro "esquentaria" os carros e os revenderia. Policiais do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) dariam cobertura para a legalização dos veículos roubados.
A assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública informou que somente se manifestaria sobre o caso após a publicação desta reportagem.


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