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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REFORMA
Substituto será Márcio Fortes, amigo de Severino, que exigiu o Ministério das Cidades
Lula demite Olívio, mas adia anúncio por pressão do PT
EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na seqüência de sua segunda reforma ministerial, que se arrasta
há semanas, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva cedeu ontem
às pressões do PP, demitiu Olívio
Dutra (PT-RS) do Ministério das
Cidades e ofereceu a pasta ao secretário-executivo do Desenvolvimento, Márcio Fortes, amigo do
presidente da Câmara, Severino
Cavalcanti (PP-PE).
A demissão ocorreu em uma
conversa reservada entre Lula e
Olívio. Oficialmente, o Planalto
não informou que o ministro estava demitido.
Um movimento de ministros e
tendências petistas contrárias à
saída do petista fez com que Lula,
por ora, adiasse o anúncio da mudança para amanhã à tarde. Até
lá, Dilma Rousseff (Casa Civil) e
Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), ambos do PT
gaúcho e ex-dirigentes do governo de Olívio no Rio Grande do Sul
(1998-2002), vão tentar demover
Lula da decisão.
Caso o presidente mantenha
sua posição, Fortes, que esteve
ontem pela manhã no Planalto,
assumirá a pasta sem o apoio da
bancada do PP no Congresso, que
preferiu não integrar oficialmente
o primeiro escalão do governo no
momento em que Lula enfrenta a
pior crise política de sua gestão.
Fortes, mesmo não sendo filiado
ao PP, seria efetivado como uma
escolha de Severino.
"O Márcio Fortes já conversou
hoje [ontem] com o presidente
Severino Cavalcanti e disse que
aceitou [o convite de Lula]. Da
parte do Severino ficou tudo certo, tanto o nome [de Márcio Fortes] como a pasta [Cidades]", disse o líder do PP na Câmara, deputado José Janene (PR).
Anteontem à noite, em reunião
no Planalto, Lula ofereceu a Previdência a Severino, sempre com o
nome de Fortes como o indicado
do Planalto. O presidente da Câmara, porém, exigiu Cidades.
Apesar de sua resistência em
mexer em Cidades, ministério
montado com representantes de
diferentes tendências petistas
(com as mais radicais, inclusive),
Lula convocou Olívio para uma
conversa ontem pela manhã no
Planalto. O presidente disse que
precisava do cargo para agregar o
PP ao governo e, com isso, aprimorar o trabalho da base aliada
no Congresso.
Na tentativa de preservar o amigo no governo, Lula ainda ofereceu a Olívio o Ministério da Previdência e a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária). O ministro rejeitou a
oferta e, assim que retornou ao
seu gabinete, reuniu os assessores
mais próximos para comunicar
sua demissão.
Anteontem, Lula havia recebido
Olívio em café da manhã no Planalto, quando prometeu a ele não
retirá-lo do governo. O presidente, porém, não contava com a exigência do PP pela pasta -feita
horas mais tarde.
Ontem, a demissão de Olívio
Dutra causou reação imediata,
principalmente de ministros petistas do Rio Grande do Sul e de
parlamentares e movimentos ligados à questão da moradia. Rossetto, por exemplo, telefonou para a ministra Dilma Rousseff, que
ligou em seguida para o Ministério das Cidades ordenando que
nada fosse divulgado até amanhã
-quando, definitivamente, Lula
promete anunciar a finalização
das mudanças no primeiro escalão de governo.
A preocupação de Rossetto
também tem um cunho eleitoral.
Com sua eventual saída das Cidades, Olívio poderá mudar de idéia
sobre seu futuro político e reunir
forças no PT gaúcho para se lançar candidato ao governo do Rio
Grande do Sul no ano que vem. Já
o ministro do Desenvolvimento
Agrário, pré-candidato declarado
no Estado, sairá do governo somente em abril do ano que vem,
com menos tempo para articular
sua campanha às prévias petistas.
Amanhã, além da mudança na
pasta das Cidades, Lula pretende
dar posse ao novo ministro da
Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende (PSB), e divulgar quem
ocupará a vaga de Romero Jucá
(PMDB) na Previdência. Com as
recusas de Joaquim Levy (Tesouro) e até do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento),
ganhou força o nome de Helmut
Schwarzer, atual secretário de
Previdência Social.
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