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TRANSIÇÃO
José Dirceu afirma que, se confirmado no Planejamento, o economista Carlos Lessa será da cota pessoal de Lula
PT articula para facilitar diálogo com PMDB
FÁBIO ZANINI
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A nomeação do economista
Carlos Lessa, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
para o Ministério do Planejamento, se vier a se confirmar, será feita
na cota pessoal do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e não
na do PMDB, partido ao qual é ligado o economista.
O recado é do futuro chefe da
Casa Civil, deputado José Dirceu
(PT-SP), e tem o objetivo de facilitar o entendimento com o PMDB,
que deve ser retomado nesta semana. O último contato entre o
PT e a cúpula do PMDB deu-se na
manhã de sexta-feira passada.
Desde então mudou o tom do
discurso dos dirigentes peemedebistas sobre a participação da sigla no governo Lula. Ontem, o
presidente do partido, deputado
Michel Temer (SP), disse que a
tendência é o PMDB ficar independente, sem cargos, mas dar
apoio parlamentar a iniciativas do
próximo governo.
"Não procuramos, fomos procurados. Vamos esperar por uma
proposta concreta e só então reunir o partido para decidir. A tendência de independência é muito
forte", disse Temer, que apoiou a
candidatura do tucano José Serra
à Presidência.
Dirceu disse que ainda não está
confirmada a participação de Lessa no ministério, mas o fato de
afirmar que a eventual nomeação
do economista se dará na cota de
Lula serve para aparar arestas
com a cúpula peemedebista.
A direção do PMDB está desconfiada de que o PT joga na divisão do partido e quer impor seus
representantes no ministério.
Lessa é ligado historicamente à legenda, mas não é um dos nomes
que o partido apresentaria a Lula
para compor o governo.
Os discursos do PT e do PMDB
também soaram fora de sintonia
durante o fim de semana.
Ontem, ao chegar à Granja do
Torto para assistir com Lula ao jogo Santos e Corinthians, Dirceu
disse que conversara "com muita
gente do PMDB" ao longo do dia.
Temer e Renan Calheiros (AL), líder no Senado, diziam que desde
sexta-feira passada não tiveram
mais contato com o petista.
A negociação com o PMDB é a
mais importante e a mais complicada para o novo governo. Importante, porque a sigla terá em
2003 uma bancada de 74 deputados e 20 senadores, cuja adesão
daria mais consistência à sustentação parlamentar do governo. É
complicada devido à divisão interna da sigla. Entre os governadores, Jarbas Vasconcelos (PE) e
Germano Rigotto (RS) são os
mais refratários à participação.
Ambos têm o PT como principal
adversário em seus Estados.
No Congresso, Temer evolui
para a posição de independência,
mas Calheiros balança entre as
duas posições porque disputa
com José Sarney (AP) -que está
com Lula desde a eleição- a presidência do Senado. Ao mesmo
tempo que diz que não se oferecerá para participar do governo, o
PMDB pressiona uma decisão do
PT retomando conversas com o
PSDB e o PFL - na oposição -
em torno de uma atuação conjunta no Congresso no próximo ano.
O quebra-cabeças peemedebista é o mais complicado de acertar,
devido às divisões da sigla, mas há
dificuldades também em relação
a outros partidos, especialmente
ao PDT. Lula quer nomear o deputado Miro Teixeira (RJ) para as
Comunicações, mas sofre a oposição de Leonel Brizola.
Dirceu disse que trabalhou duro
no fim de semana. Além do
PMDB, contou que teve conversas também com o PPS e o PSB.
O representante do PPS no governo deve ser Ciro Gomes (CE),
cotado para a Integração Nacional, mas que pode ficar com a Previdência Social se o primeiro ficar
com o PMDB.
Mas o PSB está em pé de guerra
por causa da provável indicação
de Roberto Amaral, um de seus
vice-presidentes, para a Ciência e
Tecnologia. Os senadores eleitos
do partido prometem boicotar a
nomeação. Hoje, Dirceu discutirá
o assunto com o ex-governador
do Rio Anthony Garotinho.
O PTB não deve ser problema:
deixou nas mãos de Lula a escolha
de seu representante no governo,
que deve ser o deputado Walfrido
Mares Guia (MG), para o Esporte
e Turismo. O senador Carlos Wilson (PE) corre por fora, mas deve
ficar com uma estatal, provavelmente a BR Distribuidora.
O PL deve ser beneficiado com a
retirada do Ministério dos Transportes da negociação com o
PMDB, que ficaria para o partido.
O nome cogitado é o do prefeito
de Manaus (AM), Alfredo Nascimento, que, a exemplo de Carlos
Lessa, também conversou com
Lula na quinta-feira passada.
Segundo Dirceu, o presidente
eleito, "se desejar, terá todas as
condições de anunciar o ministério até quinta-feira, as coisas estão
evoluindo bem".
Lula, após mandar recados no
sábado dizendo que os partidos
não iriam escolher os ministros
de acordo com seus interesses,
passou o dia ontem recolhido à
Granja do Torto. Pela manhã, caminhou com a mulher, Marisa.
Depois, recebeu os petistas de
Brasília Sigmaringa Seixas e Pedro Celso.
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