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LEI DE IMPROBIDADE
Senado deve votar hoje texto sobre julgamento de autoridades
Foro privilegiado pode afetar 4.753 ações contra políticos
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado deverá votar hoje o
polêmico projeto de lei sobre foro
privilegiado que decidirá o destino de 4.753 ações judiciais contra
autoridades públicas acusadas de
improbidade administrativa ou
investigações preparatórias de
processos desse tipo.
Se a proposta for aprovado como está, essas milhares de ações
terão de ser transferida a instâncias superiores, nas quais a indicação política dos juízes e a sobrecarga de trabalho comprometeriam a certeza de julgamento.
No caso de presidente da República, ministros de Estado, deputados e senadores, as ações seriam
julgadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Governadores
passariam a responder perante o
STJ (Superior Tribunal de Justiça), e prefeitos, nos Tribunais de
Justiça de cada Estado.
Os grandes beneficiados pelo
projeto serão os prefeitos, o principal alvo das ações de improbidade administrativa e a maior
preocupação dos membros do
Ministério Público.
As administrações municipais
estão sujeitas hoje à fiscalização
direta do promotor que atua na
cidade. Com o projeto aprovado,
o controle ficará nas mãos do procurador-geral de Justiça do Estado, que acompanhará à distância
o desempenho de cada uma.
O foro privilegiado existe supostamente para garantir que o
agente político tenha plena liberdade de decisão, ou seja, adote
medidas sem receio de problemas
judiciais futuros. Entretanto
membros do Ministério Público
pressionam pela rejeição do texto,
porque afirmam que ele representará na prática a impunidade.
A votação de hoje resultou de
uma bem-sucedida articulação do
governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso, que obteve na
última hora o apoio da bancada
do PT na Câmara para eliminar
um obstáculo à rápida tramitação
do projeto.
O texto amplia para as ações de
improbidade o chamado foro privilegiado, que significa a proteção
concedida a autoridades contra
processos na primeira instância, e
o preserva depois que a autoridade perde a função pública. A votação está prevista para amanhã.
Fracassaram outras duas tentativas recentes de adoção dessas
medidas, uma por recurso no
STF, ainda pendente de julgamento, e outra por meio também
de um projeto no Senado.
Aviões da FAB
A razão para tamanha mobilização política, na reta final do governo FHC, é a existência de 32
ações de improbidade contra ministros de Estado que deixarão a
função em 1� de janeiro. Parte deles é acusada de usar jato da Força
Aérea Brasileira para passeio.
Somente no Judiciário da União
e no Ministério Público Federal,
há 562 ações e inquéritos, sendo
448 contra prefeitos acusados de
desviar verba do governo federal,
conforme levantamento realizado
pela subprocuradora-geral da República Gilda Carvalho.
Dos 4.753 registros de ações judiciais ou inquéritos civis, 4.191
estão em curso no âmbito dos Estados, segundo apuração da Procuradoria Geral de Justiça do Paraná em todo o país. Os dois levantamentos foram entregues aos
ministros do STF.
O projeto prevê a ampliação para as ações de improbidade do foro privilegiado, existente para
ações penais e por crime de responsabilidade, e a preservação
dessa proteção depois que a autoridade deixar o cargo público, no
caso de a acusação estar relacionada à função que ocupou.
Os defensores do projeto dizem
que procuradores e promotores
estão usando a ação de improbidade como instrumento de perseguição política. Ela prevê punições severas, como a perda da
função pública e a suspensão dos
direitos políticos.
O governo desistiu da aprovação do projeto anterior sobre foro
privilegiado por causa da reação
negativa à outra norma prevista
nele: a criação da chamada "mordaça", ou seja, a proibição de que
juízes, procuradores, promotores
e policiais dessem, durante as investigações, declarações que fossem consideradas ofensivas.
Se for aprovado, o projeto segue
para sanção presidencial. Caso receba alterações, volta para a Câmara, que, como Casa de origem,
tem a palavra final e pode desfazer
as alterações.
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